Entrevista. Sensible Soccers: “Há outra estabilidade emocional, as coisas são feitas de forma menos histérica, mas não menos intensa”
Com Manoel, os Sensible Soccers embarcam numa nova etapa da sua carreira. No seu quarto álbum de originais, expandem o leque de instrumentos à sua disposição e o resultado é um projecto com frescura, adaptado em cine-concerto como banda sonora de dois filmes de Manoel de Oliveira, “Douro, Faina Fluvial” e “O Pintor e a Cidade”. Há um diálogo entre obras visuais e sonoras e, descobrindo a obra do realizador, o trio nortenho desvendou outros mundos para além dos seus sintetizadores capazes de criar atmosferas singulares e catárticas.
A Comunidade Cultura e Arte, através de Bernardo Crastes e Miguel de Almeida Santos, sentou-se para falar com Manuel Justo e Hugo Gomes sobre o percurso da banda, o projecto por trás de Manoel e o sossego que é gravar música num estúdio a sério.
O Manoel vai sair precisamente 10 anos depois do vosso primeiro EP. De que formas mudaram vocês e os Sensible Soccers?
Manuel Justo: Queres responder, Hugo Gomes? [risos]
Hugo Gomes: Posso tentar responder a essa pergunta complicada. Há certas coisas que mudaram, não só no que toca à formação da banda. Desde esse primeiro EP perdemos dois elementos, o Emanuel [Botelho, baixista] e o Filipe [Azevedo, guitarrista], e entrou o André Simão e dois músicos ao vivo, o Sérgio [Freitas, teclas] e o Jorge [Carvalho, percussão]. Mas também existiu uma mudança no nosso método de trabalho. Mudámos de sala de ensaio, ficámos menos do it yourself, as nossas gravações caseiras agora só servem para efeitos de demo. Já não fazemos tantas residências artísticas internas, tínhamos um método de trabalho mais convencional. E a diferença está relacionada com o nosso amadurecimento, há outra estabilidade emocional na banda, as coisas são feitas de forma menos histérica, mas não menos intensa. Quanto à sonoridade, a principal mudança que existiu prende-se com estarmos atrás de emoções que já procurávamos mas agora de uma forma menos directa, menos óbvia, e de tentarmos ir atrás dessas coisas, não perdendo excentricidade, usando alguns instrumentos diferentes. Mas mantém-se uma ausência de pressa e a capacidade para chegar a certas coisas de uma forma simples e directa. Ao mesmo tempo fomo-nos interessando por outras coisas, há mais groove dentro da banda.
Manuel Justo: É também sobre as coisas que se mantêm, não só nas mudanças que fomos tendo ao longo dos anos. Somos uma banda que quando sentir que está a perder fulgor ou que não está a fazer aquilo como sempre nos reconhecemos, com uma certa infantilidade, deixamos. Isto descansa-me, porque passaram estes anos todos e esta continuidade faz-nos manter vivos e a continuar o trabalho. O Manoel foi muito intenso mesmo. A preparação para este disco foi muito intensa.
Como é que chegam ao “Douro, Faina Fluvial”? Foi porque foi inspirado pelo filme que já tinham musicado anteriormente (“O Homem da Câmara de Filmar”)? Ou têm alguma relação com o filme e com a obra do Manoel de Oliveira?
Manuel Justo: Já todos nós tínhamos visto e falado entre nós, e na ressaca de musicar “O Homem da Câmara de Filmar” falámos disso, surgiu essa vontade. Eram dois filmes com linguagens idênticas e que por acaso todos conhecíamos. Só que nessa altura saiu mais um elemento e gravámos o Aurora, e foi-se adiando. Lembrámo-nos de regressar a essa ideia e tivemos a felicidade de ver também que os pressupostos desse trabalho batiam certo com os do Criatório, o programa de apoio à criação da Câmara Municipal do Porto. A partir do “Douro, Faina Fluival” descobrimos a relação que ele tem com “O Pintor e a Cidade”, que é serem em tudo antagónicos e terem em comum a cidade do Porto como personagem central. Candidatámo-nos e, quando ganhámos, passámos um ano super intenso na casota a trabalhar nisto. Não foi por uma relação especial com o cinema de Manoel de Oliveira, mas com este filão de cinema de vanguarda russo dos anos 20, que influenciou o “Douro, Faina Fluvial”, e é daí que parte a ideia.
