Haverá vida depois das máquinas? Terminator diz-nos que não está morto
Qual é o futuro de uma de saga icónica que vê o seu futuro ser cancelado, mas que anteriormente foi tão importante ao nível de influenciar praticamente todos os blockbusters criados a partir da sua estreia?
A sequela de Terminator: Genisys foi oficialmente cancelada, tendo o projecto sido posto em pausa até data indefinida. Arnorld Schwarzenegger falou recentemente sobre este assunto afirmando que a saga não está morta, que estão apenas à procura de outra produtora que decida financiar o projecto. A grande questão aqui é: valerá a pena?
O sucesso de Terminator, estreado em 1984 pelas mãos do mestre James Cameron, é sem dúvida um dos filmes mais importantes do cinema de acção mundial, sendo a sua sequela, Terminator 2: Judgement Day, considerado o melhor blockbuster de sempre por diversos críticos. James Cameron atingiu o patamar de rei Midas com esta saga, mas também com Titanic e Avatar. A verdade é que desde que deixou de ter mão na realização o projecto entrou numa verdadeira queda até ao abismo.
Em 2003 a ideia era simples e tinha tudo para resultar: voltar a trazer Arnold Schwarzenegger para o papel mais carismático da sua carreira, dois actores jovens em destaque (Nick Stahl e Claire Danes), uma evolução do T-1000 anterior, alguns easter eggs e um realizador pouco conhecido. Porém, tudo falhou e os 150 milhões de lucro não chegaram para cobrir as despesas de aproximadamente 200 milhões. O filme foi caro, mal recebido e marcou a despedida de Arnold dos papéis principais até 2013. A ideia de se repetir a antiga fórmula de sucesso foi na verdade um grande fracasso. O público não queria ver mais do mesmo, ainda por cima com menor qualidade. Nick Stahl era um actor sofrível, Jonathan Mostow um realizador sem visão e Kristanna Loken era pouco convincente como vilã.
Seis anos depois surgiu uma ideia interessante. Já não havia Arnold Schwarzenegger (apenas uma versão meio digital numa espécie de cameo), a história avançava para uma linha temporal nunca antes explorada a fundo, contratava-se um actor com créditos firmados para fazer de John Connor, Christian Bale, e um realizador com uma nova visão. Contudo, os problemas continuaram a ser os mesmos. A ideia era exactamente a mesma, mas executada noutra linha temporal e com sangue novo. O resultado foi um filme de acção aborrecido, igual a tantos outros, com um Christian Bale sem identidade, meio perdido num núcleo de actores à toa.
Durante muitos anos debateu-se qual seria o futuro desta saga, se deveria terminar de vez ou se ainda havia esperança, já que o último ano de sucesso tinha sido em 1991 com Terminator 2. E em 2015 surge então Terminator: Genisys. Novidades? O tão aguardado regresso de Arnold Schwarzenegger, alguns actores da moda como Emilia Clarke (Game of Thrones), J. K. Simmons (Whiplash) e Jason Clarke (Dawn of the Planet of the Apes). A cadeira de realização era agora entregue a Alan Taylor, também ele ligado ao fenómeno de sucesso Game of Thrones, assim como a Thor e várias séries de televisão. O erro? Escrever a mesma história de forma diferente não é uma boa opção, ainda mais quando os personagens são tão fracos que parece que foram escritos em trinta minutos numa qualquer bomba de gasolina de autoestrada. Nem o sentimento nostálgico de rever Arnold no seu papel emblemático acrescentou grande qualidade à produção e o filme foi um gigantesco fracasso de bilheteira.
A saga Terminator está gasta, farta de John Connor e do seu protector metálico. A única forma de revitalizar esta saga é transformar o tom e mudar a história. Há tanto mais a explorar do que apenas a história de John Connor. O que acontece à civilização após a queda da Skynet? Como sobrevivem os seres humanos? Que novos desafios e inimigos é que encontram? Em que estado fica o planeta? Qual é o caminho?
De forma um pouco radical creio que a melhor forma de revitalizar a saga Terminator seria torná-la centrada num cenário pós-apocalíptico, onde nomes acabados em Connor fossem apenas uma referência e não o centro. Podiam centrar-se na forma como a humanidade terá agora que se voltar a erguer. Voltarão a confiar nas máquinas? Voltarão a cometer os mesmos erros? Será a humanidade capaz de esquecer as acções que levaram a este estado caótico de destruição massiva? Será esta uma analogia de um possível futuro? Seria muito mais interessante explorar a componente psicológica, aliada possivelmente ao thriller e suspense, do que voltar a repetir a mesma fórmula vezes sem conta.
James Cameron volta a ter os direitos de Terminator em 2018, o que trará sem dúvida novidades. É improvável que assuma o leme como realizador, já que estão previstos mais quatro filmes da saga Avatar até 2023, mas poderá ter uma palavra a dizer no argumento e produção.
Com ou sem Arnold Schwarzenegger há uma altura em que é necessário olhar em frente e voltar a reconstruir tudo de raiz. Os dois primeiros filmes de Terminator são um dos maiores marcos do cinema de blockbuster, aliando um excelente argumento a personagens com profundidade e realização com estilo. Agora por favor mudem a cassete.