Este país também é para néscios
A seguinte redação constitui um óbice ao meu oásis emocional. A melhor forma que descortinei para desvelar o que acontece há quase três anos é esta, a escrita. E, volvido este período, quando penso de mim para mim, surjo completamente envolto naquela madrugada de 9 de novembro. Siderado, como se alguém me esbofeteasse e eu, incapaz de o cessar, esvaído em lágrimas, permanecesse hirto e inerte.
O dia seguinte encetava com a enfadonha aula de Biologia/Geologia. Porém, naquele momento era preferível desanuviar e cingir energias à compreensão dos cloroplastos ou do vulcanismo. Para meu espanto, a docente que, de modo sistemático, era a metáfora para a lentidão, alçou a alcatifa. Entra de rompante na diminuta sala de aula, fixa-se à cadeira e diz “Estados Unidos da América, temos um problema”. As sementes da lógica germinaram no meu pensamento e apreendi logo a mensagem codificada. Uma parte de mim queria embarcar no debate, a outra resguardava-se no desassossego que a embebia. O tempo voou e eu expus a minha opinião. Soltava-se uma ramificação da árvore da inquietação…
Desengane-se quem pensa que os EUA são o zénite, o firmamento composto pela ténue brisa do vento, a abundância do elixir dos deuses e a representação de cada refeição como se fosse a Última Ceia. Nenhum estado, país ou nação reúne plenitude. Contudo, a História palra por si só: o píncaro da tecnologia, o apogeu da ciência, a multiculturalidade vítrea, economicamente próspera e a maior rebelião nas diversas formas de Artes. Ninguém olvida isso, mesmo que se pretenda encarreirar pelo trilho da imbecilidade.
O reino lapidar é elementar, disso não tenho dúvidas. Da Secessão ao nefasto e vil 11 de setembro, a História edificou armadilhas vastas; no âmago da tensão político social, exibida em peripécias de tal estirpe, a resposta, perante as circunstâncias, era soberana. E, nos acontecimentos anteriores, uma peculiaridade se estendeu a todos eles: a capacidade de liderança, a autonomia sustentável e as reformas constantes no panorama político, cultural e social. Atualmente, no comando, observamos a amálgama da xenofobia e da ignomínia com a personificação de um cordeiro, um súbdito de Vladimir Putin, completamente encarcerado nas entranhas do comunismo e do retrocesso. Anticomunismo, mas preso nele. Coerência, acima de tudo!
Da campanha eleitoral até à data de hoje, torpe é a palavra indicada para designar tal processo. Primeiro, o muro na fronteira: é de uma desonestidade intelectual tamanha tais declarações pelo facto de acusar o governo mexicano de expulsar os, digamos, indesejados do seu país. Ou seja, só traficantes e criminosos é que pousariam as malas nos EUA?! Necessitados e gente que almeja um futuro risonho (ou o que resta dele), na perspetiva da mescla político-empresarial, não tentaria “arrepiar caminho e fazer-se à vida”, como é dito na gíria. A ideologia do justo pelo pecador é retrógrada, (Pato) Donald!
Depois, e algo que considero ainda mais irrisório: a nomeação de Mike Pence: não é que o paladino dos direitos LGBT+ nomeia para vice-presidente um… percursor racista, um ultraconservador de extrema direita? Mas, afinal, Trump é a favor ou contra uma das questões que lidera o panorama social do globo? Suplico por consciência: não se deixem ludibriar por aquela foto simplória que traduz, nada mais, nada menos, a tentativa de absorção da atenção juvenil, cerne do tema. Além disto, o apoio prestado a Bolsonaro, que, acerrimamente, defende os mesmos ideais e pessoa responsável pela violência constantemente exercida aos associados do movimento. A dimensão da América é avassaladora, mas o cinismo continua a ocupar o dobro do seu comprimento…
Inovação é a palavra alberga a civilização das civilizações. Até na idiotice são pioneiros, incrível. E o seu exército não desarma, de plantão nos seus discursos, hipnotizados pelo absurdo e manobrados a agirem em conformidade com o ridículo. Mentecaptos, se pensasse como vocês, até vos aconselhava a voltarem para o vosso país!