Lisb-ON Jardim Sonoro: primeiro dia no festival verde
Depois da má-fama que ganhou no ano passado, com filas demoradas para tudo e mais alguma coisa, o Lisb-ON redimiu-se. Com um espaço mais amplo e muito mais organização, não podíamos pedir um melhor ambiente. No entanto, conseguimos ver que a adesão do público foi notoriamente menor, pelo menos neste primeiro dia, estando o espaço muito liberto, quando comparado com o ano transacto.
Chegámos ao recinto durante a actuação dos Sweat & Smoke, que, no pico da tarde, entretinham os poucos que se sentavam na relva verdinha ou nos pufes que pontilhavam o espaço. Isac Ace e Guillaz (ex-Da Weasel) já não são novos nestas andanças, mas este projecto é recente e esta foi a sua apresentação, com direito à participação de convidadas que emprestavam a sua voz a canções que demonstravam influências funk e realmente soavam bem, mas não conseguiam entusiasmar o público, que se resignou a ficar sentado à sombra, a aproveitar a tarde agradabilíssima.
Entre este e o espectáculo seguinte, chegou uma das inovações deste ano e que fez um enorme sucesso. Uma banda vestida a rigor, com fatos vermelhos, com trompetes, xilofones, caixas de rufo… enfim, uma verdadeira banda filarmónica. Passando literalmente pelo meio do público, tocaram canções bem ritmadas, nomeadamente hits bem conhecidos, como “Galvanize” dos Chemical Brothers ou “Rolling in the Deep” da Adele. De início, as pessoas não sabiam bem como reagir, mas o à-vontade do festival entrosou-se nas pessoas, que se levantavam para dançar com a banda e celebrar a música. Isto repetiu-se entre todos os concertos, nunca deixando um momento morto.
De seguida, os Tender Games vieram de Berlim para continuar a boa onda que se fazia sentir. Canções house com influências disco, tudo rodeado de uma aura chill out muito agradável. São canções que soam sofisticadas, coisas para se ouvir num rooftop algures, e que nos trouxeram reminiscências do ano passado, com a dupla Andras & Oscar. No entanto, perderam algum gás após o início promissor, e as pessoas não se convenceram totalmente a levantar-se para dançar. Ainda não era a altura indicada, especialmente com aquilo que vinha a seguir.
“We’re Escort, from New York City!” Assim os apresentou a vocalista e baixista Adeline Michele, que foi uma força incrível ao longo de todo o concerto, ganhando o prémio de artista mais carismática do dia. Aos primeiros segundos da primeira música, o público deixou de apresentar resistência e viu-se obrigado a dançar. Como não dançar ao som daquelas músicas embebidas de sonoridades disco boogie, saídas dos anos 70 e 80? “Come closer!”, urgiu Michele, e o público aderiu. A partir daí, ninguém parou, nem a banda (um ensemble como uma espécie de mini-orquestra) nem aqueles que assistiam ao concerto. Passando por covers (destaque para “Gypsy Woman (She’s Homeless)” dos Crystal Waters, que não podia ter sido melhor) e pela sua ainda curta discografia, quem não os conhecia, ficou com vontade de o fazer, decerto. O melhor concerto do dia!
Passeando-nos pelo recinto, vemos tudo bem cuidado, com uma boa distribuição dos espaços e o fundo verde da relva do Parque Eduardo VII. É realmente um jardim sonoro. Quem não está a ver os concertos, tem muito com que se entreter.
Por esta altura, a massa de público já era maior do que no início da tarde. Acorreram ao palco para receber Herbert, que, ao fim da tarde, actuou com um conjunto vestido como se fossem tocar uma marcha fúnebre e providenciou-nos o concerto mais estranho do dia. Para que ninguém desconhecesse ao que ia, Matthew Herbert explicou o seu mote, salientando o experimentalismo que caracteriza as suas músicas, em que desconstrói sons quotidianos, como o mastigar de uma maçã ou o amarrotar de um jornal, usando-os a proveito das suas canções. Foi um falatório algo comprido, momento parado que foi compensado com os contrastes incríveis das suas canções, com ritmos dissonantes e algum ruído, contrapostos a elementos soul e jazz fornecidos pela secção de sopro que tinha em palco. Até tivemos direito a colaborar com samples feitos ao vivo, com recurso a um microfone compridíssimo! Ninguém ficou indiferente, quer tenha sido por gostar muito (o nosso caso) ou por achar estranhamente curioso.
Dixon fechou o dia com o seu house musculado. Ritmos intensos propulsavam o público, que se abanava desenfreadamente na pista. Para quem descarta música house como sendo apenas monotonia, devia dar uma chance a estas canções, que despertam emoções com recurso à intensidade. Com toda a sua experiência, Steffen Berkhahn (ou Dixon), mantém sempre a constância rítmica, mas os segmentos nunca soam iguais, com diferenças subtis que os fazem desenvolver-se até mudarem completamente de figura.
As pernas já estavam massacradas da dança, mas ficou a promessa de regressar no dia seguinte ao festival verde, onde passarão nomes como Sensible Soccers, Surma ou Azymuth.