Justine Triet, vencedora da Palma de Ouro em Cannes, acusa Governo francês de “mercantilização da cultura”
A realizadora Justine Triet, que recebeu ontem a Palma de Ouro pelo filme “Anatomie d’une Chute”, acusou o Governo francês de defender a “mercantilização da cultura” e de deter um “esquema de poder dominador”.
Num discurso em que começou por agradecer à sua equipa e aos membros do júri do Festival de Cinema de Cannes, a cineasta francesa, a terceira mulher na história consagrada com o prémio máximo do certame, denunciou a “mercantilização da cultura que o Governo neoliberal defende” no país.
Justine Triet acusou ainda o executivo de Emmanuel Macron de promover um complexo sistema de financiamento do cinema em França e recordou as manifestações que decorreram no país contra o aumento da idade da reforma dos 62 para os 64 anos, já aprovada na Assembleia Nacional.
“O país foi atravessado por um protesto histórico extremamente poderoso e unânime contra a reforma das pensões“, disse a cineasta, para quem esse movimento foi “chocantemente negado“, de acordo com um “esquema de poder dominador, cada vez mais desinibido“.
A ministra francesa da Cultura, Rima Abdul Malak, reagiu às acusações, manifestando-se “espantada” com o discurso “injusto” da realizadora galardoada.
“Este filme não teria sido possível sem o nosso modelo francês de financiamento cinematográfico, que permite uma diversidade única no mundo. Não nos esqueçamos disso“, escreveu a governante na rede social Twitter.
Protagonizado pela atriz Sandra Hüller, “Anatomia de uma queda” (em tradução direta do francês) conta a história de uma escritora que tenta provar a sua inocência pela morte do marido.
Uma das duas mulheres vencedoras anteriores, Julia Ducournau (premiada em 2021 por “Titane”), estava no júri deste ano. A outra realizadora distinguida anteriormente foi a neozelandesa Jane Campion, pelo filme “O Piano” (1993).
O Grande Prémio do festival foi para “The Zone of Interest”, de Jonathan Glazer, uma adaptação de um livro de Martin Amis.
Os prémios foram decididos por um júri presidido pelo realizador sueco Ruben Östlund, duas vezes vencedor da Palma de Ouro e que ganhou o prémio no ano passado por “Triângulo da Tristeza”.