Entrevista. Nicklas Brendborg: “O envelhecimento é como se fosse o único inimigo comum que todos nós humanos partilhamos”

por Linda Formiga,    17 Julho, 2024
Entrevista. Nicklas Brendborg: “O envelhecimento é como se fosse o único inimigo comum que todos nós humanos partilhamos”
Nicklas Brendborg / DR
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A busca pela juventude eterna é, como se diz em bom português, mais velha do que a Sé de Braga. Profícua em mitos e lendas, um dos exemplos desta procura intemporal remonta à Grécia antiga, à sua Deusa Hebe e da sua bebida ambrosia (que em grego antigo significa imortalidade), que conferia longevidade ou imortalidade a quem a bebia.

Desde aventureiros em busca da Fonte da Juventude, como Ponce de León, a Paracelso, alquimista suíço-alemão que tentou criar a pedra filosofal que se acreditava proporcionar imortalidade, a procura pela juventude eterna e pela imortalidade anda de mãos dadas com a História e está expressa em variadas formas de expressão artística. Na música, os Alphaville levam-nos a cantarolar “Forever young, I want to be forever young/Do you really want to live forever?/Forever, and ever”. Se quisermos enveredar por um tom mais ‘sóbrio’, podemos ouvir, num tema com o mesmo nome, Bob Dylan com “May your heart always be joyful/May your song always be sung/And may you stay forever young”. Já na literatura, os exemplos são vários. Se em Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, é feita uma reflexão entre a busca pela juventude eterna e a moralidade, do outro lado do Atlântico, Mark Twain declarava que “a vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer com oitenta anos e nos aproximássemos gradualmente dos dezoito”. É esta ideia de inversão do envelhecimento que F. Scott Fitzgerald explora em O Estranho Caso de Benjamin Button, romance transformado em filme, onde o protagonista, Benjamin, nasce com o aspecto de 80 anos e vai rejuvenescendo com o passar o tempo.

O livro As medusas envelhecem ao contrário (ed. Contraponto) de Nicklas Brendborg foi recentemente lançado em Portugal. Nicklas Brendborg, 25 anos, dinamarquês, é um dos mais promissores cientistas do nosso tempo e, se este ‘cognome’ parece algo pomposo, a sua abordagem ao seu objecto de estudo é a de desmistificar e aproximar a ciência a um público mais leigo que é constantemente bombardeado por fórmulas mágicas, muitas vezes inócuas. Nicklas Brendborg inicia o seu livro com um resumo de estórias e mitos da busca incessante pela juventude eterna, para depois nos apresentar exemplos de organismos vivos que existem na Natureza e que parecem comprovar que a teoria de envelhecimento reverso de Benjamin Button pode não ser assim tão rocambolesca, especialmente se estudarmos alguns seres vivos que coabitam o nosso planeta, como a Turritopsis, uma medusa minúscula que passa várias vezes da fase adulta à fase de pólipo (infantil, se assim o pudermos dizer), num vaivém que, em condições de absoluta segurança, poderia transformar a Turritopsis num organismo imortal. Mas a missão de Nicklas Brendborg vai além de apresentar exemplos curiosos. Quer mostrar que o Homem pode viver mais e melhor com relativa facilidade, sem mezinhas ou fórmulas acessíveis apenas a alguns. E que alguns suplementos que se dizem milagrosos, como é o caso dos antioxidantes, do óleo de peixe ou de vitamina D, podem não só ter efeito placebo como podem ser nocivos.

Encontrámo-nos com Nicklas Brendborg na livraria mais antiga do mundo, a Bertrand do Chiado. Falámos sobre longevidade, excesso de população e do facto de, nas águas do Atlântico Norte, viver ainda um tubarão-da-gronelândia que já era adolescente quando no nosso ponto de encontro se começou a vender livros, em 1732.

