Erasmus? Mais e melhor!

por Cronista convidado,    28 Março, 2025
Erasmus? Mais e melhor!
Fotografia de Antoine Schibler / Unsplash

Nos últimos dias, uma notícia sobre a queda do número de participantes de estudantes de Portugal participantes no Erasmus+ gerou debate e despertou a nossa atenção. Entre os comentários, surgiram diferente visões que indagavam a causa: uns a lamentarem a falta de seriedade dos estudantes em querer aproveitar programas de mobilidade, outros destacavam as dificuldades económicas que existem na participação neste tipo de mobilidade. Diante estas posições contrastantes, consideramos essencial refletir sobre as razões que sustentam este fenómeno e o impacto que o mesmo pode ter no futuro educacional dos estudantes em Portugal.

Desde maio de 2024 que integramos o grupo de trabalho de “Inclusão Social, Educação e Jovens”  da “Comissão de Cidadãos” – projeto apartidário d’Os 230 que desafiava cidadãos nacionais a criar uma proposta de lei ou política pública para algo que gostaríamos de ver implementado no nosso país. O nosso foco foi a participação de estudantes em Portugal (“outgoing”) no programa de mobilidade do Ensino Superior Eramus+.

A nossa proposta é simples – criar um projeto-piloto que forneça um apoio financeiro direto aos estudantes em Portugal que desejem participar no Erasmus+ a par de tantos outros Estados Membros (como Espanha, Itália, Alemanha, etc.). Este apoio seria no valor de 600 euros (100 euros por mês de mobilidade) que seria entregue ao estudante após ser selecionado, mas antes de iniciar a mobilidade. Sabemos que este valor não resolve todos os desafios financeiros, mas pode ser a diferença entre um estudante aproveitar a oportunidade ou permanecer em Portugal.

Os rendimentos das famílias portuguesas serem (bastante) mais baixos que os rendimentos a média de uma família europeia (1.197,3 euros/mês a nível nacional em comparação com 1.922,30 euros/mês da média europeia), apesar do aumento galopante do custo de vida. Logo, a capacidade de um jovem português ter apoio financeiro da família para participar numa mobilidade académica internacional será mais reduzida.

A par disto, muitos jovens europeus têm a possibilidade de conseguir bolsas dos seus Estado-Membro que lhes permitem fazer face às despesas da mobilidade Erasmus. Desta forma é natural que o número de jovens portugueses participante nos programa Erasmus tenha reduzido, e que reduza ainda mais, pouco está a ser feito a nível nacional para encorajar o Erasmus.

A desigualdade é evidente: um estudante português enfrenta muito mais obstáculos do que a média europeia.

Assim surge a nossa proposta pela criação de um projeto-piloto que venha democratizar o acesso ao Erasmus e que crie um complemento nacional para os estudantes matriculados nas universidades portuguesas que pretendam realizar a mobilidade académica.

Para que mais jovens portugueses possam beneficiar plenamente da experiência Erasmus é essencial garantir condições que viabilizem essa oportunidade. Acreditamos que o progresso de um país depende, em larga medida, na sua capacidade de adaptação a desafios modernos e de aprendizagem com outros países.

Num momento tão crítico como o atual, onde o discurso isolacionista ganha cada vez mais peso, acreditamos ser fundamental fomentar uma mentalidade aberta e informada – só assim combatemos discursos extremistas e populistas, com conhecimento e vivências concretas que construam o sentimento de pertença europeu. Para que mais jovens portugueses possam usufruir de tudo o que acarta um Erasmus, desde festas, choques culturais, estudos, viagens, aprendizagens, amizades, amores e desamores.

Esta crónica foi escrita por Sara Manuela e Jorge Carmo Pereira. A Sara é Mestre em Estudos Europeus e Membro da Comissão de Assuntos Europeus do projeto ‘Os 230: Comissão de Cidadãos’ e o Jorge é Jurista e Membro da Comissão de Assuntos Europeus do projeto ‘Os 230: Comissão de Cidadãos’.

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