Entrevista: o regresso em grande dos X-Wife

por Carla Sancho,    7 Abril, 2018
Entrevista: o regresso em grande dos X-Wife
Fotografia de André Tentúgal
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A banda de João Vieira, Rui Maia e Fernando Sousa lançou ontem um álbum homónimo, o seu 5º de originais. Com 15 anos de estrada, os X-Wife continuam a surpreender com uma sonoridade electrizante e temas cuidadosamente trabalhados em estúdio. Apesar da distância geográfica que os separa, a banda indie rock portuguesa, que viu o seu single “Movin’ Up” integrar a banda sonora da FIFA 2016, amadureceu e está orgulhosa do seu último trabalho. A CCA esteve à conversa com o João Vieira e o Rui Maia no final de uma semana certamente bem agitada.

Geralmente o álbum homónimo é o primeiro. Mas no vosso caso foi o 5º trabalho de originais, e com 15 anos de carreira.

Sim, é verdade. A questão é que faz sentido. Com 4 álbuns e um interregno de 4 anos, tinha que ser agora. É um ciclo que se fecha, depois do regresso após 4 anos e de uma pausa, chegamos a uma altura em que fazia sentido chamarmos-lhe X-Wife. Tinha que ser agora porque acaba por ser a nossa identidade.

Desde 2011 que não lançavam um álbum, mas durante estes anos fomos conhecendo alguns temas soltos. X-Wife é um conjunto de fragmentos de estórias, ou conta uma estória?

O único tema que saiu foi o “Movin’ Up”. A partir daí foi o caminho para o disco. O facto de viver noutra cidade [Rui Maia] fez com que a composição fosse diferente. O “Movin’ Up” é comum ao resto das canções. Foi um trabalho mais lento, os coros foram mais explorados por exemplo. Até 2011 foi tudo mais rápido; o primeiro álbum foi composto em 5 meses! Entre 2011 e 2015 tivemos muita dificuldade em encontrar um caminho. Sentimos a necessidade de nos reinventar. E quando isso não acontece corremos o risco de nos perder. O “Movin’ Up” tem quase um milhão de reproduções no Spotify! Mas não queríamos ter na capa um autocolante a dizer: “Inclui a música da FIFA” [risos]. Fizemos a sonoridade que queríamos fazer e sentimo-nos confortáveis com isso.

Já se questionaram algumas vezes se “vale a pena lançar um álbum”. Porque tomaram essa opção?

Se lançássemos agora um single, dizia-nos que estávamos a lançar um single de 3 em 3 anos. Sentimos a obrigação de lançar um álbum. É como um livro que tem vários capítulos, não vais lançar os vários capítulos em separado [risos]. Dá muito trabalho editar um álbum, as canções têm que fazer sentido, têm vários ambientes diferentes mas fazem sentido.

Apesar de se sentir uma continuidade no registo que vos identifica, X-Wife tem uma sonoridade electrónica mais declarada. Foi uma escolha assumida?

Foi natural. Tem a ver com a evolução. Tentamos fazer algo diferente de disco para disco. A parte electrónica foi cuidada em estúdio. E podemos desenvolver ideias sem a pressão do tempo… sossegados [risos]. Em estúdio permite estarmos mais atentos ao pormenores dos arranjos. A diferença é que trabalhamos mais as guitarras numa sala de ensaio, e em estúdio pensamos mais. Mais do que estarmos a fazer música, é o estarmos atentos ao que a canção nos está a pedir.

Fotografia de André Tentúgal

Mas não é tão orgânico…

Nos ensaios não paro de tocar teclado [risos]. Os produtores é exactamente isso que fazem, “aqui falta mais saxofone, ou aqui falta mais guitarra”. É da parte que mais gosto, do trabalho de produção [João Vieira]. É outra forma de trabalhar, em que conseguimos um resultado que nos agrada. O processo de composição é diferente, é uma ideia gravada pelo telemóvel e depois adicionamos as guitarras ou as teclas. Nós temos uma química, e por isso é fácil. O primeiro disco foi feito em 5 meses. A parte criativa custa muito [risos]. O “Movin’ Up” deu imenso trabalho, esteve em imensos estúdios. Quando ouves a música e dizes “está mais ou menos”, é porque não está aquilo que queres. Quando gravámos, ouvimos e não gostámos do resultado. Voltámos atrás e gravámos tudo outra vez, e a música saiu na FIFA! Deu mesmo muito trabalho [risos]!

Este é um álbum de canções despreocupadas. Por exemplo o tema em castelhano “Coconuts”.

Essa parte das letras é comigo [João Vieira]. Antes tinha a necessidade de complexificar as letras, mais nostálgica e depressiva. Agora gosto que as letras tenham humor. Por exemplo na “Movin’ Up”: “Love is a drug like Bryan said”. Ou aquelas pessoas que quando estão deprimidas comem queijo – tenho um amigo assim [risos] – I’m crying up on tears and cheese”. Hoje fiz um post a dizer “se não fosse o WeTransfer não tínhamos acabado isto”! [risos]. Há muita gente que detesta a 2ª feira e está ansiosa pelo sábado, estas pessoas não são felizes! Nós vamos muito a Espanha, e imaginava os espanhóis a dançarem esta música nos bares, aos gritos: “me gusta Indie”!

Os LCD Soundsystem cresceram como banda ao mesmo tempo que vocês. James Murphy vem a Portugal brevemente, e os X-Wife estarão em digressão. Vamos ter surpresas no Coliseu dos Recreios?

Os LCD também tiveram influências nossas. Eles conhecem muito bem o nosso trabalho desde o início. Quando falei com o James Murphy, aconselhou-nos salas para tocar em Nova Iorque, e disse que nos ia ver. Entretanto perdeu o metro e não apareceu. Fiquei a beber vinho tinto tristíssimo [risos]. Eram muito bons, mas já não são a melhor banda. Desde que disseram que iriam acabar e depois voltaram com um novo álbum, que não é o mesmo som… Nós tocámos com eles na Casa da Música, até chegámos a mandar fazer uma t-shirt XXL para o James Murphy, e ele tocou com ela vestida! Mas já não são a mesma banda. Mas sim, gostávamos de tocar com eles no Coliseu [risos].

Todos vocês têm outros projectos musicais. Mas passados 15 anos do lançamento do primeiro CD, qual é o balanço que fazem do vosso trabalho?

Apesar de tudo, orgulho-me do trajecto. Tem que ser bem feito. É preciso ter muito cuidado, porque podes estragar. É como escreveres uma frase infeliz no Facebook e estragares tudo. O mais importante é nós gostarmos, mesmo que sejamos só os três os fãs da banda! Acho que foi um excelente passo, o disco correu super bem. Estou orgulhoso porque levou o seu tempo, não tivemos pressões [risos].

Já estão anunciados os primeiros dois concertos de lançamento do álbum: dia 21 de Abril em Lisboa, no Estúdio Time Out, e no dia 28 de Abril no Porto, no Hard Club.

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