Entrevista. Jamila Madeira: “É preciso acreditar e sobretudo sair do sofá”
É com o objetivo de continuar a dar a conhecer os deputados da Assembleia da República que o projeto Os 230 divulga a 13ª entrevista. Francisco Cordeiro de Araújo, fundador da iniciativa, conversa com a deputada do Partido Socialista (PS) Jamila Madeira, que deixa uma mensagem aos portugueses focada na importância da mobilização: “é preciso acreditar e, sobretudo, sair do sofá”.
Com um nome invulgar, a deputada do PS começa por explicar a razão dos seus pais terem optado por Jamila. Os “conflitos franco argelinos geraram múltiplas vítimas” e durante este período uma estudante argelina que combateu contra os franceses de seu nome Jamila teve particular destaque com um livro publicado pela sua advogada e outra autora. Os pais da deputada tiveram conhecimento da obra e foi neste contexto que decidiram optar por dar o nome de Jamila à sua filha.
É nesta referência à infância que a deputada do PS recorda os tempos que viveu em Loulé, Algarve, definindo-o como “um concelho suficientemente pequeno para ser suficientemente livre, mas suficientemente grande para ter oportunidades”. E que outras vantagens vê Jamila Madeira em ter nascido em Loulé? Para a deputada permitiu-lhe ter uma “amplitude de visão” que a ajuda em muitas decisões.
Licenciada em Economia, é aos 18 anos que Jamila Madeira se muda para Lisboa, indo estudar para o Instituto Super de Economia e Gestão. Apesar de considerar esta decisão como uma “mudança radical”, admite que se adaptou bastante bem à nova realidade, participando ativamente na vida académica.
Filha do antigo deputado Luís Filipe Madeira, Jamila Madeira considera que a ligação do pai à política a “mobilizou para essa responsabilidade”, apesar de várias tentativas do próprio para a demover deste caminho. Foi útil para perceber que existe uma “responsabilidade cívica e política da nossa intervenção e ação e não da omissão”, garante.
Quanto ao marco que a faz entender realmente a sua ideologia política, a deputada do PS não tem dúvidas em afirmar o “conflito político presidencial entre Freitas do Amaral vs Mário Soares”, apesar de na altura ainda ter uma tenra idade. Anos mais tarde teve a oportunidade de explicar isso mesmo aos dois políticos portugueses.
Percurso profissional da deputada do PS: da Economia à Saúde A deputada do PS considera que esteve envolvida num processo que contribuiu para que “o mundo fosse um bocadinho mais justo”: a extinção da PGA, a antiga prova do final do ensino secundário que considerava um “instrumento de avaliação discriminatório e injusto”. Através do diálogo entre escolas e de movimentos na rua foi possível reverter essa situação.
Jamila Madeira recorda ainda a sua primeira eleição para secretária-geral da Juventude Socialista (JS), com tudo a decidir-se por um voto. Tendo já passado por uma situação semelhante, mas desta vez do lado do “derrotado” e com três votos de diferença, a deputada garante que neste tipo de casos a “responsabilidade de agregar e não de fraturar” é ainda maior.
E como define dia a dia de um deputado? Entre as várias funções referidas na entrevista, a deputada destaca, por exemplo, a participação em múltiplas comissões, surgindo, daí, a iniciativa de oposição ou legislativa. “Somos deputados da nação e produzimos legislação para a nação”, explica.
Quanto ao momento que mais a marcou enquanto deputada, Jamila Madeira recorda a promoção da petição nacional contra o fim do crédito bonificado, quando ainda estava a exercer funções na JS. “Foi a segunda petição com maior número de subscritores no país, quando ainda há muito pouco tempo tinha sido iniciado esse processo de mobilização cidadã no quadro parlamentar”, explica.
Para a deputada do PS é essa sinergia que se procura alcançar: “que o Parlamento responda a uma realidade de cidadãos, sem que se deixe amordaçar ou constranger por visões que, às vezes, estão deturpadas ou que queremos conduzir de uma maneira diferente”. Por isso, esclarece que “a última coisa que pode acontecer a um Parlamento é estar de costas voltadas para o cidadão”, tendo em conta que “é desse processo, diálogo e interação que se melhora a democracia”.
Neste contexto, Jamila Madeira defende que o pior que se pode efetivamente passar no Parlamento é existirem discursos que acabam por resultarem em nada. “Isso é visto negativamente pelo cidadão, que desliga e deixa de nos ouvir”, afirma.
Numa entrevista em que recorda o seu percurso profissional na REN, Jamila Madeira fala ainda do cargo que ocupou até setembro de 2020, enquanto secretária de estado adjunta e da Saúde. “Um ano de executivo valeu por quatro”, afirma, numa altura em que a pandemia não deu tréguas.
“Verão Quente de 1975”: as escolhas da deputada do PS
Na segunda parte da entrevista, Jamila Madeira revela quem para si é o melhor português de todos os tempos, acabando por fazer referência a duas figuras: Infante Dom Henrique e Mário Soares. Quando questionada sobre o que retira de positivo de 2020, a deputada destaca a aprendizagem.
Nos vários dilemas apresentados, entre humildade e ambição escolhe a primeira opção, confessando que prefere cães a gatos. No campo da política, Jamila Madeira opta por Joe Biden e não Hillary Clinton, enquanto na área musical os Queen são os preferidos da deputada, e não os ABBA, apesar de ser uma decisão difícil. Nelson Mandela é a figura histórica que mais a inspira e, é também neste sentido, a pessoa com quem a deputada gostaria de ter jantado, mas nunca teve essa oportunidade.
Defendendo que um diálogo genuíno é a forma de se aproximar mais os eleitores dos eleitos, Jamila Madeira deixa uma mensagem de esperança aos portugueses: “é preciso acreditar e sobretudo sair do sofá”. “Uma sociedade mobilizada e empenhada em resolver os problemas fará com que Portugal seja um país com um grande futuro pela frente”, conclui.
Artigo escrito por Ana Filipa Duarte, colaboradora do projeto Os 230.