Entrevista. Rui Tavares: “Os historiadores deveriam desempenhar um papel mais confiante no espaço público”

por Os 230,    14 Junho, 2022
Entrevista. Rui Tavares: “Os historiadores deveriam desempenhar um papel mais confiante no espaço público”
Rui Tavares / DR
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Rui Tavares é o deputado do LIVRE que veio trazer o partido de volta à Assembleia da República nesta VX legislatura, que considera ter o dever de “debater o futuro do país, (…) reatualizar os valores do 25 de abril e, de certa forma, criar metas mais ambiciosas”.

O deputado quer assumir no LIVRE um papel de representação dos portugueses e de fiscalização do Governo, com espaço para a intervenção pelas causas ecológicas, europeias e da democracia.

Um olhar à esquerda

Nascido em 1972, dois anos antes da Revolução do 25 de abril, conta que cresceu num contexto familiar “com uma noção muito grande daquilo que o voto tinha custado a conquistar” e com uma curiosidade literária pessoal que marcou o seu gosto pela política e pelo “interesse por uma esquerda mais libertária, da ecologia, da construção europeia”, que considerava faltar em Portugal.

Formou-se em História e dedicou algum do seu tempo à escrita de crónicas e livros. Apesar de acreditar que a sua verdadeira vocação é ser historiador, estava na altura de “sair da zona de conforto e travar um desafio que era muito importante, tanto na fase do país em que estávamos, como na fase da vida do LIVRE” e, com este mote, chegou ao Parlamento.

O deputado assume que, para o partido, este é um “regresso depois de uma primeira passagem pelo parlamento que foi atribulada”, mas mostra determinação em agarrar esta “segunda oportunidade” e “mostrar porque é que o LIVRE é necessário”.

As novas metas, 50 anos depois do 25 de abril

Ao procurar definir metas ambiciosas para o país, Rui Tavares refere que acredita na capacidade de Portugal se tornar “numa elite de serviços europeia e atlântica”. Através dos desenvolvimentos neste sentido, prevê uma economia com “mais injeção de conhecimento, de tecnologia, de valorização das pessoas e do território, de forma a que cada coisa que nós produzimos tenha mais valor acrescentado e permita subir os salários, ter uma segurança social mais sustentável (…) recolher impostos que financiem serviços públicos de maior qualidade, que tornam o país mais atrativo”.

Para além disso, sublinha a potencialidade da força de trabalho nos próximos 10/20 anos, “integralmente composta por gente formada depois do 25 de abril (…) e depois do Portugal europeu”, que apresentará níveis de qualificação próximos dos parceiros europeus. Considera isto uma oportunidade única para um “povo que tem um grau de civismo assinalável” e que “já é, mas tem de trabalhar ainda mais para ser acolhedor”.

A nova era histórica – A guerra, Portugal e Europa

A entrevista a Rui Tavares antecedeu o discurso do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, na Assembleia da República e, por isso, o deputado refletiu acerca dos impactos da guerra em Portugal, na Europa e no resto do mundo. Afirma: “Acabou a fase do pós-guerra, seja na sua primeira modalidade, que foi da Guerra Fria, seja na fase pós-queda do muro de Berlim. E agora ainda está tudo por escrever”.

É com este cenário que Rui Tavares atenta na importância da União Europeia para Portugal, que permite que países pequenos e médios tenham “esperança de ter uma voz na globalização” e “autonomia estratégica em que os cidadãos contem e que os direitos fundamentais estejam defendidos”. Do mesmo modo, considera que é através da unidade europeia que é possível a recusa ao neoimperialismo de Putin e o “regresso aos horrores do século XX e mais atrás ainda”.

Posto isto, o deputado do LIVRE chama a atenção para a necessidade de Portugal participar em decisões que vão para além de condenar a invasão de Rússia à Ucrânia e trazer, de facto, ideias de como, por exemplo, evitar financiar o esforço de guerra russo e auxiliar a reconstrução do país invadido.

O grande debate nacional

Para deixar uma mensagem aos portugueses, Rui Tavares lança o desafio de criar um novo modelo de desenvolvimento do país a partir de um “grande debate nacional”.  Ao serem escolhidos os setores da economia a privilegiar, as metas a cumprir e “se Portugal debater seriamente os próximos 50 anos da nossa democracia, nós podemos dar um pulo em termos de desenvolvimento”.

O deputado conclui que “no fundo, nós sabemos que é possível ser feliz nesta terra, mas falta ainda qualquer coisa e essa qualquer coisa ninguém nos vem trazer de presente, temos de ser nós a criar”.

Artigo escrito por Joana Teles Ferreira, colaboradora do Projeto Os 230.

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