“Esperamos que daqui a uns anos ‘Space Pigeon’ se torne um disco de culto”
Faltava pouco mais de uma hora para subirem ao palco do Titanic Sur Mer, no Cais do Sodré, onde apresentavam o novo álbum. Por entre o fumo dos cigarros e a descontracção que os caracteriza, lá estão sentados em círculo no backstage, para me receber: Martim Seabra (guitarra), Ricardo Pereira (baixo), Filipe Fernandes (guitarra), Carl Fernandes (voz e teclas) e Diogo Braga (bateria). Falaram da colecção de discos dos pais, de música e, claro, da viagem a Inglaterra que resultou no novo disco “Space Pigeon”.
A vossa música caracteriza-se, em parte, pelas vossas influências do rock dos 60’s e 70’s. Como é que chegaram a este tipo de sonoridade?
Acho que todos nós, desde muito novos, estamos ligados por um estilo de música, e é exactamente o rock dessa época. É óbvio que temos outras influências, mas não são as mais audíveis na nossa música. As nossas bases são mesmo o rock dos anos 60 ou 70, porque as sonoridades dessa época são o que estamos sempre a procurar. Através deste álbum, “Space Pigeon”, organizámos mais as nossas ideias, e em termos de influências fomos todos buscar os 50’s, 60’s e 70’s. Queríamos fazer algo mais coeso, também com algumas influências modernas, embora as antigas sejam predominantes. As nossas influências misturam-se um pouco entre as colecções de discos dos nossos pais e aquilo que ouvimos actualmente: Arctic Monkeys, Black Keys, Ty Segall ou Tame Impala. O rock que fazemos tenta misturar um pouco todas estas vertentes para, de certa forma, criar uma cena nova.
Vocês já tocaram em vários festivais (Vodafone Mexefest, Moita MetalFest, etc.), com públicos tão variados e provenientes de géneros tão diferenciados. Como é que tem sido a reacção do público aos vossos concertos?
De palco para palco, o público é sempre diferente. Mas, por acaso, recebe sempre bem a nossa música. Depois, não temos uma audiência específica em termos de faixa etária, as idades são muito variadas, apesar de existir muita malta da velha-guarda a gostar da nossa música e a vir aos concertos. Para nós é mais fixe tocar numa sala como esta (Titanic Sur Mer) do que em festivais. Gostamos de sentir o público próximo de nós e ter um ambiente mais intimista.
Falando agora do novo álbum “Space Pigeon”, já referiram anteriormente que é um pouco como o resumo das vossas influências. Como é que foi o processo criativo deste disco?
O processo criativo foi bastante simples: vamos chegar a Inglaterra, tocamos e gravamos. Não queríamos pensar muito no álbum, queríamos chegar lá e, aí sim, começar todo o processo. Claro que já levávamos algumas ideias definidas, mas outras músicas não estavam nada definidas e acabaram por ser criadas na hora, o que deu outra magia à cena. Estivemos bastante tempo a gravar muita coisa cá e ainda não tínhamos chegado a um consenso, daí a ideia: “ok, vamos para Inglaterra com pouco material para gravar e lá termos as ideias todas”.
Como é que surgiu a oportunidade de gravarem este disco, em Inglaterra, na Factory Road Studios?
A oportunidade surgiu porque o Carl, o Filipe e o Ricardo foram da turma do André Pires (Engenheiro de Som) no secundário, que entretanto foi estudar para uma faculdade em Southampton e arranjou trabalho na Factory Road Studios. Depois, perguntou-nos se queríamos ir lá gravar. Tínhamos a carrinha, as ideias, agarrámos no material e fomos. Estávamos a pensar em mudar de ares, porque os Zanibar Aliens nunca tinham saído do país. Foi uma experiência completamente diferente gravar em Inglaterra, porque existia uma certa pressão e não tínhamos aquele conforto de sair do estúdio e ir para casa. Andámos a pensar nas músicas diariamente, íamos para o hotel IBIS compor e tínhamos pouco dinheiro. Termos gravado em Inglaterra foi um grande passo para nós, e estabelecemos um patamar, agora estamos dois anos à frente.
O que se pode esperar e até onde querem chegar com “Space Pigeon”?
Esperamos que daqui a uns anos “Space Pigeon” se torne um disco de culto. É engraçado, porque quem comprar o álbum pode reparar que não tem código de barras. É tudo feito por nós (capa, vídeos, etc.), é meio undergound e completamente DIY. Em comparação, com o “Bela Vista”, que era uma compilação de malhas antigas, entre 20 músicas, escolhemos as que iam entrar no álbum. Uma espécie de best of singles. O “Space Pigeon” não, é um álbum estruturado e pensado, com início, meio e fim. É realmente um álbum daqueles que nós gostamos de ouvir, como se fosse um vinil, quando chega ao fim queremos voltar ao início e ouvir de novo. Por isso, esperamos que comprem o álbum, porque se vender bem, vamos editá-lo em vinil.
“Sort of a Documentary” retrata um pouco a vossa road trip até Inglaterra. Essa viagem foi inspiradora para futuras composições?
Claro, cada um voltou a casa com umas 20 gravações no telefone para futuras malhas, e ainda vai sair mais um disco este ano.
Até agora, se já existirem datas, onde vamos poder ouvir “Space Pigeon” ao vivo?
Vamos agora ter uma leva de concertos no norte: Viana do Castelo, Braga e Ponte de Lima. Na primeira semana de Junho vamos tocar em Évora, Portalegre e São Martinho do Porto. Vamos também ao Sumol Summer Fest, tocar no novo palco do skate park com os Fugly e os Sunflowers.
E “The Demos”, lançado também este ano, surge através de algumas ideias que ficaram pelo caminho?
Sim, isso foram ideias que ficaram pelo caminho e que gravámos na SMUP. Resultou num EP que vai dar a volta às influências, porque cada um estava a puxar a brasa à sua sardinha e a tocar o que mais gostava. No “Space Pigeon”, foi o oposto, pensamos: “isto tem que ser mais coerente e haver harmonia entre todos.”
Qual é o vosso palco de sonho e as bandas para que gostavam de abrir?
Vodafone Paredes de Coura. Gostávamos de abrir para Ty Segall, King Gizzard & The Lizard Wizard, Pond, ou BADBADNOTGOOD.
Numa altura em que o hip hop tem surgido com vários nomes de qualidade a nível nacional e internacional, o rock continua um pouco na sombra dos clássicos de antigamente. Como é que vocês vêem a cena do rock actualmente?
Cada vez que sai uma entrevista de um músico rock mais velho, eles estão sempre a dizer: “o rock está morto”. Mas isso é mentira e nós somos uma das provas que isso não é verdade. E é óptimo as pessoas poderem ouvir o que lhes apetece… rap, pop ou rock, seja o que for, porque o público já não está assim tão segregado. O público é muito mais versátil, não vai aos concertos para ouvir géneros, vai para ouvir música, ponto final.
Para terminar, que artistas têm ouvido ultimamente?
Martim Seabra: Little Feet
Ricardo Pereira: Paul McCartney & Wings
Filipe Fernandes: Alvin Lee
Carl Fernandes: Lynyrd Skynyrd
Diogo Braga: Sixto Rodriguez
Fotografia de Alexandre Cortez