Hugo Gomes: Eu penso que nós não entrámos como grandes fãs de Manoel de Oliveira, mas saímos como grandes fãs, porque tivemos que o conhecer a fundo.
Como foi o processo de composição e gravação destas canções? Parece ter sido bastante diferente dos anteriores.
Hugo Gomes: Teve coisas em comum e teve coisas diferentes. Foi um disco que foi feito numa circunstância social e mundial única, durante uma pandemia. Quando ganhámos o Criatório, ainda não nos podíamos juntar, foi durante o primeiro confinamento. Toda a gente estava enfiada em casa, confinada, em alguns casos a impedir que os pais saíssem de casa [risos]. E nessa fase, eu aproveitei para compôr uma parte que acabou por resultar em temas que estão presentes no Manoel e que foram para a banda sonora. Quando nos juntámos, apresentei-lhes algumas dessas ideias e aproveitámos as melhores para as desenvolvermos quer para o filme-concerto, quer depois para o disco. Assim que nos começámos a juntar como banda, o primeiro trabalho que nós fizemos foi o de musicar os filmes, não foi fazer o disco. Sentámo-nos a ver os filmes e a ver que material que tínhamos podia ser explorado nessas bandas sonoras. A “Cantiga da Ponte” era uma ideia que já tinha vindo de atrás, de uma malha que o Simão tinha feito no baixo; a “Nesse Jardim Onde Só Vai Quem Tu Quiseres” era uma música que também já vinha de trás, um outtake do Aurora… Eu tinha esses elementos por explorar e começámos a adaptá-los aos filmes e a ver que partes podiam casar, a desenvolvê-las ainda dentro dos filmes e ao fim de um mês e meio tínhamos a estrutura das bandas sonoras completamente feita. Fechámos os filmes e começámos a trabalhar só nas músicas, a levá-las até ao seu melhor, até nos sentirmos sossegados com cada uma das músicas e com o disco no seu todo. Neste processo entre fechar as bandas sonoras e trabalharmos exclusivamente no disco, criámos mais dois ou três temas que acabam por não estar incluídos na banda sonora e existem no disco. Depois fomos para estúdio, já nessa fase havia trabalhos que tínhamos feito para sopros e decidimos convidar músicos para tocar flauta transversal, saxofone, etc. E depois foi um mês de loucos a misturar o disco, a masterizá-lo, que esse processo para nós é sempre muito intenso. [risos]
Disseste, Manuel, que os dois filmes formam um par antagónico. Acham que isso também está presente no álbum? Há temas que sejam um reverso um do outro em termos de sonoridade ou experimentação? Por exemplo o tema “Avenida Brasil” é mais mexido e alegre, poderia ser o reverso da moeda de “Fim” ou “Pássaros”?
Manuel Justo: A “Fim” é o quarto tema do disco e é a música que fecha o cine-concerto, e que acompanha o trecho final d’”O Pintor e a Cidade”, uma parte mais melancólica e emotiva, e nós musicámos assim. A “Avenida Brasil” surge num momento quotidiano em que estão pessoas na Baixa a caminhar, na correria do dia-a-dia, uma coisa mais leve. Acho que esse antagonismo vai-se sentindo entre vários momentos dos filmes. A “Avenida Brasil” é uma música que era incapaz de ser feita no contexto de musicar o “Douro, Faina Fluvial”; não tem aquele ambiente. “O Pintor e a Cidade” tem, e essa música em particular muito dificilmente teria surgido se não fosse para musicar aquele momento em específico, em que precisávamos de uma música com aquela toada. Também há músicas que podiam caber nos dois filmes. Mas o “Douro, Faina Fluvial” é sobre gente mais pobre, é sobre uma temática mais dura, e “O Pintor e a Cidade” é um filme mais leve e isso talha a forma de nós fazermos as canções. E o facto d’“O Pintor e a Cidade” ser lento e o “Douro, Faina Fluvial” ser um filme de montagem, muito rápido, certamente pautou a composição das nossas músicas, se calhar indo de forma contrária ao que os filmes indicam, alentando certas composições no ritmo mais frenético e acelerando um ritmo mais lento. É uma coisa nova, porque as músicas costumam surgir-nos sem contexto, e aqui esse contexto foi fortemente induzido pelos filmes. Depois libertámo-nos deles para construir músicas que vivem por si só, e que podem ser ouvidas num disco sem as imagens.
