Ganso desvendam no Musicbox um mundo musical caricato
Os Ganso passaram ontem pelo Musicbox para apresentar o seu primeiro álbum Pá Pá Pá numa sala esgotada por amigos, familiares e sobretudo fãs deste grupo. Os jovens de Lisboa têm conquistado corações desde que “Pistoleira” invadiu as rádios, com tanta pinta como a da personagem dessa música. A sua mistura de rock psicadélico com a sonoridade vintage que lembra bandas de outros tempos transpareceu durante uma actuação em que também se ouviram temas do primeiro EP da banda, Costela Ofendida.
Desde o momento inicial que a pequena multidão entrou num mundo da banda, introduzido por uma cena do filme Who Framed Roger Rabbit, em que o detective Eddie Valiant entra pela primeira vez em Toontown, a cidade dos desenhos animados. Após a cena acabar, os Ganso entram em palco. “Gostaram do filme? Já tinham visto a fita? Nós gostamos muito de desenhos animados”, diz a certa altura o vocalista João Sala, de cara comicamente pintada de branco. “Conversas Repetidas” abriu a actuação com todo o seu ímpeto tribal, e com um solo à The Doors, um tema com uma melodia cantada que lembra qualquer coisa dos Capitão Fausto, parceiros de Ganso na editora Cuca Monga e amigos do grupo na vida além da música.
A atmosfera foi de descontracção e leveza ao longo de toda a actuação, com uma força constante do público a acompanhar as músicas de Ganso. O alinhamento flutuou entre Pá Pá Pá e Costela Ofendida com toda a destreza e ímpeto que a música destes jovens transmite. “Brad Pintas” espalhou a sua ginga com a voz “fanfarrona” de Sala e o baixo a carregarem o tema, seguida de “Idalina”, de versos marcados por uma guitarra seca munida de reverb antes de uma parte mais possante no final com direito a crowd surf, algo que se viu várias vezes no concerto. Em músicas como “Grilo do Nilo”, a melodia apelativa e reconhecível do refrão encheu a sala ao ser entoada em uníssono pelo público, que aproveitou a atmosfera para mais um crowd surf.
Em “Quando a Maldita” os Ganso chamaram a palco um músico para tocar a bela melodia de clarinete desta música pintalgada de blues. Esse mesmo intérprete encheu a parte instrumental de “Salamandra” ao soprar um solo de harmónica seguro e atmosférico, adequado à sonoridade da música que escorregou suavemente, meio “misteriosa”, tornada espacial pelos sintetizadores que adornam o seu início. Depois de o instrumental “Gansão” servir quase como uma reflexão a meio desta entusiasmante actuação, “Tanto Faz” deixou muita gente a mexer-se ao som da mesma, que convida a isso, descontraída e sem se levar muito a sério, com um falsete brincalhão complementado por umas teclas frenéticas.
“Vamos tocar mais uma música do álbum que viemos apresentar, Pá Pá Pá!”, disse João Sala, exclamando o nome do álbum antes de “Domingueira”. No final desta música, um frenesim disfarçado de solo com direito a luzes intermitentes encerrou o instrumental vintage e atmosférico e introduziu “Dança de Sabão” com uma abordagem meio “carnavalesca” que soa a um carrossel psicadélico, a invocar mais uma vez o mundo cartoon adorado pelos membros da banda. Para terminar, a já conhecida “Pistoleira” ditou o final estrondoso e encantou mais uma vez com o seu tom convidativo e meio sedutor. A parte acelerada foi acompanhada por um fã a “flutuar” por cima da multidão em mais um crowd surf glorioso.
O concerto acabou com a cena final de Who Framed Roger Rabbit a ser projectada, mostrando os desenhos animados a voltarem para Toontown. Um “That’s all, folks!” final conduziu à saída de palco e estava feito o exercício musical de Ganso no Musicbox. Conseguiram transmitir fielmente a sua pujança artística, a força de uma banda que é jovem em idade, mas que parece já ter muito para contar.