“I/O” de Peter Gabriel: os gigantes regressam sempre em grande
Dezembro de 2023 traz-nos o novo álbum de Peter Gabriel, I/O, o primeiro de originais em 21 anos após Up, de 2002. Conhecido por ser o mentor e fundador dos Genesis, uma das mais bem sucedidas bandas de rock progressivo que viria a abandonar em 1975, Peter Gabriel não tem deixado de surpreender com a sua extraordinária carreira a solo. Com mais de 50 anos de carreira mantém-se como um dos músicos mais independentes do seu tempo. E, passado mais de 20 anos desde o seu último trabalho de originais, o seu oitavo álbum vem comprovar isso mesmo, com canções inovadoras e letras bastante actuais que abordam questões pertinentes da actualidade, tudo isto com uma envolvente musical muito positiva bem assente neste seu trabalho.
I/O combina um trabalho feito em quase três décadas, começando com algumas composições feitas em 1995 com o intuito de serem apresentadas no álbum Up, passando ainda por algumas das sobras dos álbuns orquestrais Scratch My Back de 2010 e New Blood de 2011 que, para além de covers, contêm algumas canções de sua autoria. As canções de I/O foram dadas a conhecer ao longo de todo o ano de 2023 em formato single, o que permitiu que os ouvintes chegassem a Dezembro com o álbum na íntegra. Todas as letras foram escritas pelo próprio Peter Gabriel e a produção feita em conjunto com os produtores Richard Russell e Brian Eno, e pelas editoras Real World, EMI e Republic. Cada canção tem dois mixes associados: “Bright-Side Mix”, produzido por Spike Stent e “Dark-Side Mix”, produzido por Tchad Blake, tendo sido esta uma decisão de Peter Gabriel de incluir duas versões de cada canção com o fim do público “poder ouvir o excelente trabalho que ambos fazem”. As canções receberem também um terceiro mix alternativo pela Dolby Atmos, “In-Side Mix”, produzido por Hans-Martin Buffm.
Panopticom, canção dada a conhecer no início de 2023, inicia o álbum I/O. Trata-se de uma peça de art rock que remete para algum do repertório dos Genesis quando Peter Gabriel ainda era o rosto principal do conjunto. The Court, traz-nos uma vertente mais pop, mais característica do seu repertório a solo, com uma letra que aborda um determinado sistema judicial, com o refrão “And the court will rise / While the pillars all fall” a ser uma imagem de marca desta canção. Playing for Time, surge num resisto mais calmo, sendo fortemente marcada pelo piano e pela voz de Peter Gabriel que se vai intensificando com os violinos e com a percussão já no fim da canção. I/O, que dá o título a este álbum, trata-se de uma canção que envolve novamente a vertente pop de Peter Gabriel, de uma forma enérgica ao seu estilo. A canção seguinte, Four Kinds of Horses, volta também a mostrar-nos esse mesmo estilo mas num registo mais dramático com uma letra que alerta para o perigo dos fanatismos.
Num jeito bem alegre e festivo surge Road to Joy, sendo esta uma das canções mais emblemáticas do álbum e que fora bem recebida quando dada a conhecer no início do Verão deste ano. So Much volta a um registo mais suave, sendo esta canção predominada pelo piano e pela voz de Peter Gabriel. Olive Tree traz-nos um registo mais pop num registo mais electrónico e sinfónico. Esse registo sinfónico surge de forma pura com Love Can Heal, remetendo para os álbuns orquestrais de Peter Gabriel. Num registo mais ao estilo que nos tem habituado, This Is Home traz-nos uma vertente mais groove que acaba por enriquecer este álbum e And Still, novamente, um estilo mais sinfónico. Por fim, o álbum termina com Live and Let Live, onde Peter Gabriel exibe um registo que remete para aquele que adoptara nos seus primeiros trabalhos, logo após a saída dos Genesis, e que lhe valeram a projecção da sua carreira a solo.
I/O vem comprovar que quando os gigantes das música regressam, regressam sempre em grande. Tal não significa que durante o seu hiato tenham estado adormecidos, ou simplesmente calados. Apesar de não ter tido trabalhos de originais nos últimos vinte e um anos, Peter Gabriel manteve-se no activo com diversas gravações, covers, tours e colaborações com os mais ilustres intérpretes da música. A mais recente está na canção Unconditional II (Race and Religion) do álbum WE dos Arcade Fire, lançado em 2022, enaltecendo mais uma vez a carreira multifacetada do músico britânico e alimentando também as expectativas quanto ao lançamento de um novo álbum. De fundador dos Genesis a um dos mais independentes e inovadores intérpretes da música, Peter Gabriel mostra-se aos 73 anos com a mesma energia que tivera aos 20, encontrando-se em digressão mundial deste álbum que, de momento, não conta com passagem prevista em Portugal. Esperemos assim ter novamente a oportunidade de encontrar este gigante da música, bem como as canções de I/O, num palco bem perto de nós.