GTA San Andreas: quando fomos todos CJ num pequeno ecrã

por José Malta,    26 Outubro, 2024
GTA San Andreas: quando fomos todos CJ num pequeno ecrã
GTA San Andreas / DR

O mítico videojogo Grand Theft Auto (GTA) San Andreas foi algo que deixou um grande marca na juventude de muitos, especialmente na dos Millennials. Lançado a 26 de Outubro de 2004 para a consola PlayStation 2, e mais tarde para a Xbox e PC, intensificou a febre pela saga da Rockstar Games que já acumulava sucesso de jogos anteriores. Estima-se que tenham sido vendidas perto de 30 milhões de cópias até hoje, sendo um dos maiores sucessos da história dos videojogos. De tal modo que, passados 20 anos, o jogo encontra-se disponível nas plataformas actuais com alguns ajustes gráficos, e as suas referências mantêm-se como se ainda ontem tivesse sido lançado.

GTA San Andreas tem como personagem principal Carl Johnson, mais conhecido como CJ, o primeiro protagonista afro-americano da série. Trata-se de um membro de um dos gangues do bairro de Los Santos, Grove Street Families (GSF, ou simplesmente Groves), que partiu para Liberty City (Cidade referente a Nova Iorque) e que volta a casa após a sua mãe ter sido assassinada num tiroteio. Desde então, CJ vê-se envolvido em conflitos com a polícia, gangues rivais e até mais tarde com elementos do seu próprio gangue. A voz interpretada pelo rapper Young Mayley tornou-se bastante alusiva ao jogo, dando vida à personagem que procura respostas sobre a misteriosa morte da sua mãe. Mas ainda há outras vozes ilustres, como as de Big Smoke por Clifton Powell, e conhecidas vozes de Hollywood como a de Officer Tempenny por Samuel L. Jackson, a personagem The Truth por Peter Fonda, Cesar Vialpando por Clifton Collins Jr. ou ainda o já conhecido chefe da máfia Salvatore Leone, interpretado pela voz de Frank Vincent, actor da série Os Sopranos. Tudo isto fez em que GTA San Andreas se pudesse tornar sucesso na indústria do gaming, podendo ser visto hoje como um clássico dos videojogos. Nesse mesmo ano, em Portugal, era também lançado o álbum Re-Definições dos Da Weasel que fez furor no top de vendas musicais e que incluía a canção GTA. Apesar do refrão “Dá-me um jogo tipo Tommy” ter como referência Tommy Vercetti, personagem do jogo anterior, Vice City, foi com San Andreas que a canção partilhou um sucesso mútuo.

GTA San Andreas / DR

Comparativamente aos anteriores jogos da saga GTA, nomeadamente a GTA III e GTA Vice City, lançados em 2001 e 2002, respectivamente, GTA San Andreas oferecia novidades, nomeadamente a personalização na personagem CJ, onde poderíamos alterar o visual, mudar a roupa e desenvolver o seu físico. Ainda havia os carros personalizáveis com pinturas, jantes e nitro, missões infindáveis, confrontos entre gangues, personagens dos mais variados géneros e estratos sociais, e sobretudo um open world com três cidades diferentes: Los Santos, San Fierro e Las Venturas, inspirado em Los Angeles, São Francisco e Las Vegas, respectivamente. As falas das personagens e algumas destas missões tornaram-se memes da internet como a famosa cena em que CJ é lançado do carro pela polícia logo no início do jogo e diz “Ah, shit here we go again” ou ainda missões que deram tantas dores de cabeça como aquela em que temos de perseguir um comboio conduzindo uma mota e com a personagem Big Smoke aos tiros contra membros de um gangue rival. Havia também uma infindável lista de cheats, combinatórias das teclas da consola ou do computador, que facilitavam a vida a muitos dos jogadores com variados bónus de vida, dinheiro, armas, veículos e afins. Não havia praticamente ninguém que jogasse GTA San Andreas sem uma ou várias folhas ao lado com os diferentes códigos e a respectiva função de cada um. E muitos de nós ainda sabem alguns de cor de tanto os usar!

É inquestionável a violência presente em GTA San Andreas, como em qualquer outro jogo da saga. Dizer que foi mais um exemplo de videojogo que fez com que jovens ficassem paranoicos e com maior tendência por cometer crimes de sangue e massacres, é algo falacioso. Os crimes violentos já existiam nos Estados Unidos bem antes de jogos deste tipo terem surgido. A normalização da violência acabou por acontecer nos videojogos e a saga GTA também sofreu dessa normalização. O jogo poder-se-ia chamar Grand Theft Auto ou algo como Once Upon A Time in America sem causar qualquer tipo de choque. Não é por isso que quem o jogou ficou com mazelas ou com traços de personalidade iguais à da personagem CJ, quando a violência e a linguagem obscena foi sempre algo de fácil acesso aos jovens pelas mais variadas vias. Até porque a questão que quase se coloca mesmo é “Quem é que nunca jogou ou viu alguém jogar GTA San Andreas?”.

O sucesso da saga GTA foi aumentando de jogo para jogo, desde os primeiros com vista 2D, até aos actuais com gráficos de topo. GTA San Andreas tem um legado enorme, mesmo passados 20 anos do seu lançamento e com o aparecimento de outros jogos da saga com melhorias gráficas drásticas, e de ainda outros do mesmo género que entretanto surgiram. A começar pela soundtrack, com a música de abertura, Theme For San Andreas, até às diferentes rádios presentes, com os mais variados géneros musicais que fizeram as delícias de muitos. Foram várias as bandas e os intérpretes que muitos conheceram nas diversas rádios à medida que conduziam os veículos no jogo. Muitas canções ainda hoje nos remetem para GTA San Andreas, pois foi lá que as ouvimos pela primeira vez, ou que pelo menos lhes demos alguma atenção.

Passados 20 anos, GTA San Andreas continua nas memórias de muitos, permanece como um clássico dos videojogos, servindo de exemplo de sucesso de muitos que ainda hoje são produzidos. Os bons tempos permanecem, numa altura em que acabamos por ser todos a personagem CJ num pequeno ecrã. Quando os gráficos dos videojogos eram algo do outro mundo e quando o 4K era uma coisa quase digna de ficção científica. Quando passávamos horas em frente ao ecrã, agarrados a um comando ou um teclado, a tentar passar pela enésima vez aquela missão que nos parecia quase impossível. Quando simplesmente nos dava gozo, roubar carros, cometer crimes e infracções, e fugir à polícia só por diversão, sem nunca levar o jogo a sério. Quando todos fomos um perigoso gangster em GTA San Andreas, algo que acabou por ser um dos delitos mais inofensivos que cometemos nos gloriosos tempos da nossa tenra idade.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.