No seu livro fala da medusa Turritopsis e do seu mecanismo do tipo Benjamin Button. Porque é que começou a estudar este organismo e o que chamou realmente a sua atenção?
O objetivo era descobrir por que razão envelhecemos e retardar esse processo. Quando olhamos para doenças como o cancro, as doenças cardiovasculares, a demência, que são, na Dinamarca e também em Portugal, as principais causas de morte, podemos estar a tentar tratar um tipo de cancro, podemos tentar tratar a demência, mas ao fazê-lo, estamos só a conseguir tratar uma doença. Porque o verdadeiro problema é que envelhecemos, o verdadeiro problema é que temos um corpo velho. E um corpo velho pode ficar doente por milhares de coisas diferentes, logo, sempre que se cura uma doença, as pessoas apanham outra. E se abrandássemos o processo de envelhecimento? Assim, poderíamos diminuir o risco de todas estas doenças de uma só vez. Mas quando se fala nisso, há sempre quem diga que isso não é possível e que o envelhecimento é uma lei da natureza. É por isso que tenho aqui os animais. Podemos referir, por exemplo, o tubarão-da-gronelândia, que pode viver 400 anos, tem cérebro, coração, sistema cardiovascular, fígado. Basicamente, a maioria dos sistemas de órgãos que temos num ser humano também temos neste tubarão. Mas quando um humano morre de envelhecimento aos 80 ou 100 anos, este tubarão ainda nem sequer é um adolescente. E depois vive até aos 400 ou 500 anos. Também se pode dizer que há animais que vivem mais tempo do que os humanos e há, obviamente, outros que vivem menos tempo. Mas também há animais que envelhecem de outra forma. As lagostas, por exemplo. Quando os humanos envelhecem ficam cada vez mais fracos. Quando uma lagosta envelhece, quanto mais velha é, mais cresce. Torna-se mais forte, mais fértil. Isso é como uma prova de que podemos viver mais tempo e podemos passar a vida sem envelhecer. E, no fim, temos a medusa Turritopsis. Que na fase adulta, se a stressarmos, se quisermos dar-lhe pouca comida, encolhe e volta à fase de pólipo – é como se víssemos uma borboleta que volta a ser uma lagarta. Depois cresce de novo. Normalmente, se não a fizermos rejuvenescer, ela vive dois ou três meses, se a fizermos rejuvenescer, pode viver praticamente para sempre. Portanto, é imortal do ponto de vista biológico.

Podemos viver mais tempo, menos tempo, envelhecer de repente, envelhecer lentamente, envelhecer ao contrário, não envelhecer de todo. Há todos estes padrões diferentes.

Tubarão-da-gronelândia / Fotografia via Wikipédia

Quais são os mecanismos biológicos do envelhecimento que considera realmente importantes para a investigação?
Essa é uma boa questão porque, de momento, a verdade é que não sabemos exatamente o que acontece quando envelhecemos. Podemos ver os sintomas do envelhecimento. Os cabelos brancos, as rugas, a fraqueza e todas essas coisas. Mas quando se faz uma análise mais aprofundada, há algumas coisas que sabemos que correm mal, mas não temos uma visão global.

Por isso, penso que é mais interessante estudar o que estamos a perder. O que está a acontecer? Porque quando soubermos, podemos conceber um tratamento que possa parar o envelhecimento. Quando se fala da ciência do envelhecimento, há muito sobre uma coisa chamada telómeros, que é uma estrutura na célula, sobre a qual também escrevo. Não é tudo, mas estes tendem a encurtar com a idade e há a ideia de que ao prolongá-los isso ajuda um pouco. Depois, há algo que descrevo como o sistema de lixo da célula, que abranda. Se olharmos para as células velhas, vemos que é uma espécie de cemitério microscópico onde há todo este lixo a flutuar. E pensámos que isso se devia ao facto de as células velhas gerarem mais lixo, mas o mais provável é que o sistema de recolha de lixo se torne preguiçoso. Assim, quando geramos lixo, este não é suficientemente removido e, ao longo dos anos, vai-se acumulando. A função da célula piora e começamos a mostrar sinais de envelhecimento. Estas são duas das coisas, mas também há outras e mesmo assim ainda não conhecemos o quadro completo.

“As medusas envelhecem ao contrário” (ed. Contraponto), de Nicklas Brendborg, tem tradução (a partir da versão inglesa) de Rute Mota e revisão de Daniel Lourenço Santos

Vivemos mais e melhor, bastante melhor do que há um século.
De um modo geral, se olharmos para as regiões do mundo onde a vida é mais longa, a tendência é para ser nas regiões mais ricas. Mas a Europa do Sul e a Ásia Oriental, em particular, têm estatísticas muito boas. Portugal não está assim tão bem posicionado, mas se olharmos para os dados da UE, o Norte de Espanha, o Sul de França e o Norte de Itália e a Suíça são, em conjunto, as regiões com mais pessoas longevas.

“Quando os humanos envelhecem ficam cada vez mais fracos. Quando uma lagosta envelhece, quanto mais velha é, mais cresce. Torna-se mais forte, mais fértil. Isso é como uma prova de que podemos viver mais tempo e podemos passar a vida sem envelhecer.”

