‘La tête haute’, o crú retrato da delinquência juvenil

por João Estróia Vieira,    1 Julho, 2016
‘La tête haute’, o crú retrato da delinquência juvenil
LA TÊTE HAUTE

La tête haute, ou em português De Cabeça Erguida é um considerável esforço da realizadora Emmanuelle Bercot que tem dedicado grande parte dos seus últimos trabalhos a temas fracturantes. Actriz de Polissia onde foi membro de uma brigada de protecção de menores ou em Mon Roi onde foi vítima de violência doméstica, Emmanuelle usa porventura o que apreendeu em ambas as obras da realizadora Maiwenn (as duas foram de resto co-argumentistas em Polissia) para nos trazer um cru e cruel retrato, desta vez com a delinquência juvenil como centro de toda a narrativa.

No novo filme de Emmanuelle Bercot seguimos o “crescimento” do temperal Malony (Rod Paradot), um menino sem pai e aos cuidados de uma mãe pouco capaz de o educar da melhor forma. É nas actuações de Rod Paradot e da juíza do tribunal de menores, a inigualável Catherine Deneuve (que já tinha trabalhado com a realizadora em On My Way), que o filme oferece o que tem de melhor.

Rod Paradot é um saudoso anti-carismático e selvagem Malony que capta uma raiva interiores de forma soberba. Já para Catherine não haverão novos elogios que nunca tenha ouvido em relação a si. Como Florence Blaque, Deneuve transmite uma austeridade que nunca se afasta de uma afectuosidade imprescindível e necessária. Um doseamento perfeito por parte da experiente actriz francesa.

Resultando em segundo plano como uma tentativa acertada de prestar homenagem a todos os que compõem o sistema social de suporte a estas questões de delinquência juvenil, desde os tutores aos que trabalham nos centros de correcção, esta longa-metragem é um exercício assinalável da procura de um realismo necessário e prioritário em filmes do género.

La tête haute não deixa de ser curto em termos de exploração (ou tentativa disso) do subconsciente do seu personagem principal, o auto-destrutivo, vulcânico Malony, interpretado em excelência por um Rod Paradot que faz lembrar Jack O’Connel nos tempos em que interpretava o rebelde James Cook em Skins, versão inglesa. Em vez disso o comportamento de Malony é porventura demasiado superficial, assim como todo o filme que nunca consegue encontrar o seu ritmo. Talvez feito de forma propositada nesse sentido, La tête haute é uma demonstração real e capaz da delinquência juvenil e de tudo o que a rodeia. Sem rodeios, sem subterfúgios, sem caminhos fáceis. É duro, é crú, é real. Como a vida.

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