Então a tracklist do álbum não segue os dois filmes?
Manuel Justo: Não, está tudo misturado [risos].
Referiram que o álbum vive por si só, é o quarto álbum dos Sensible Soccers e vive para além das imagens. Então porquê o Manoel como título?
Hugo Gomes: Em primeiro lugar, Manoel é o nome do projecto, que envolve fazer a banda sonora, apresentá-la ao vivo num cine-concerto e fazer um disco. Tinha também outras componentes que tiveram de ficar de fora por causa da pandemia — pretendíamos realizar um documentário do processo todo. E também já é habitual na carreira de Sensible Soccers usarmos nomes próprios para darmos nomes às coisas. O nosso disco anterior chamava-se Aurora. O projecto que fizemos em 2015 para o Teatro Maria Matos chamava-se “Paulo”. No nosso primeiro EP há uma “Fernanda”, no 8 há o “Manuel”, a “Maria Rosa” e o “Paulo Firmino”. Há uma frase muito engraçada na candidatura que o Simão escreveu em que diz que nós, com este projecto, pretendíamos tratar por tu o Manoel de Oliveira. Isto porque o trabalho tradicional de uma banda sonora para um filme estabelece uma relação directa entre o compositor da banda sonora e o realizador, vão dialogando. Neste caso, esse trabalho teve que ser imaginado. Há aqui também esse lado simbólico de tratar o Manoel de Oliveira por tu. Acho que nem sequer houve a possibilidade de chamar outra coisa.
Manuel Justo: E porque o disco não é uma banda sonora dos dois filmes, mas também não deixa de ser. E a génese de todos aqueles momentos está nos filmes. Na “Fim” a guitarra tem um delay a um determinado tempo e na sequência disso o Simão começou a fazer um riff de guitarra com os mesmos efeitos, e começámos a fazer uma música nova que é a “Bali Hai”, que não está no cine-concerto mas que está no disco. Se a “Fim” não existisse, também não existia a “Bali Hai”. Isso é o máximo de separação que uma música tem dos filmes. O resto foram músicas que foram compostas para musicar trechos dos dois filmes, desenvolvidas de uma maneira singular para estarem presentes no disco. E desenvolvemos de outra maneira para estar presente nos filmes.
Vocês são peritos nesta questão do slow burning e de construir um ambiente, mas sinto que neste álbum, principalmente em temas como a “Avenida Brasil” ou a “Nesse Jardim Onde Só Vai Quem Tu Quiseres”, vocês apostaram em coisas mais directas e rápidas. Porque é que decidiram apostar em temas mais imediatos?
Hugo Gomes: Nunca há uma decisão de “vamos fazer um tema mais rápido”, mais assim ou mais assado. Mas, não existindo isso, neste disco existiu algo mais forte do que isso, que foi estar a compor com imagens e as imagens sugerirem um registo. Como o Né [Manuel Justo] disse, a “Avenida Brasil” é uma música que surge com as características que tem porque, quando estávamos a ver “O Pintor e a Cidade”, depois daquela fase inicial em que ele está em casa, pega na tela, pega nas tintas, mete-as na mochila e prepara-se para sair de casa, há uma série de planos de barcos no Douro e um comboio a passar nas Fontainhas. Esse comboio chega a São Bento, ou seja, entra-se na cidade do Porto. Quando estávamos a ver essa parte do filme, decidimos “isto aqui precisa de uma música que seja assim, que tenha este tempo [estala dedos], que tenha este ritmo, precisa de uma coisa muito urbana, urbana anos 50″. Veio-nos logo assim uma ideia um bocadinho referenciada por algum jazz dessa altura, começou a ter compassos mais complexos — o tema mais icónico e que serve de inspiração para a “Avenida Brasil” é o “Take Five”, do Dave Brubeck; também alguns temas de bandas sonoras de filmes italianos posteriores a essa data, mas que têm um bocadinho esse feeling meio library e fomos atrás disso. Primeiro surge o ritmo, o Simão define o ritmo e o Né aparece com aqueles acordes num 5:4, isso originou a “Avenida Brasil”. A “Nesse Jardim” é um outtake do Aurora, uma música que não tinha ficado como nós queríamos, e quando estávamos a musicar “O Pintor e a Cidade”, há lá um momento em que percebemos que a música poderia funcionar e encaixar. Ou seja, são duas músicas completamente sugeridas pelo que estávamos a ver.