Há quem tente desafiar o envelhecimento, como é o caso do Bryan Johnson. Acredita que estamos perto de descobrir uma “cura para o envelhecimento”?
Acho que ele acredita mais que a inteligência artificial será tão boa dentro de algumas décadas que todos os problemas do mundo ficarão resolvidos. Por isso, ele quer estar vivo para ver isso e é por isso que ele está a tentar ser o mais saudável possível, pois acredita que quando lá chegarmos, podemos pedir a esta inteligência artificial para curar o que quisermos. Portanto, é um pouco ficção científica. Mas ele é realmente um tipo saudável. É americano e muita da forma como é apresentado é muito americana. Mas, cientificamente, algumas coisas são um bocado dúbias. Muita coisa é boa, é um tipo que come de forma extremamente saudável, faz exercício a toda a hora e dorme na perfeição. Então, perguntamo-nos: “OK, claro que isso nos vai tornar saudáveis”, mas de que forma é que o que ele faz é superior quando comparamos com o que fazemos normalmente.

O podcast número um em saúde e fitness é o Huberman Lab.
Há muita comunicação científica de qualidade neste momento, o que é bom.

A ciência está bastante acessível, é fácil consultar textos científicos validados e comprovados por pares. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas estão a afastar-se da ciência. Há descrença na ciência. É quase um paradoxo.
Penso que há provavelmente um aspecto de classe nesse problema. Em parte, é um conflito de classes, em que talvez haja uma parte da população que se sente deixada para trás. E aí podem dizer “que se lixe tudo o que estas pessoas me dizem”, mesmo que seja completamente lógico.

Medusa Turritopsis / Via Wikipédia

Acha que é essa parte que é esquecida?
Quer dizer, nos EUA é como o segmento Trump, onde a política é assim. E é do género: não quero ser vacinado e não quero acreditar em nada do que estas pessoas me dizem. Vou fazer o contrário. Por isso, penso que é uma espécie de conflito político que acaba por se repercutir na saúde. Mas, na verdade, não se trata da questão da saúde, mas sim do conflito subjacente.

Mas, ao mesmo tempo, há também a pseudociência. Como suplementos que são vendidos com a garantia de que vai melhorar a sua pele, os seus ossos e tudo isso. No livro fala também dos antioxidantes.
A teoria do envelhecimento era que se devia a algo chamado oxidação, o que é prejudicial. Por exemplo, podemos olhar para uma célula e ver um aumento da oxidação. Não é bom para a célula. Então pensámos que podíamos anular esta oxidação usando antioxidantes. Mas acontece que, na maioria das vezes, quando temos um sistema biológico, não é assim. Por exemplo, se tivermos um relógio ou um carro, a forma como ele envelhece é porque o usamos. Por isso, ele fica com estas pequenas avarias e se acontecerem vezes demais, fica estragado. Mas, para um organismo biológico, é de facto o contrário. Se o protegermos completamente dos danos, ele fica fraco e morre. Por exemplo, se pensarmos no que aconteceria se deixássemos de nos mexer e ficássemos deitados na cama o tempo todo, os músculos desapareceriam, os ossos desapareceriam. E, como lhe falta massa óssea e muscular, ficaríamos doentes e encurtaríamos as nossas vidas. Se sairmos, por exemplo, para correr, o que acontece é que a pulsação aumenta, a tensão arterial aumenta, os músculos ficam danificados, os ossos ficam danificados, os pulmões ficam sob tensão. A razão pela qual temos dores é porque estamos a stressar o sistema. Mas depois, quando o corpo vê os danos, diz: “Muito bem, isto é um sinal de que tenho de ficar mais forte”. Assim, o corpo fortalece-se. Portanto, nos sistemas biológicos, é preciso haver um pouco de dano e é por isso que os antioxidantes não funcionam. Os danos são anulados. Por exemplo, se fizeres exercício, a quantidade de oxidação no teu corpo aumentará durante o exercício. Mas se anularmos isso também não obtemos qualquer benefício do exercício.

Nicklas Brendborg / Fotografia via site do autor

Como podemos distinguir a ciência da pseudociência?
É um desafio e nem sequer é possível. Porque uma coisa que se pode dizer é, por exemplo, “oh, basta olhar para as credenciais”. Mas quando se olha para o que tem acontecido no mundo da ciência recentemente, há, por exemplo, no campo do envelhecimento, pessoas muito boas. Mas também há pessoas que dizem disparates sobre este assunto.
Mas a ciência é assim mesmo. É incrivelmente difícil e mesmo as pessoas bem intencionadas podem enganar-se, claro.

