Falta de financiamento do cinema africano condiciona o seu desenvolvimento. Tema domina o Joburg Film Festival

por Lusa,    12 Março, 2025
Falta de financiamento do cinema africano condiciona o seu desenvolvimento. Tema domina o Joburg Film Festival
“Ernest Cole: Lost and Found”, do realizador haitiano Raoul Peck
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A dificuldade em assegurar financiamento para filmes, condicionando o desenvolvimento do cinema africano, levou um grupo de cineastas a reunir-se hoje em Joanesburgo, no âmbito do Joburg Film Festival, que decorre até domingo na África do Sul.

A indústria cinematográfica africana sofre de um subfinanciamento e de falta de equipamento crónicos, apesar de o continente ser o berço da Nollywood nigeriana, que só fica atrás de Bollywood, na Índia, em termos de número de filmes produzidos, e à frente de Hollywood.

Muitos cineastas dependem de subsídios, mas isso acarreta riscos, salientou Tebogo Matlawa, diretor de conteúdos com guião na MultiChoice, o gigante sul-africano da televisão por assinatura.

“Temos de ganhar dinheiro. Esta indústria não pode ser uma indústria de subsídios, vai entrar em colapso quando os subsídios acabarem”, insistiu.

“A maior parte das nossas belas ideias morrem”, confirmou Elsie Zanele, uma estudante de cinema de 24 anos, que acrescentou: “Se não tivermos o dinheiro para as concretizar ou não conhecermos as pessoas certas, não passarão de ideias mortas”.

Os criadores tendem a mudar de um produto e de uma empresa para outra para se manterem à tona, mas, de acordo com vários participantes, beneficiariam se se concentrassem num nicho que pudessem desenvolver.

Em África, a indústria cinematográfica emprega cerca de cinco milhões de pessoas, mas poderia criar 20 milhões de empregos, de acordo com os números de um relatório da Unesco de 2021.

Lançado em 2016, a edição deste ano do festival deverá atrair cerca de 6 mil pessoas, de acordo com os organizadores, para seis dias de seminários, debates e projeções.

O festival oferece aos criadores de filmes e conteúdos a oportunidade de mostrarem o seu trabalho a clientes e produtores de televisão.

Cerca de 100 filmes de todo o continente e não só, desde longas-metragens, animação e curtas-metragens a projetos de escolas de cinema vão ser exibidos durante o festival.

A edição de 2025 inclui um documentário premiado sobre o lendário fotógrafo Ernest Cole, que documentou os horrores do ‘apartheid’ na África do Sul até ser forçado ao exílio em meados da década de 1960.
“Ernest Cole: Lost and Found”, do realizador haitiano Raoul Peck, que dirigiu o filme nomeado para um Óscar ‘I Am Not Your Negro’ sobre o escritor americano James Baldwin, ganhou o prémio de Melhor Documentário no Festival de Cannes em 2024.

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