Manuel Justo: Eu tenho a ideia que nós já fizemos músicas tão directas quanto estas. Ao mesmo tempo, também não tenho a ideia que elas sejam assim tão directas e que sejam uma abordagem assim tão diferente daquilo que fazemos, embora não seja eu que mande em nada, não tenho é essa percepção [risos].
Hugo Gomes: É por isso que é complicado responder a essa pergunta, não é? Mas sim, eu acho engraçado. Eu entendo que tu digas que a “Avenida Brasil” é um tema mais directo, porque está ali ritmo, os acordes, a melodia, uma voz principal feita por um clarinete, depois substituída pela flauta… mas não deixa de ser uma composição, apesar de usar tiques e trejeitos muito clássicos, que tem uma espécie de… não diria “viagem”, porque não é uma tradicional “viagem” de Sensible Soccers, que normalmente é uma coisa mais heavy, mas tem um “passeio”. Passas por vários sítios, não estás apenas na Avenida Brasil.
O Manuel disse que este álbum abandona um bocado o lado mais tropical do Aurora, mas por exemplo em “Bali Hai” e em “Karamu”…
Manuel Justo: Já não se verifica! É verdade. Não ligues ao que eu digo [risos].
No que é que vocês acham que este álbum mais difere do anterior [Aurora] e o que é que acham que traz de novo a esta nova fase dos Sensible Soccers?
Manuel Justo: Acho que aquele baixo processado tão característico do Aurora está menos presente neste Manoel. Acho que é um disco que tem um lado, não sei, mais 8 [primeiro longa-duração da banda], mais do início da nossa carreira. A “Cantiga da Ponte” e mesmo a “Avenida Brasil” apontam outra diferença, que foi a gravação de instrumentos a sério: a flauta transversal, o saxofone, gravámos um piano. Por exemplo, a inclusão de guitarra em certas partes de temas deste disco, coisa que não tinha acontecido no Aurora — se calhar era de facto uma ressaca à saída do Filipe [Azevedo] e uma decisão concreta de fazer um disco e abandonar a guitarra. Talvez, por exemplo, na “Cantiga da Ponte” note-se uma toada mais erudita que também não costumávamos apresentar. Também em músicas como a “Praia da Memória”, que é um dub, um dub meio estático, que anda ali a brincar sempre do mesmo [risos]. Acho que é menos tropical e menos histérico que o Aurora. Acho que o Aurora, para o bem e para o mal, é um disco muito intenso, com pouco silêncio, com muitas ideias a desembocar noutras ideias e com muitos artifícios. Nós púnhamos muita coisa nas músicas. Aqui usámos muito poucos artifícios, as coisas valeram-se mais pela composição em si, pelos sons que queríamos para as frases que cada um tocava e as coisas ficavam-se muito por aí. Acho que isso, por exemplo, é uma diferença deste disco.
Como é que foi trabalhar com instrumentos mais clássicos? A “Cantiga da Ponte” é quase música de câmara.
Hugo Gomes: Tens de mudar de roupa, tens de aparecer no estúdio de fato e gravata, uma pastinha com umas pautas [risos]. Há dois lados em Sensible Soccers: um muito exploratório e pouco teórico, e um lado escolástico, que nos é fornecido pelo André Simão e pelo Sérgio, que prepararam os arranjos e a forma como teríamos que gravar. O Simão sugeriu o Miguel Teixeira e o Fernando Ramos para gravar os sopros, e o Sérgio tinha lá um piano ao seu dispor. Nas semanas a anteceder o estúdio, prepararam as pautas todas e foram enviadas para esses músicos treinarem essas frases. Foi um momento novo na nossa carreira, estivemos sentados numa mesa como se fôssemos o júri dos Ídolos a acenar com a cabeça e a bater palmas ao que os músicos estavam a fazer [risos]. E quando estás a ver um instrumento desse calibre, não há um cabo metido, vive pelo som que tem, há ali uma verdade que é arrepiante. E acredito que seja algo que se vá repetir futuramente em Sensible Soccers, se calhar até com outros instrumentos. A dada altura já estávamos a falar em meter um fagote e um oboé. Temos muita curiosidade em trabalhar com esse tipo de instrumentos. Nós precisamos de novidade, precisamos de mudanças. O nosso trabalho foram dez anos a explorar sintetizadores: sintetizadores monofónicos, sintetizadores baratos, caros, modernos, raros… e isso define um bocado o nosso som. Mas temos muita curiosidade em compôr coisas para posteriormente serem gravadas para outros instrumentos.