A ciência não é um dogma.
Sim e estamos constantemente a aprender. É também por isso que houve coisas do passado, como os antioxidantes, que eram recomendados às pessoas pelas autoridades de saúde. E é importante realçar que não é porque as pessoas tenham tomado os antioxidantes e depois tenham morrido nas ruas. A interpretação é que simplesmente não funcionou. E depois, talvez haja alguns tipos de cancros e outras doenças que podem ter sido causadas por isso e que fizeram com que pessoas tenham morrido mais cedo por causa disso.

Quais os hábitos de vida que considera mais promissores?
Quando as pessoas falam comigo sobre o livro, querem saber dos suplementos. Escrevem sobre coisas como ser dador de sangue e todas essas coisas interessantes e novas. Mas é preciso ter a base correcta, que é a dieta, o exercício e o sono. Três coisas. Depois de resolver isso, faz sentido tentar perceber o que posso fazer para melhorar. Mas não faz sentido ser alguém que está sempre a comer no McDonald’s, em constante stress e nunca dorme e pensar, “oh, vou tomar estes dois comprimidos e vou ser saudável de qualquer maneira”.
Se estudarmos pessoas como os atletas olímpicos, verificamos que estes tendem a viver mais tempo do que a média das pessoas. E, geralmente, as pessoas que vivem mais tempo são as que fazem treino de resistência. Por isso, se só pudéssemos fazer um tipo de exercício, seria o treino de resistência, como correr, andar de bicicleta, praticar um desporto como futebol. Mas depois podemos ver que há benefícios adicionais se acrescentarmos o levantamento de pesos. E, paradoxalmente, talvez ainda mais se for mulher – porque muitas mulheres têm problemas nos ossos, como a osteoporose, quando envelhecem. Os ossos também são como os músculos. Quando carregamos peso sobre os ossos, temos estes pequenos danos nos ossos, mas é isso que os torna mais fortes no final. Quando envelhecemos, temos uma diminuição da massa muscular e da massa óssea, mas, ao fazer levantamento de pesos, podemos garantir que a diminuição não é tão íngreme, que tem uma descida mais lenta.

Estamos a enfrentar alguns problemas na alimentação. A fast-food é extraordinariamente barata, a comida de melhor qualidade não é assim tão acessível a todos. Se quisermos dar um conselho para se comer bem e barato, o que poderíamos dizer?
Esse tema é, na verdade, o meu segundo livro. Este é o primeiro livro de uma trilogia de livros. Este é sobre a vida longa e é sobre a investigação do envelhecimento. O segundo livro, que acabou de sair em dinamarquês e que também acabámos de publicar em neerlandês, aborda temas como este. Esse livro começa com uma pequena história sobre um passarinho minúsculo, que põe estes pequenos ovos ligeiramente azuis, mas não é uma cor muito forte, apenas um pouco. Então, os cientistas descobriram que se pode fazer um ovo falso, muito grande, de gesso ou algo do género. Depois podemos comprar a cor azul mais forte que conseguires encontrar. E quando se pinta este ovo de forma que seja realmente brilhante e grande, e se coloca ao lado do ovo normal, o pássaro vai preferir tentar sentar-se no ovo grande e colorido em vez do seu ovo normal. E isso acontece porque, por natureza, esta ave está programada para ser atraída por ovos grandes e azuis, porque quanto mais saudável é a fêmea, maior e azul é o ovo. Mas, claro, podemos facilmente exagerar isto.

E esse é um problema que também temos com a fast-food, por exemplo. Os seres humanos são, por exemplo, atraídos por coisas que têm um sabor doce, porque temos uma longa história de comer, por exemplo, fruta da floresta tropical. Mas agora podemos fazer coisas que são muito mais doces do que alguma vez poderíamos fazer, e nós, tal como o pássaro, não temos um limite para o nosso instinto. Por isso, quando se junta uma tonelada de açúcar, que é muito, muito barata, obtemos um super-estímulo. E então vemos que a parte do cérebro que regula o apetite sai completamente dos eixos e acabamos por comer demasiado. O mesmo acontece com o sal, o mesmo acontece com a gordura. Especialmente quando se combinam estas coisas, obtém-se este enorme aumento em que não são só as pessoas que engordam com estes alimentos. Se olharmos para os ratos que vivem nas cidades, eles têm vindo a ganhar peso juntamente connosco durante o último meio século. O mesmo acontece com todos os nossos animais de estimação. E toda a gente que come aquilo a que se chama comida ultra-processada, que é concebida por cientistas alimentares para ser realmente gratificante. Por isso, eu diria para cortarmos com a fast-food. Se a comida é feita numa fábrica por uma empresa, é feita por cientistas alimentares que tentaram estudar como podem tornar esta comida tão viciante quanto possível. Quanto mais comida for comprada, mais dinheiro ganham e, por esse motivo, estudam como afecta o cérebro e tentam atingir esse ponto, que se chama ponto de êxtase, ou o ponto em que se consegue fazer com que o animal coma a maior quantidade de comida possível, porque é a maior quantidade de lucro. É disso que falo no segundo livro, sobre a epidemia da obesidade.

Quais são também os dilemas éticos que surgem quando falamos do prolongamento da esperança de vida? Neste momento, somos 8 mil milhões.
Sim, mas se olharmos para a taxa de fertilidade em Portugal ou na Dinamarca ou em qualquer outro país ocidental, esta é inferior a 2,1, que é o ponto em que se teria uma população estável a longo prazo. Isso significa que, sem imigração, a população da Dinamarca e de Portugal estará a diminuir.

E, antigamente, pensávamos que isto era algo que só acontecia nos países ricos da Europa. Mas se olharmos agora para a América Latina, está a acontecer a mesma coisa. Na Ásia, está a acontecer o mesmo. Acabou de acontecer na Índia, o país mais populoso do mundo. Eventualmente, a população está a diminuir. E o único lugar onde ainda não aconteceu foi sobretudo em África, a sul do Saara, mas podemos ver que as taxas de fertilidade estão a diminuir. Portanto, é apenas uma questão de tempo até que aconteça o mesmo. Por isso, na verdade, não creio que venhamos a ter o problema do excesso de população.

Vamos ter o problema oposto. Vamos ter uma população que está a diminuir e em que muitas das pessoas são muito idosas. Por isso, é claro que queremos que essas pessoas se mantenham por cá mais algum tempo e sejam saudáveis.

Daqui a 100 anos talvez a população mundial diminua?
A China está a cair. A Coreia do Sul está a diminuir. Muitos países como a Alemanha também estão a diminuir, penso eu. Num país como a Dinamarca, por exemplo, estaríamos a diminuir, mas estamos a receber imigração. Portanto, estamos a aumentar artificialmente. Porque, nesse caso, o país que envia os imigrantes pode estar a cair.

Na Dinamarca há bastantes pessoas de origem turca. Dizemos que existe uma grande população na Turquia, por isso podemos convidá-los a vir. Mas agora a Turquia está na mesma situação em que não recebe e também não tem uma população sempre a aumentar. Essa população também estará a diminuir. Assim, a reserva de imigrantes está a diminuir.

Em dez anos, penso que muitos dos países da África a sul do Saara também estarão abaixo dos dois, algo que parece apenas acontecer quando um país fica suficientemente rico.

Olhando para alguns dos casos realmente maus, por exemplo, a Coreia do Sul, onde a taxa de fertilidade é inferior a um, tal significa que a cada geração a população diminui para metade. Imaginemos então que alguém da minha idade tem dois pais. E talvez eles estejam na idade de se quererem reformar em breve. E todos os seus avós ainda lá estão. Depois, há umas seis pessoas nesta pirâmide acima de mim que tenho de sustentar com uma pensão, porque eles já não são capazes de trabalhar. Mas se vivessem melhor poderiam continuar a trabalhar. Por isso, não acho que seja um problema. Acho que é mesmo necessário e acho que ter um melhor envelhecimento e viver mais tempo não irá contribuir para o excesso de população. Esta queda lenta da população vai acontecer basicamente em todo o mundo.

Falamos em várias regiões do mundo e há também bastantes desigualdades económicas. Poderemos assistir a uma desigualdade na forma de abordar o envelhecimento?
Quando se trata de um novo medicamento, esse vai ser mais caro do que todos os outros e nem todos o poderão pagar. Normalmente, quando se tem direito a uma patente, é caro no início, mas as patentes expiram. E eu não me preocuparia demasiado com esse factor. Não me parece que essa desigualdade vá acontecer. A curto prazo sim, mas a longo prazo vai espalhar-se. Os países recuperam o atraso, e iremos, certamente, conseguir a adesão de todos.

Este é um tema que diz respeito a todos. Desde a pessoa mais pobre algures em África à pessoa mais rica, toda a gente envelhece. Isso também significa que é uma coisa única para os humanos, é como se fosse o único inimigo comum que todos nós partilhamos. E isso significa que se alguém faz progressos em alguma coisa, tal aplica-se a todas as pessoas na Terra.

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