Do hip-hop ao techno, o percurso de DJ Koze

por Bernardo Crastes,    5 Junho, 2017
Do hip-hop ao techno, o percurso de DJ Koze
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Stefan Kozalla fez um sample do seu próprio apelido para o seu nome artístico e ainda lhe fez uma remistura, até chegar ao epíteto pelo qual é conhecido no meio da música electrónica, DJ Koze. É uma forma curiosa de ver as coisas, e adequada a um artista que tem feito música durante mais de metade da sua vida. Participou na sua primeira competição de mixing com a tenra idade de 16 anos, a partir da qual começou a criar o seu nome na cena musical de Hamburgo.

Apesar de hoje em dia ser mais associado ao techno, o seu início de carreira viu-o tornar-se parte do grupo de hip-hop Fischmob, como MC. A participação nesse projecto já permite ter um vislumbre da sua personalidade magnética e colorida, dado que a música do mesmo, apesar da carga política a ela associada, é recheada de humor. A experimentação com samples inclui elementos que se poderiam considerar ‘fora de sítio’, ditando aquela que será uma das abordagens mais reconhecíveis do processo criativo de Stefan.

Apesar do sucesso que os Fischmob tiveram na Alemanha, Kozalla não seguiu o caminho pop que se abria à sua frente, virando-se para outro tipo de paisagens electrónicas e tomando as rédeas do processo de construir música. Juntamente com Marc Nesium, formou o projecto Adolf Noise, que até hoje apenas lançou um álbum e um punhado de singles e EPs.

Apesar do nome, que sugeriria uma abordagem mais agressiva e uma exploração de géneros electrónicos mais ruidosos, em Adolf Noise, Kozalla inicia o percurso lógico entre o hip-hop dos Fischmob e aquilo que ainda estaria para vir. Não se afastando do som dos primeiros, nomeadamente em termos rítmicos, a sua música avança numa direcção por vezes mais abstracta, aproximando-se da música electrónica com a inclusão de sintetizadores, como os que ouvimos em “Büsum”.

Os samples continuam bastante presentes, mas são usados para criar paisagens sonoras, mais do que complementar letras ou melodias. Essas paisagens são reminiscentes do downtempo característico da segunda metade da década de 90, ao qual associamos nomes como DJ Shadow ou os austríacos Kruder & Dorfmeister. Ainda podemos encontrar um pouco deste som no álbum que lança pouco antes do virar do milénio, em 2000, Music is Okay, já sob o epíteto de DJ Koze, mas nem tudo fica o mesmo.

Music is Okay é povoado de artistas convidados e remisturas de canções que se aproximam do deep house e do techno, espelho das performances vivaças que Kozalla dá como DJ. Tocando sets um pouco por toda a parte, torna-se bastante reconhecido nesse meio. Esse reconhecimento é materializado na sua eleição como o melhor DJ dos anos 1999-2004, pelos leitores da SPEX, uma importante revista de música alemã.

https://www.youtube.com/watch?v=8ItK7K8I1nw&feature=youtu.be

Desde essa altura, o seu estatuto no mundo da música electrónica tem-se mantido elevado e, actualmente, é um artista bastante respeitado pela sua abordagem. Isso deve-se ao facto de fazer música sem ter medo de arriscar ou de ser tão flagrantemente divertido na sua mistura de estilos com a cultura de clubbing. Em adição, a sua pose carismática e auto-confiança apenas contribuem para a cimentação da sua reputação.

Essa reputação fomentou o seguinte passo lógico: formar a sua própria editora para permitir a divulgação de música de dança corajosa que, nas palavras do próprio, conquiste corações e neles crie raízes, não tendo receio de quebrar com as convenções. Este é o mote da Pampa Records, que Stefan Kozalla criou juntamente com Marcus Fink, em 2009, em Hamburgo. Através dessa mesma editora, lança aquele que será o seu magnum opus até hoje, Amygdala, em 2013.

Amygdala é uma abordagem refinada ao techno, criando um mundo colorido em que há trips de drogas com Caribou (“Track ID Anyone?”), samples de Marvin Gaye (na incrível “Das Wort”), mergulhos japoneses em música ambiente (“NooOoo”) e até baladas clássicas alemãs retrabalhadas (“Ich Schreib’ Der Ein Buch 2013”). As batidas limpas e profundas são um prazer de se ouvir, e a atribuição de uma importância redobrada à escrita e construção das canções faz deste um álbum interessantíssimo.

É nesta senda ascendente que DJ Koze finalmente regressará a Portugal, para um set no LISB-ON Jardim Sonoro, que promete incendiar o Parque Eduardo VII, da melhor maneira possível, no dia 3 de Setembro deste ano.

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