A referência aos “Jardins Proibidos” (em “Nesse Jardim Onde Só Vai Quem Tu Quiseres”) é só uma graça ou vai mais fundo que isso?
Manuel Justo: O jardim nessa música aparece porque ela surge para acompanhar uma parte d’”O Pintor e a Cidade” em que há famílias a passear no jardim. E o Hugo começou a ser muito fã de “Nesse jardim onde só vai quem tu quiseres”. E eu acho [a frase] mesmo bonita, não acho isto nada rasteiro [risos].
Hugo Gomes: Esta música foi das que demorou mais tempo a descobrir qual é que era o nome para a música. E chegou a ter outros nomes. Porque o Né dizia que esta música lhe fazia muito lembrar um estar na cama, estar muito sossegado e muito confortável. E no início andámos a explorar coisas relacionadas com dormir. Mas acho que esta frase tem essa parte, mas de uma forma mais poética.
Manuel Justo: Esta música chegou a ser “Nos Braços de Morfeu”!
Hugo Gomes: Mas durante três anos foi o “Interlúdio”! Depois foi subindo de patamar [risos].
Têm estado cada vez mais aprumados e directos quando tocam ao vivo. Que forma é que estas canções vão tomar ao vivo? Já têm alguma ideia?
Manuel Justo: Neste formato de cine-concerto, elas surgem com uma estrutura diferente, para acompanhar os filmes. Mas de seguida, estas músicas vão ser inseridas no nosso concerto normal. Por exemplo, a “23:16” é uma música que temos muita curiosidade e vontade de inserir no nosso concerto. É uma música enérgica que está a faltar para completar um ramalhete de músicas para fazer power sets mesmo bombásticos [risos]. Mas no cine-concerto aparece meia música. Quando elas estão ao serviço do cine-concerto, elas são aquilo que os filmes pedem e permitem, e nos concertos normais vão adquirir uma forma mais parecida com o que está no disco final. São músicas que vão encaixar naturalmente, como todas as músicas vão encaixando no nosso concerto sempre, onde cabem músicas que podem ir desde a “Fernanda” à “23:16”.
Depois de fazerem o Aurora, disseram que se sentiam revigorados e com vontade de fazer mais música nova. Como se sentem depois do processo deste disco?
Hugo Gomes: Com a mesma sensação. Primeiro vem aquele vazio de parires um disco, e estamos ainda numa fase importante de consolidação daquilo que é o Manoel. Durante este próximo ano, será apresentado, no ano seguinte será desenvolvido, e depois chegará naturalmente o momento em que vamos parar, descansar durante uns meses e começar a trabalhar músicas novas. A ideia é continuar a ter uma carreira pertinente e sustentável.
Manuel Justo: Essa vontade que sai do Aurora sai reforçada no Manoel. Acho que me sentia mais enclausurado dentro da nossa própria linguagem ao fim do primeiro ou do segundo disco do que agora. Vemos mais caminhos, há montes de coisas para explorar e acho que se sente isso na banda, estamos cheios de pica para continuar.
Hugo Gomes: Apesar de o processo se calhar agora estar a ser cada vez mais complexo — como pretendemos — a sua concretização tem sido mais simples. Só temos de fazer música, porque sabemos que elas ficarão bem gravadas. No início, era o cabo dos trabalhos fazer um disco. Metíamo-nos em Fornelo, alguém nos emprestava um pré-amplificador e fazia-se um disco assim, sem saber ler nem escrever. Agora já estamos um bocadinho mais tarimbados e isso sossega-nos.
Entrevista conduzida por Bernardo Crastes e Miguel de Almeida Santos
Os Sensible Soccers têm concertos marcados para o final deste ano:
– 16 Out – Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão (cine-concerto)
– 28/31 Out – Walk & Dance’21, Freamunde
– 12/13 Nov – gnration, Braga (cine-concerto)
– 10 Dez – Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha