Entrevista. Tiago Mayan Gonçalves: “O Estado português exige demais aos cidadãos e às empresas”
Depois da entrevista a Marisa Matias, Tiago Mayan Gonçalves é o segundo candidato às eleições presidenciais que conversa com Francisco Cordeiro de Araújo, responsável pelo projeto Os 230. Na conversa, aquele que é um dos fundadores da Iniciativa Liberal, revela vários detalhes sobre a sua vida pessoal e reforça ainda a sua visão sobre um Portugal diferente do de agora, no qual o poder é devolvido às pessoas.
O percurso de vida do candidato emergiu fora da “bolha política”, mas Tiago Mayan decidiu começar a criar as suas alternativas também nessa área. Estando envolvido no movimento independente que elegeu o atual presidente da Câmara Municipal do Porto Rui Moreira, o candidato foi mais recentemente membro fundador da Iniciativa Liberal, um partido português desde 2016.
Agora, cria a “alternativa liberal para a Presidência da República”. Mas qual a visão da Iniciativa Liberal? Como explica, passa por uma ideia de “libertação e devolução do poder às pessoas, no sentido exatamente contrário ao que tem sido levado nestas últimas décadas”.
Confrontado com a possibilidade de muitos portugueses não poderem votar devido a uma infeção por COVID-19 ou, caso sejam emigrantes, estejam num país com restrições que o impeçam, Tiago Mayan mostra-se preocupado. No entanto, não tem dúvidas da origem do problema.
“Temos um problema que deriva da Constituição da República Portuguesa, ao dizer que as eleições presidenciais têm de ser presenciais”. Mas isso, defende, não impede que se pense em soluções, nomeadamente através do canal digital: “o voto online deveria ter sido pensado há muito mais tempo e poderia ser uma solução, tanto para quem está no estrangeiro como quem está em situações de confinamento em casa”. No entanto, admite que soluções como estas já não irão a tempo das eleições que se realizam a 24 de janeiro de 2021.
Tiago Mayan refere ainda que a “alma do Porto é muito liberal”, algo que quer trazer para todo o país. Foi precisamente nessa região que se licenciou, numa área em que “a escolha não foi muito imediata”. Antes de entrar na faculdade, o candidato estudou ciências, mas acabou por optar pelo Direito, uma vez que “estava cada vez mais interessado em lidar com as ciências sociais, a comunidade e as pessoas”. “Foi um percurso no ponto global muito positivo”, garante.
A nível profissional, Tiago Mayan começou por estagiar para se tornar advogado. Ainda assim, tem sido na advocacia que o mais recente percurso profissional tem sido também marcado.
Como chegou, então, Tiago Mayan a candidato para a Presidência da República? Depois de ter participado ativamente no movimento que elegeu Rui Moreira, Tiago Mayan viu uma porta aberta para o mundo da política. “Descobri que havia uma oportunidade como cidadão normal de fazer algo e com sucesso”, explica. Foi neste contexto que a crença do candidato na criação de opções políticas “fora do quadro de más opções” se reforçou, culminando com a Iniciativa Liberal.
Quanto às razões que o levaram a participar na fundação da Iniciativa Liberal, o candidato explica que há uma razão de fundo mais conceptual. “Como liberal nunca me revi num dos partidos do sistema”, conta, garantindo que houve ainda um fator em concreto que levou à criação do partido, os incêndios de Pedrógão.
Para Tiago Mayan, “um liberal não defende o fim do Estado”, mas sim que o “Estado tem de estar exatamente apenas onde tem de estar, mas aí tem de ser eficaz e forte com a sua ação”. E nos incêndios o que se viu, defende, foi a “falha total do Estado onde ele deveria ter estado”.
Candidatura de Tiago Mayan: o que defende?
Para Tiago Mayan a opção que oferece não é só nova e diferente, mas também “absolutamente necessária para o país”. Considerando que “Portugal está no mesmo rumo de há décadas”, o candidato defende que a COVID-19 só veio reforçar essa questão. “Já antes da pandemia estávamos num rumo de contínua concentração de poder nas mãos do Estado, de contínuo domínio da economia em variadíssimos aspetos da vida em sociedade”, afirma, defendo que “neste momento a única alternativa a isto é a alternativa liberal”, acrescenta.
E o candidato acredita que o partido precisa também de um presidente liberal que tenha uma visão de um “Estado que não exija em termos fiscais mais do que aquilo que os cidadãos podem efetivamente dar”. Neste momento, o candidato considera que “o Estado exige demais aos cidadãos e às empresas” e defende que “as empresas só trabalham para pagar impostos e os cidadãos não têm capacidade para pouparem nem investirem”.
“Se continuarmos neste rumo o cenário e o resultado final será uma nova banca rota e eu quero evitar isso a todo o custo”, garante Tiago Mayan.
No entanto, o candidato considera que ainda existem muitos preconceitos sobre os liberais que não são verdadeiros.“Há sempre os papões liberais de que queremos acabar com o Estado e com o SNS”, confessa, considerando que são “narrativas construídas para denegrir aquilo que é a proposta liberal”. Dando o exemplo do setor da saúde, Tiago Mayan esclarece que “um liberal não tem preconceito nenhum sobre quem vai prestar os cuidados de saúde ao cidadão, mas quer que as sociedades possam escolher”, neste caso entre o público e privado.
E qual é o maior problema do país para o candidato? Reforçando questões que já tinha mencionado na entrevista, Tiago Mayan considera que “o cidadão está assoberbado com o peso do Estado”.
É neste contexto que um dos fundadores da Iniciativa Liberal não tem dúvidas quando é questionado sobre onde gostaria de ver Portugal em 2026, ano em que termina o mandato do próximo Presidente da República (PR). Tiago Mayan espera ver “um Portugal mais liberal, onde o Estado está realmente onde tem de estar”. “Só com empresas ativas, cidadãos criativos e profissionais que não tenham de emigrar e possam ficar cá e que Portugal pode ter uma esperança de futuro”, defende.
Na hora de avaliar o mandato do atual PR, Marcelo Rebelo de Sousa, o candidato também tem uma ideia bastante clara: “é um chumbo sem direito a exame oral”. Na entrevista foram ainda colocadas questões do público e, neste contexto, Tiago Mayan refere que “a política está cheia de maus políticos”.
As escolhas do candidato à Presidência da República
Na segunda parte da entrevista, Tiago Mayan responde a alguns “dilemas”. Entre as várias questões, Francisco Cordeiro de Araújo pergunta ao candidato qual o melhor PR até agora, sendo a resposta Ramalho Eanes.
E, enquanto PR, haveria algum líder mundial com o qual se recusaria encontrar? O liberal garante que não, uma vez que estaria a cumprir uma função institucional. No entanto, esclarece que isso não o inibiria de “chamar um ditador de ditador”.
Quanto a escolhas mais práticas, entre sonho e realidade Tiago Mayan opta pela segunda opção, sendo a decisão mais difícil no que toca ao campo e à cidade. Neste caso, acaba por escolher o mar.
Tiago Mayan deixa ainda claro aquilo que considera estar a faltar para aproximar mais os eleitores dos eleitos: “garantindo que não depende dos seus representantes tudo o que tenham de fazer na sua vida” e, por outro lado, assegurando que os cidadãos tenham formas de entrarem em contacto com os seus representantes.
Por fim, Tiago Mayan deixa uma mensagem de esperança aos portugueses. “A força de mudança e capacidade de progresso está neles”, considera.
Artigo escrito por Ana Filipa Duarte, colaboradora do projeto Os 230.