Frank Lloyd Wright, o arquiteto da Natureza
Frank Lloyd Wright foi um dos grandes nomes da arquitetura num período em que o experimentalismo e o ecletismo eram notas dominantes deste ramo. Com um estilo pioneiro e moderno, o norte-americano foi um dos impulsionadores da designada arquitetura orgânica, levando esta forma de arte às pessoas e não mais somente aos peritos. Para além de se destacar através da sua produtividade e da sua vasta gama de propostas, o arquiteto foi também um inovador, fintando as escolas e os seus ditames e reforçando a virtude da espontaneidade como chave para a obra de arte.
Frank Lloyd Wright nasceu a 8 de junho de 1867 no estado norte-americano do Wisconsin, numa cidade particularmente agrícola e pouco extensa. Os seus pais, ambos professores, incentivaram a ambição do jovem, em especial a progenitora, esta que decorou o seu quarto com gravuras de imponentes catedrais inglesas. Para além disto, comprou um jogo de blocos educacionais para a família, jogo este que tinha a particularidade de viabilizar várias combinações geométricas e tridimensionais. De acordo com a autobiografia do artista, a influência deste elemento nos seus projetos foi tal que é percecionada em vários dos seus edifícios. No entanto, a estabilidade conjugal dos seus pais foi sempre colocada à prova não só com várias mudanças de local de residência mas também com dificuldades financeiras. O divórcio tornou-se inevitável e o futuro arquiteto nunca mais viria a ver o pai. Com somente 14 anos e com um talento que era assaz estimulado, Wright tornou-se no principal sustento financeiro de um agregado que contava também com as suas duas irmãs. Com 19 anos, ingressou na universidade de Wisconsin-Madison mas sem nunca findar a sua licenciatura. Moveu-se, desta feita, de malas e bagagens um ano depois para Chicago, onde se deparou com um manancial de oportunidades em virtude do enorme incêndio que transtornou a cidade uma década antes. Contratado pela empresa de Joseph Lyman Silsbee, mudaria pouco tempo depois para a Adler & Sullivan, onde seria o aprendiz principal de Louis Sullivan.
O primeiro projeto da sua autoria que viria a ganhar fisionomia foi a sua casa e estúdio, situados num terreno de Oak Park, no estado do Illinois, após se casar com a sua primeira esposa. O estatuto social da sua cônjuge ser-lhe-ia vantajoso pois pôde granjear um maior prestígio e consecutiva repercussão profissional. No virar da última década do século XIX, Wright assumiu a responsabilidade por todo o trabalho no que toca a residências da organização onde operava, apesar de, em privado, aceitar encomendas para custear despesas adicionais. O seu mentor sentiu-se desapontado com esta evidência e, por conseguinte, forçou a sua demissão. Esta saída fez com que o norte-americano potenciasse o estúdio que construiu para si e para o seu trabalho e, com isso, criou o seu próprio escritório de arquitetos. Em 1894, findou o primeiro conceito que desenvolvera de forma profissionalmente autónoma e, nos primórdios do século XX, tinha já à volta de cinco dezenas de obras edificadas.
A partir daí, e até 1917, o modelo de design do arquiteto seria substancialmente conhecido como o “Prairie House”. A denominação advinha da complementaridade que este tipo de casas tem com as paisagens do estado do Illinois e e o estilo é caraterizado pela sua horizontalidade e baixa altura, tendendo para o recurso a telhados inclinados, silhuetas simples e limpas com chaminés incorporadas e disfarçadas. Para além disso, destacava-se também pelas saliências que evidenciavam, pelos amplos terraços e pelo uso de materiais rústicos; num plano mais estrutural, este tipo de habitações veem-se livres de paredes, estimulando a funcionalidade entre as divisões internas. Entronca também neste ponto a forma de disposição do espaço interior, em que os edifícios revelavam particularidades no que toca aos materiais de estruturação e de acabamento, assim como nas aberturas. Como premissas essenciais do seu trabalho, o artista assinalava a importância da escala humana nos seus projetos, destinando a criação da casa para a satisfações das necessidades dos indivíduos e, em suma, de um país como se de um organismo vivo tratasse. É deste apontamento que emana a escola de arquitetura de nome “arquitetura orgânica”, este que rapidamente assumiria uma posição de protagonismo no panorama deste acasalamento da arte visual e estrutural. Outra das crenças mais pertinentes do estilo é a capacidade de influência que o espaço edificado tem naquele que o ocupa e, nesse sentido, assume o arquiteto como um “modelador de homens”.
No entanto, a carreira de Wright apresenta algumas variantes ao paradigma inicial da sua produção. A “Westcott House” (1907-08, Ohio, EUA) agrega traços caraterísticos da cultura oriental, nomeadamente da japonesa. O uso de uma pérgola com mais de trinta metros que interliga a garagem e um depósito ao núcleo da casa é um detalhe que só é repetido ocasionalmente nas suas obras. Também a expressão “usonian” tem origens neste virtuoso norte-americano, sendo a proposta fundamentada na necessidade de salientar as caraterísticas das paisagens norte-americanas relacionadas com a criação dos espaços e dos imóveis. Neste desenvolvimento, importa frisar o caráter ambiental e funcional de Wright, que punha a tónica na estreita relação entre o material e o natural ao usar materiais locais e mecanismos para tirar o maior proveito dos recursos naturais existentes. Outra produção bastante influente foi a “Frederick Robie House”, tendo este espaço vincado a sua distinção pela dimensão do seu telhado e pela sensação de ininterrupção suscitada pela articulação das salas de estar e de jantar. Conotada como a “pedra angular do Modernismo”, serviu como norteadora de uma nova geração de arquitetos europeus e consolidou o estatuto do norte-americano como um dos proeminentes artistas no que toca a conferir vida, sentido e forma ao imóvel.
Westcott House (1908, Ohio, EUA)
Robie House (1908-09, Hyde Park, Illionis, EUA)
Fallingwater (1936, Pennsylvania, EUA)
Johnson Wax Building (1936-39, Wisconsin, EUA)
Child of the Sun (1941-58, Florida, EUA)
Guggenheim (1959, Nova Iorque, EUA)
Frank Lloyd Wright desmistificou a arquitetura. Com uma linha de trabalho criteriosa, funcional, orgânica e espontânea, o norte-americano foi um dos nomes que abriu as portas do seu ofício para o epíteto de arte. Podendo a arte ser designada por muito e como muito, o arquiteto deu vida à formatura aparentemente rígida e, nesse sentido, tornou o edifício amigo do homem. Não o limitando somente à condição férrea de estrutura, Wright quis ir mais além. Vanguardista e experimentalista, nunca virou a cara à importância do indivíduo na construção e, nesse sentido, estimulou a familiaridade a partir do material, do conceptual e do emocional. Afinal de contas, a arte, refletora de emoções, desperta e conquista corações. Frank Lloyd Wright teve o distinto mérito de fazer da arquitetura um despertador imponente do coração do mais contemplativo, do mais emotivo e do mais imaginativo. Eis arte ao serviço do homem, da nação e da sua plena satisfação mas sem nunca se ver desprovida da sua fundamental intenção: a de exprimir as emergências e convergências de um exultante coração. Da casa se fez lar, do arquiteto se fez artista. Assinale-se a vida e obra de Frank Lloyd Wright.