Janis Joplin, um dos maiores símbolos da contra-cultura norte-americana

por José Malta,    19 Janeiro, 2018
Janis Joplin, um dos maiores símbolos da contra-cultura norte-americana
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Celebraria hoje 75 anos aquela que é considerada por muitos “A rainha do rock n’roll”, “A maior voz dos anos 60” e até mesmo “Uma das maiores cantoras da soul music”. Recordar Janis Joplin é mais do que recordar uma mera intérprete rock que se inspirou no blues e no folk, ou uma simples cantora que atraiu multidões no auge musical da década de 60 do século passado. É falar sim de uma das maiores vozes de todos os tempos, de alguém que conseguia transpor a sua alma para a música que interpretava, de uma intérprete que tinha potencialidades únicas no seu instrumento vocal que lhe conferiram um estatuto eterno na música do nosso tempo. Ainda hoje, o estilo inconfundível de Janis Joplin continua a inspirar músicos e artistas de todo o mundo nos seus trabalhos. Canções como “Piece of My Heart“, “Cry Baby“, “Down on Me“, “Ball ‘n’ Chain“, “Summertime“, ou até mesmo “Mercedes Benz“, são exemplos de temas que eternizaram para sempre a voz de Janis Joplin e que permitem assim recordar a sua carreira que, apesar de curta, foi repleta de sucessos mesmo até depois da sua morte.

Janis Lyn Joplin, nascia então no dia 19 de Janeiro de 1943 na cidade de Port Arthur no Texas. Filha de um engenheiro petrolífero e de uma educadora, a mais velha de três irmãos, desde muito cedo fez amizade com amantes e intérpretes amadores do blues que eram vistos pela sociedade corrente como marginais. É no Thomas Jefferson High School, a escola secundária na qual Janis tinha sido matriculada e na qual completa os estudos, que começa a cantar e dar os seus primeiros passos na música. A formação dos pais fez com que, após a conclusão do ensino secundário, ingressasse na Universidade do Texas onde causou alguns desacatos devido ao seu estilo rebelde, acabando por abandonar a instituição dois anos mais tarde. É a partir daqui que Janis Joplin começa a sua verdadeira aventura musical: em 1963 abandona o Texas e parte para a Califórnia, para a cidade de São Francisco, onde começa a trabalhar como cantora folk, conhecendo alguns músicos como os membros da banda Jefferson Airplane, uma das bandas mais icónicas do movimento Beat dos anos 60 nos Estados Unidos. Enverga pelos vícios do álcool e da heroína, que se tornavam mais importantes para Janis do que a música que interpretara. Ao aperceber-se dos vícios e do caminho pelo qual envergara, regressa novamente a Port Arthur para iniciar uma recuperação, apresentando-se fisicamente mais magra e frágil. Acaba por voltar um ano depois, em 1966, novamente a São Francisco e é neste seu segundo regresso à cidade californiana que encontra os Big Brother and the Holding Company, uma banda de rock psicadélico com a qual começa a trabalhar. É aqui que finalmente a carreira musical de Janis Joplin dá o salto, e começa a sério.

Janis juntamente com os Big Brother & the Holding Company começam a tocar em bares e festas assinando em 1967 contrato com a editora Mainstream Records, durante uma passagem por Chicago. Lançam o seu primeiro álbum intitulado com o nome da banda nesse mesmo ano, e partir daqui a estrada para o sucesso começa. O álbum teria um sucesso modesto, até ao público ter testemunhado as performances musicais da banda e a voz de Janis Joplin ao vivo. Logo em 1968, é lançado o segundo álbum, Cheap Thrills, que se torna um sucesso autêntico, tendo vendido até hoje cerca de um milhão de cópias. Graças à voz e ao estilo de Janis Joplin, os Big Brother & the Holding Company caminhavam para o sucesso, atraindo mais adeptos fieis ao seu estilo musical concerto após concerto. Contudo, a figura de Janis Joplin tornava-se cada vez mais o centro das atenções pondo assim de parte os músicos da banda. A imprensa começava a denominar o grupo musical por Janis Joplin and Big Brother & the Holding Company, dando mais ênfase à cantora do que à banda em si. Começava a surgir alguma tensão entre os membros e Janis, o que levaria a que esta abandonasse a banda no mesmo ano, procurando assim outros caminhos. Em 1969 forma então o grupo Kozmic Blues Band, que a acompanharia numa nova fase da sua carreira. É com eles que participa no segundo dia do mítico festival de Woodstock, a 16 de Agosto do mesmo ano, dando um dos concertos mais ilustres deste evento que marcou o tão famoso movimento Beat, uma das eras culturais e musicais mais intensas de sempre.

Janis Joplin encontrava-se enérgica e num caminho artístico invejável, ganhando cada vez mais reputação e admiração pelos amantes da música. Em Setembro do mesmo ano lança com a sua nova banda o álbum I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama!, que apesar de não ter tido um sucesso tão vistoso Cheap Thrills, fora suficiente para chegar à categoria de disco de ouro nos Estados Unidos. Contudo o vício da heroína começava novamente a intensificar-se juntamente com o álcool que Janis não conseguia largar e a banda acabaria por se separar ainda nesse mesmo ano. No início do ano de 1970 parte para o Brasil juntamente com uma amiga para realizar um tratamento de desintoxicação. Durante este período permanece longe dos vícios até regressar novamente aos Estados Unidos em Junho para continuar as gravações e os trabalhos musicais desta vez com os Full Tilt Boogie Band, sofrendo novamente uma recaída. A 4 Outubro de 1970, o seu produtor aguardava Janis Joplin para mais uma sessão de gravações, desta vez em Hollywood, tendo estranhado o seu atraso. Pediu ao gerente do Hotel onde Janis estava hospedada que interviesse, entrando no seu quarto. Ao entrar, encontrou a cantora deitada no chão ao lado da sua cama já sem vida. A autópsia revelou que as causas da morte terão sido uma overdose de heroína misturada com enormes quantidades de álcool. O mundo testemunhara em choque o desaparecimento de um dos maiores ícones do seu tempo entrando para o chamado “Clube dos 27”, o grupo de artistas que morrera precocemente com 27 anos do qual já pertenciam Brian Jones dos Rolling Stones (que morrera em Julho de 1969) e Jimi Hendrix (que morrera 16 dias antes de Janis Joplin, em Setembro de 1970), e que vitimara também Jim Morrison (em 1971). Meses mais tarde viria a ser lançado Pearl, o álbum póstumo de Janis Joplin com os Full Tilt Boogie Band, que viria a eternizar mais do que nunca a voz de Janis Joplin, sendo considerado por muitos o melhor trabalho da cantora, a peça que acrescentou o degrau final numa escadaria para uma eternidade musical.

Apesar de efémera, a vida de Janis Joplin fora suficiente para que conseguisse alcançar um estatuto eterno na música, tornando-se num dos maiores símbolos da contracultura americana que tanto marcou os anos 60 e 70 do século XX. Uma vida repleta de sucessos musicais mas também de amores e relações de curta duração e de vícios dos quais nunca recuperou, a voz e o estilo musical de Janis Joplin permanecem vivos como nunca. A eternidade de um músico ou de um intérprete musical é algo que nos dias de hoje é cada vez mais discutível com o surgimento de novas gerações e com o modo como a própria música se vai modificando com estas. No entanto, passados quase cinco décadas desde o seu desaparecimento, as qualidades musicais de Janis Joplin mantêm-se óbvias e inerentes, dada à sua alma transposta para uma voz que ainda hoje não pára de cantar.

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