Ghalia Taki: “Portugal depende da sociedade civil para acolher refugiados, não é do Governo”

por Fumaça,    6 Junho, 2019
Ghalia Taki: “Portugal depende da sociedade civil para acolher refugiados, não é do Governo”
Ghalia Taki / Fotografia de Pedro Verde Pinho

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Quando o primeiro-ministro, António Costa, visitou o campo de refugiados de Eleonas, em Atenas, na Grécia, trouxe a esperança por que muita gente desesperava. Estávamos em abril de 2016 e mais de um milhão de pessoas tinham chegado à costa sul da Europa no ano anterior, grande parte atravessando o Mar Mediterrâneo em barcos de borracha desde as praias norte africanas. Milhares esperavam ainda por resposta ao pedido de asilo e pela colocação num país europeu que os aceitasse receber.

Costa fazia-se acompanhar por Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Constança Urbano de Sousa, na altura ministra da Administração Interna, e Catarina Marcelino, então secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, quando anunciou a generosidade portuguesa: “O número global [para a receção de refugiados] já disponibilizado por Portugal é já superior a nove mil pessoas.” Desta forma, o primeiro-ministro garantia que Portugal estava preparado para receber mais cinco mil refugiados do que os quatro mil inicialmente definidos, aquando do acordo de redistribuição europeu feito em setembro de 2015.

Será que havia um plano? Desde o final de 2015 até fevereiro de 2018 (não existem números mais recentes), Portugal recebeu apenas 1.674 refugiados: 1.192 pessoas da Grécia; 340 de Itália; 142 da Turquia. Não só ficou muito longe de preencher as tais mais de nove mil vagas prometidas, como nem sequer chegou às quatro mil já acordadas pelo país.

Mas mesmo quando chegam a Portugal, a luta destas pessoas não termina. Como explica Ghalia Taki, intérprete e mediadora no Serviço Jesuíta aos Refugiados e no projeto LAR e membro da primeira família síria que chegou a Portugal em 2014, os obstáculos são imensos: a demora da Segurança Social a entregar número de identificação, as deficientes condições de habitação, os atrasos na atribuição do estatuto de refugiado definitivo, o labirinto burocrático do processo de reagrupamento familiar, entre outros.

Talvez tudo isto explique porque tanta gente abandona Portugal. Um relatório de dezembro de 2017 do Alto Comissariado para as Migrações contava que, das 1520 pessoas refugiadas acolhidas até àquele momento, 51% (768), tinham saído do país.

Conversámos com Ghalia em Braga, onde estivemos a convite do Festival Política, sobre a integração de refugiados e sobre a sua história, desde que fugiu da Síria até chegar a Portugal.

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