Festival de cinema de Avanca dá visibilidade aos deslocados
Filme de mais de 4 horas, rodado durante 16 anos entre a China e o Myanmar, vai ter a sua estreia mundial em Avanca. O 26.º Avanca Festival Internacional de Cinema, cuja competição decorre entre 27 e 31 do corrente mês de julho, comemora um quarto de século sob o signo dos “Deslocados”.
O Festival anuncia que os “Deslocados são refugiados, migrantes, retornados, foragidos e até degredados, proscritos, apátridas. Deslocados pela força da ficção, sempre”., pode ler-se num comunicado.
Atentos aos grandes movimentos de deslocação de pessoas em tempo de conflitos desmesuradamente armados, da Síria, da Ucrânia, da África, para só referir os mais visíveis, o Festival de Cinema Avanca será este ano um espaço da sua visibilidade. No cinema, os filmes ampliam o conhecimento dos conflitos e a barbárie que sempre fazem gerar. No Avanca, para além de filmes, os “Deslocados” serão o tema de trabalho nas Oficinas de Criação Filmica que em cada ano marca este evento.
Estando previsto a exibição de cerca de 130 filmes, entre longas e curtas metragens vindas de países dos 5 continentes, um terá especial atenção dada a sua singularidade.
Ao longo de 16 anos, entre 2005 e 2020, o cineasta chinês Zhandong MA, com produção de Hong Kong, filmou na segunda zona especial do Estado Wa de Myanmar. Durante a reforma agrária e a Revolução Cultural na China, muitas pessoas fugiram para ali, tornando este no maior ponto de encontro da nacionalidade Han na região. Em “Nowhere People” (“Pessoas de lugar nenhum”) o cineasta centra-se nas mudanças de vida de Li Simei e Vovó Chen após a proibição do cultivo das drogas. Tempos em que os seus filhos não puderam voltar à China e as suas identidades não foram reconhecidas. Um lugar que passou a ser um sistema geopolítico marginalizado, um “enclave” sem identidade. Este longo e polémico filme de um cineasta que continua a trabalhar e morar em Chengdu (China), aborda a política, a história, as drogas e a forma como os indivíduos do “Triângulo Dourado” tragicamente se defendem. As vidas de Li e Chen, que deixaram as suas cidades natais, desaparecem com o curso da história na terra montanhosa que já foi cheia de papoulas no norte de Myanmar. Deslocados que sobrevivem onde o conceito de “nação” é apenas uma ilusão.
Zhandong MA afirma que, “Quando as drogas se tornam um mal geracional, a tragédia individual torna-se um outro “desaparecido” num contexto histórico e geopolítico complexo. Qual é o futuro de um enclave simbólico sem “nome” ou “identidade”? Uma história de sobrevivência desesperada espelha a história de uma nação. Toda a história se torna a “glória” do presente, mas os indivíduos que a carregam, trazem com eles sempre o sofrimento”.
Serão 4 horas e 15 minutos que, em estreia mundial, o Festival de Avanca irá exibir no Cinema Vida em Ovar, um dos locais onde decorre o festival, na terça-feira dia 26 a partir das 16 horas.
O 26.º Avanca inicia-se no dia 22 e as competições internacionais vão decorrer entre 27 e 31 no Auditório Paroquial de Avanca, no Cinema Vida em Ovar, e com exibições especiais no Cine Teatro de Estarreja e no Espaço Estação.Organizado pelo Cine Clube de Avanca e pelo Município de Estarreja, o Avanca tem apoio do ICA / MC, IPDJ, Turismo Centro, Junta de Freguesia de Avanca, Agrupamento Escolar de Estarreja, Paróquia e das associações de Avanca, contando ainda com o apoio de várias universidades e escolas de ensino superior do país, empresas e outras instituições da região.