Greg Fox: a irreverência de um baterista sublime
Um artigo do The Washington Post acerca de Greg Fox afirmava que bons bateristas até são algo de mais ou menos comum; contudo, bateristas sublimes já não se encontram com a mesma facilidade. Descrevemos assim também Greg Fox – nesse artigo comparado a Keith Moon e John Bonham – um baterista exímio que já colaborou em mais de cinquenta álbuns de diferentes artistas, e que em 2011 viria a ser reconhecido pelo jornal The Village Voice como «o melhor baterista em Nova Iorque».
Para Greg Fox, a arte que envolve a bateria trata-se não apenas de uma dança atlética, em que todo o corpo se move para criar um ritmo de comunhão entre baterista e bateria, mas inclui também uma componente de carácter espiritual. A total entrega de Fox é mais do que evidente; o instrumento é agora uma extensão do corpo, e o ritmo toma conta da mente numa energia utópica. Foi essa descarga de energia que entregou na colaboração com o músico Jamal Moss, no seu projecto, Hieroglyphic Being, onde rendeu as batidas da sua bateria num espírito mais experimental, sem descurar a aura que circunda a sua energia e nos transporta a cada batida para viagens em que nos dissolvemos entre notas musicais, existindo no espaço da criatividade e da genialidade.
Quem acompanha e ouve os Liturgy consegue compreender facilmente o virtuosismo de Greg Fox na bateria. As investidas de Fox na bateria provocam blast beats imperdoáveis, muitas vezes interrompidos por viragens bruscas. É verdade que o projecto liderado por Hunt-Hendrix nunca foi consensual na comunidade metaleira; no entanto, os Liturgy afastam-se rapidamente dos rótulos. Apesar de serem, recorrentemente, vinculados ao black metal, é o território do experimentalismo noise e electrónico que preferem explorar. A banda de Brooklyn é um autêntico vendaval de pedaleiras duplas, que vão percorrendo os intervalos de teclados excêntricos e as vozes arrastadas de Hunt-Hendrix. Há quem goste de dançá-los, há quem goste de abanar o pescoço, puxando pelo habitual headbang. Não é para metaleiros, nem para ravers, é para quem gosta de ter os ouvidos abertos. O papel de Fox na bateria desempenha um papel fulcral na identidade sónica da banda.
Como não destacar ainda a presença do baterista num dos mais recentes trabalhos do saxofonista experimental Colin Stetson? Em Sorrow, o músico reinterpreta à luz da composição contemporânea a famosa terceira sinfonia de Górecki. A bateria de Greg Fox acaba por ser um dos elementos que mais vem diferenciar a composição original e o novo trabalho. Os pratos, que entram em força na recta final do primeiro andamento, são um exemplo expressivo da intensidade com que o baterista se aplica ao fazer música.
O Aquário da Galeria Zé dos Bois irá receber um concerto único de Greg Fox, dia 13 de Setembro – apenas com uma bateria – onde o músico promete despejar uma catarata de ritmos. The Gradual Progression, o seu mais recente álbum, será certamente o mote para uma actuação que percorrerá livros rítmicos universais (jazz, electrónica e metal).
Para lá do concerto, Greg Fox já chegou à Galeria Zé dos Bois, onde ficará até quarta-feira em residência artística. Da estadia deverão resultar experiências inéditas, a serem ouvidas exclusivamente no concerto de Lisboa. Os bilhetes têm um preço de 8 euros e estão disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e na Galeria Zé dos Bois (segunda a sábado 22h-02) ou por reserva em: reservas@zedosbois.org.
Artigo da autoria de Joana de Sousa, João Horta e Tiago Mendes