Gulbenkian vai expor “duas obras maiores” de Paula Rego adquiridas em 2022
A Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai homenagear a pintora Paula Rego, no primeiro aniversário da sua morte, com a exibição, a partir de 08 de junho, das duas obras recentemente adquiridas, “Anjo” e “O Banho Turco”.
A aquisição destas duas obras, em janeiro do ano passado, fez da fundação a instituição privada com a coleção mais importante e significativa da obra da artista, constituída atualmente por 37 peças, entre pintura, desenho e gravura.
Segundo a curadora Helena de Freitas, que foi diretora da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, as duas pinturas vão estar expostas “num lugar central da sede” da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) de 08 de junho, data do aniversário da morte de Paula Rego, até ao dia da Gulbenkian, que se assinala a 20 de julho.
“Não é uma exposição, é uma apresentação de duas obras. Integra-se numa dinâmica que queremos criar de ocupação mais fluida dos espaços da Fundação, e da Gulbenkian no geral, e do CAM [Centro de Arte Moderna], quando inaugurar”, disse à Lusa.
É também “uma sinalização sobre o momento muito importante” de aquisição de “duas obras de referência” de Paula Rego, desde logo “Anjo”, que é uma pintura que se destaca como “uma das mais icónicas” da artista e que representa uma espécie de “síntese de todo o seu programa artístico”.
“Ela própria dizia que quando morresse era a pintura que levaria com ela, por isso é uma história que a tem acompanhado ao longo da sua narrativa mais pessoal”, contou Helena de Freitas.
A curadora esclareceu que não se trata de um “autorretrato”, porque ela não o assumiu como tal, mas é “uma imagem muito forte e muito irradiante, que se identifica com todo o sentido interventivo do seu trabalho: por um lado a espada, por outro lado a esponja, com aquela figura central de braços abertos, entre a vingança, o castigo e o perdão.
“O Banho Turco” é uma pintura de 1960 – pelo que não pertence à mesma série do “Anjo”, de 1998, que se integra no estudo de “O Crime do Padre Amaro” – e tem a particularidade de ser uma pintura dupla.
É uma obra antiga, de uma fase muito precoce, que tem um retrato de um nu de Paula Rego feita pelo marido, Victor Willing, e na frente (que é a pintura mais apresentada), Paula Rego faz uma ligação da pintura com o feminismo e a representação da mulher, em que “se percebe que há uma intenção feminista na referência ao mundo feminino de clausura e de prazer”.
“Até mesmo a escolha de a artista fazer aquela pintura no verso de uma pintura do seu marido, em que ela é retratada nua, tudo isso já representa uma consciência muito feminista, que esteve presente ao longo de toda a obra de Paula Rego, mas de uma forma muito precoce”, disse a curadora.
Estas, que são consideradas “duas obras maiores no plano internacional”, vão ficar expostas num “lugar muito central na sede da fundação”, que a curadora não quis especificar, “com uma apresentação museográfica especial, uma construção à volta destas obras, para sinalizar o momento, que corresponde à passagem de um ano sobre a morte da artista”.
Os dois quadros foram adquiridos em janeiro de 2022 pela Gulbenkian para a coleção do CAM, encerrado para obras e com reabertura prevista para 2024.
Na altura, a Gulbenkian disse que com aquela “incorporação” consolidava “a sua posição internacional como a instituição privada com o maior e mais significativo acervo da artista, reforçando a ligação histórica e os profundos laços profissionais e afetivos” que ligam Paula Rego à instituição, desde que foi bolseira Gulbenkian nos anos 1960.
Nascida em Lisboa, Paula Rego, começou a desenhar ainda em criança, e partiu para a capital britânica com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art, onde viria a fixar residência e a distinguir-se pela singularidade da obra, inspirada na literatura, e marcada, ao longo das décadas, pela defesa dos direitos das mulheres.
Em Londres conheceu o marido, o artista inglês Victor Willing, que morreu em 1988, cuja obra Paula Rego mostrou por várias vezes no museu Casa das Histórias.
Em 2004, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, e, em 2010, foi nomeada Dame Commander of The Order of the British Empire pela Coroa Britânica, pela sua contribuição para as artes. Em 2016 recebeu a medalha de honra da cidade de Lisboa.
Em 2019, a pintora foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura.
Paula Rego morreu no dia 08 de junho de 2022, em Londres, deixando uma obra que está representada em várias das mais importantes coleções públicas e privadas em todo o mundo.