“Killer Ratings”: quando um apresentador de televisão encomenda crimes para ter audiência
A série documental tem sete episódios.
“Imagine uma combinação brasileira de David Attenborough, Sherlock Holmes e Barack Obama. Era o que Wallace Souza parecia se ter tornado em 2009”, disse Mark Lawson num artigo sobre a série no jornal The Guardian.
A Netflix tem uma panóplia de filmes e séries sobre criminosos e psicopatas norte-americanos. No entanto, no fim do mês de Maio, a gigante do streaming estreou “Killer Ratings”, uma série documental sobre o apresentador de televisão brasileiro Wallace Souza.
Inicialmente, Wallace era só mais um ex-polícia que apresentava um programa “jornalístico” brasileiro onde eram mostrados crimes. O “Canal Livre” era sensacionalista e teve um sucesso enorme em Manaus, capital do estado do Amazonas e principal centro urbano, financeiro e industrial da Região Norte do Brasil.
Willace Souza, filho mais novo de Wallace Souza, considera a série positiva e fiel aos factos: “Avalio a série como uma oportunidade de dar esclarecimento aos factos para a sociedade (…) a família foi muito ouvida (…) a série é totalmente imparcial porque abordou os dois lados. Tem o lado da defesa e da acusação. Os produtores foram profundos com o caso, até para mostrar as versões de ambos os lados para o público.”, afirmou Willace Souza ao Amazonas Atual.
No entanto, o programa acabou por ser um sucesso um pouco por todo o Brasil e mais tarde o próprio Wallace acabou por ser notícia um pouco por todo o mundo. O apresentador foi acusado de encomendar e criar cenas de crimes, com o intuito de as mostrar no seu programa. Era assim que o próprio Wallace Souza, ou as suas equipas de repórteres, conseguiam em primeira mão, até mesmo antes da polícia, chegar às cenas dos crimes.
Em 2009, o apresentador que já estava inserido na vida política brasileira, era deputado, foi acusado de vários crimes, no entanto, alegou sempre inocência e afirmou constantemente que era tudo um complô político para o destruir.
Mais tarde, Wallace perdeu a imunidade de deputado e foi preso com outras pessoas, um deles o seu filho Raphael Souza, que segundo o Ministério Público, matou um homem em 2007.
Por fim, Daniel Bogado, realizador da série, disse, em entrevista ao Broadcast Now, que “naquela altura, todos ficaram indignados com a estranha história de um apresentador de televisão brasileiro que mandava executar criminosos para depois os filmar e aumentar a audiência do seu programa.”, Bogado disse ainda que na altura escreveu algumas ideias para fazer um filme mas que achava que “alguém acabaria por fazer um filme sobre isto tudo antes de eu ter a hipótese de o fazer”. O realizador revelou também que teve dificuldades com depoimentos: “Inúmeras pessoas – muitas das quais trabalharam com a polícia – foram supostamente mortas pelo grupo criminoso de Wallace Souza. Por isso as pessoas tinham, e ainda tem, medo de falar. Mas o facto delas permanecerem assustadas, anos depois do fim do caso, foi encorajador”.
A produção da série ficou a cargo das produtoras britânicas Caravan e Quicksilver e os criadores do projecto são Dinah Lord e Eamonn Matthews.
“Killer Ratings” tem sete episódios e está disponível na Netflix.