GrETUA reúne sete criadores para Curso de Dramaturgia e Guionismo
O GrETUA (Grupo Experiment
O curso pretende fornecer conteúdos teóricos para a prática Dramatúrgica nos seus mais diversos suportes (Teatro, Cinema, Televisão e Ilustração) e enriquecer a capacidade criativa dos formandos, fomentando diferentes formas de construção textual.
As sessões com diferentes artistas servirão não só para promover o acesso a diferentes metodologias pessoais mas também como objecto de estudo e de debate sobre as suas respectivas obras. Ambiciona-se, assim, que o curso proporcione uma plataforma de encontro e discussão entre os criadores das mais diferentes áreas.
Estes são os oradores convidados: Cláudia Lucas Chéu (Teatro/TV), o João Leitão (Cinema), Marco Mendes (BD/Ilustração), Mickaël de Oliveira (Teatro), Vasco Sá e David Doutel (longas e curtas de animação).
Já a coordenação do curso ficou a cargo de Bruno dos Reis e Fábio Maricato. Tivemos o privilégio de falar com um dos coordenadores e de lhe fazermos algumas questões sobre este curso.
Por que pensaram fazer este curso?
Bruno dos Reis: Penso que foi o Fábio Maricato que surgiu originalmente com a ideia para este curso específico. Existe uma linha condutora naquilo que têm sido os esforços das direcções recentes do núcleo do GrETUA, que têm tentado transformar não só este espaço mas a própria teia, chamemos-lhe assim, onde ele se encontra. Não existe, ao contrário do que se tem apregoado bastante, um público estúpido e desinteressado: existe um público pouco reunido e sem grandes hábitos. A falta de interesse é outra coisa. Há muitos criadores e pretensos criadores em Aveiro e é para eles que o GrETUA se tem proposto cada vez mais como uma escola possível. O ano passado oferecemos um Curso de Formação Teatral com seis módulos e sete formadores distintos na tentativa de colmatar uma falha gravíssima na malha, chamemos-lhe assim, cultural e educativa da cidade: como é que uma capital de distrito não tem, ou não tinha, um curso de formação de actores que não se enquadrasse fora do âmbito de “tempos livres”? Com este curso tentamos, mais uma vez, fortalecer a ideia desta pequena ilha que temos tentado criar, de um espaço que não é nem deve ser apenas de estudantes para estudantes, mas da Universidade para a Cidade, oferecendo outra pequenina ponte sobre esta teia, malha, buraco, chamemos-lhe assim.
E em Aveiro porquê?
Bruno dos Reis: Julgo que já respondi, mas se puder falar de uma forma mais pessoal: num mundo ideal, ou numa cidade ideal (ou num buraco ideal), ninguém deveria ficar tanto tempo desamparado, como eu fiquei, enquanto criador proposto. É um caminho longo, extenuante e difícil, especialmente havendo poucos faróis à tua volta. É fácil dizer que os jovens, especialmente os jovens, têm sempre a oportunidade de se lançarem para fora: mas há uma certa cultura de desresponsabilização nisto que é o velho “que se foda”. Há condicionantes que podem não permitir a saída destes, mais não seja a falta daquilo que uma escola deve fornecer em primeiro lugar: a coragem. A verdade é que, desde que me lembro, sempre houve muito poucas plataformas de aprendizagem ou de interacção criativa em Aveiro. Seja “interacção criativa” o que for – mas julgo que me faço entender. O GrETUA de há 10 anos foi uma bolha de ar para mim, mas terrivelmente insuficiente – salvo raras excepções, nenhum de nós sabia o que estava a fazer. Lembro-me ainda daquilo que foi o antigo Mercado Negro, enquanto associação cultural factualmente proposta (e menos aquilo em que depois acabou por se tornar), e que apesar de ter sido uma pequenina lanterna para muitos de nós, não podia adoptar a matriz de formação que o GrETUA pode.
Qual é a lógica/fio condutor para a escolha dos oradores?
Bruno dos Reis: A lógica existente é que seja uma oferta vasta e profundamente rica não só pela qualidade individual dos ditos oradores, mas pelas áreas distintas a que pertencem. Seria fácil, dentro do contexto teatral em que estamos inseridos, juntar ao Mickaël e à Cláudia o Rui Pina Coelho, ou o Tiago Rodrigues (contando que tivessem disponibilidade e a mesma generosidade que os outros oradores tiveram), mas o interesse que o curso acabaria por ter seria afunilado a um terço da plateia a que pretendemos chegar. Talvez o dia venha em que possamos ter dois ou três cursos distintos que só brevemente, e a interesse de ambos, se cruzem, mas não é aquilo que podemos ter de momento. A bom dizer, também não sei se seria o que queremos. Julgo que grande parte do interesse do curso é o acesso a variadíssimas metodologias pessoais.
Qual o motivos, ou motivos, para a escolha dessas temáticas no curso?
Bruno dos Reis: O trabalho dramatúrgico, embora obedeça geralmente a determinados padrões, acaba em última instância por ser um processo pessoal e autoral. Há portanto um interesse desmedido não só no estudo do método de vários autores distintos como haverá ainda no estudo de autores que pertencem a áreas diferentes. Um formador com experiência na área da ilustração pode fornecer conteúdos práticos para a criação de um storyboard que alguém da área do teatro talvez não possa. E a criação de um storyboard obedece a uma determinada estratégia narrativa absolutamente diferente da criação de diferentes cenas de um espectáculo. E ambas as coisas beneficiam inevitavelmente uma da outra, porque mesmo sendo diferentes jamais serão indissociáveis. O que pretendemos oferecer, mais até do que conteúdos teóricos rigorosos, são estratégias de pensamento diferentes. Para isso, gostava de agradecer a grande generosidade de todos os oradores, que mesmo em casos de evidente reduzida disponibilidade se mostraram sempre interessados em acompanhar o projecto. Nada disto seria possível sem a vontade deles. É refrescante, especialmente para mim, aveirense, encontrar gente assim.
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A fotografia de capa de artigo é da autoria de Pedro Sottomayor