Guilherme Geirinhas: “Espero que as pessoas pensem um bocadinho menos nos seus problemas ao ver a série”
“Há aqui coisas que são verdade e outras que me interessa que vocês acreditem”, disse-nos Guilherme Geirinhas no lançamento da sua websérie “Vai Correr Tudo Bem” a meio desta semana, no Cinema Ideal.
Esta nova série explora várias condições algo transversais a todos os criativos — como a síndrome do impostor, o medo do palco e da análise crítica, por vezes cruel, do público — associando-as à sua característica de sofrer de transtorno obsessivo-compulsivo. Não há, porém, espaço para comiseração nem é apenas mais uma série sobre saúde mental. É uma série sobre ser-se um comediante quando, por vezes, o próprio não tem muita vontade de rir, um pouco como o palhaço Grock.
Pensada e escrita pelo próprio e por Rogério Casanova, que odeia comediantes, conta com várias personalidades da nossa praça, entre humoristas, críticos de cinema, comentadores, actores, e apresentadores. Conta também com um manancial de acrobacias financeiras devido ao baixo orçamento, com muito material não usado — que pode, quem sabe, ser usado como extras — e com um enorme esforço pessoal e colectivo. A série “Vai Correr Tudo Bem” estará disponível no YouTube durante os próximos 5 domingos, num total de sensivelmente 2 horas e meia de histórias de vida.
No final da exibição dos dois primeiros episódios, estivemos à conversa com Guilherme Geirinhas numa sessão rápida de perguntas e respostas.
Como é que foi recrutar tanta gente para a série? Como o Luís Pedro Nunes, a Joana Marques, Pedro Boucherie, entre muitos outros que aparecerão nos próximos episódios?
É a parte mais chata, mas as pessoas alinharam e foi uma grande sorte tê-los a todos, porque encaixam na perfeição. Mas foi preciso lutar, porque as pessoas que têm as suas vidas e o mais mais difícil é convencer as pessoas de que isto é uma coisa que vale a pena entrar. Com comediantes há sempre algo a mais à vontade são, porque são meus amigos.
Tiveram alguma intervenção no que iam dizer?
Eu dei-lhes um guião, depois eles voaram. O Luís Pedro chegou, sentou-se, durante um minuto disse o que tinha a dizer e depois levantou-se e foi-se embora. O “pastor de humoristas” foi invenção dele. Já o Tendinha acrescentou a parte do “humor ibérico”. Aliaram a personagem deles às pessoas que efectivamente são.
Falamos no guião e temos de falar no elefante na sala, que é o Rogério Casanova, que ninguém sabe quem é.
Nem eu.
Mas como é que foi chegar ao Rogério Casanova e criar com ele?
Em primeiro lugar, eu gostava muito do que ele escrevia no Twitter, no Público, no Diário de Notícias. Ele gosta de duas coisas que eu gosto, de futebol, ou do Sporting, e de cinema. Em talento, é bastante mais talentoso do que eu e tem imensa graça. E tem ainda mais alma de velho do que eu. Tivemos duas ou três reuniões presenciais e depois toda a série foi escrita por telefone.
Mas Zoom ou Facetime?
Não. À moda antiga, chamadas mesmo, das 11 da noite às 3 da manhã. Adaptei-me. Eu queria tanto tê-lo que tinha de ser assim. Ele não tinha WhatsApp quando começámos isto, mas com tantas coisas que eu tinha para ele ver, agora tem. Agora ele diz que terminou o trabalho dele e meteu um advogado para falar connosco, ou pelo menos é essa a narrativa que tems de usar. Mas eu acho que foi uma peça chave para isto ter mais graça.
Também tens muito síndrome do impostor.
É uma forma de uma pessoa se proteger também.
Dentro da sua vulnerabilidade não estar completamente vulnerável?
Talvez sim. Às vezes também tento ser um bocadinho mais responsável. Esse síndrome do impostor pode ser só eu a não querer assumir essa responsabilidade. Se trabalhei para isto, podia dizer que isto está bom, mas depois tenho sempre aqui algumas nuances. Eu escrevo sobre aquilo que percebo, e o que eu percebo é a vida. E é uma coisa meio narcísica, mas eu também só sei coisas sobre a minha vida, sobre o Sporting que eu amo, e sobre o cinema, porque gosto de ver. Isto está cheio de problemas de produção. As pessoas dizem que está tudo muito bem feito, mas estou sempre a ver problemas. Mas espero muito que a malta se divirta a ver isto. Que pensem um bocadinho menos nos seus problemas.