‘Every Country’s Sun’, dos Mogwai: melodias de uma longa-metragem sentimental
Mogwai é o nome dado àquelas pequenas criaturas ficcionais, bem peludas por sinal, referentes ao filme Gremlins, lançado em 1984. É deste mesmo filme que Mogwai se inspira e usa o mesmo nome para dar vida e cor à sua música. Esta banda escocesa nasceu em 1995 e regressou em 2017 com um novo álbum acabadinho de sair, que nos deixa prontos para uma nova viagem sobre os significados dos sons da vida.
Passado um ano desde o lançamento do álbum “Atomic”, chega-nos agora o álbum “Every Country’s Sun”, que reúne Mogwai com o produtor Dave Fridmann, com quem trabalharam ainda na era analógica, nos álbuns entre 1999 e 2001. Este regresso do antigo para um novo processo digital fez com que se ganha uma nova dimensão sobre a própria música da banda.
“Coolverine”, a primeira música do álbum ‘Every Country’s Sun’, transporta-nos imediatamente para a assinatura musical da banda, a calma aparece, o relaxamento ganha cada vez mais espaço, somos transportados para uma nova camada do pensamento e por lá ficamos quietos durante algum tempo. Também é nesta música de abertura que conhecemos novos sons; os sintetizadores que se misturam perfeitamente com o acordes das guitarras, as batidas que se sincronizam de forma perfeita com o ritmo das reflexões. De certa forma estas batidas também ditam uma tendência mais rock que fica muito ao de leve, mas inserida de forma subtil e moderna.
Embora as músicas apresentem calma à superfície também deixam uma teia bem profunda de ansiedade e urgência trepidante, ou reflectem um pouco do mundo confuso e estranho em que vivemos. Turbulência a cada esquina, a cada respiração do pensamento, as texturas vibrantes dos sons dos teclados também nos criam estas ideias de brevidade.
“Every Country’s Sun” é maioritariamente um álbum atmosférico, é de volta do ambiente, da fuga, e do escapismo que a música de Mogwai se foi esculpindo ao longo dos 20 anos da banda. A pacatez engana-nos e com o crescente dramático que há de música em música acabamos na inquietude, que nos garante a sede certa para querermos ouvir novamente o álbum. Passamos assim por vários estados emocionais, tudo se torna muito importante e efémero. De certa forma fica-se no céu e ao mesmo tempo no saudosismo, uma combinação perfeita para almas introvertidas que se encontrem por abstraccionismos.
Já “Party In The Dark” é a segunda música do álbum e a mais comercial das 11 músicas que preenchem o disco, esta apresenta vocais, e cria talvez por tudo isto uma proximidade familiar.
As músicas de “Every Country’s Sun” são predominantemente instrumentais, grandes labirintos de sons que se conjugam e criam a harmonia certa para um ouvido incerto. Nota-se a sinceridade destas fusões musicais que criam um trabalho que se reconhece-se como autêntico, vindo de algo intrínseco inspirado numa realidade. Uma coisa muito importante que acontece neste álbum é que cada música faz parte de uma história e funciona como um todo. Rapidamente viajas de música para música, sem nunca se perceber que existe uma ruptura entre elas: todas fazem parte de diferentes planos de um mesmo filme, tudo se encaixa e até o silêncio é vital para podermos reflectir sobriamente sobre o caos da vida.
Mais uma vez, Mogwai não nos baixaram as expectativas e trouxeram de volta toda a sua onda de flutuação abstracta. São 11 faixas repletas do minimalismo cinematográfico e de beleza melancólica.