“Longlegs”, de Oz Perkins: da comparação à decepção
Este artigo pode conter spoilers.
Já nas salas de cinema de todo o país, o novo filme do realizador Oz Perkins (a título de curiosidade, filho de Anthony Perkins, o actor principal do clássico “Psycho”, de Alfred Hitchcock) foi promovido com “pompa e circunstância” como “o melhor filme de serial killers” desde “O Silêncio dos Inocentes”. A expectativa criada (ainda por cima com o festival Motelx aí à porta) fica aquém da comparação proposta, fugindo desse caminho a partir do momento em que deriva de thriller policial para sobrenatural e que acaba por se tornar no maior ponto fraco do filme.
Este filme retrata a investigação policial a um serial killer que se identifica como Longlegs e que ao longo dos últimos anos tem morto várias famílias. Esta investigação leva a uma operação porta-a-porta na qual agente Lee Harker (aqui interpretada por Maika Monroe, a estrela de “It Follows”, um título bem mais apreciável dentro do género sobrenatural) acaba por chegar ao encalço do assassino.
O uso de certos elementos na investigação torna também inevitável a comparação com pares superiores como Se7en, Zodiac ou – porque não (?) – Prisoners, mas para um thriller policial a investigação conduzida é facilitista (utilizando um termo simpático) e baseada num conjunto de adivinhações, coincidências e intuições que, ainda que assumidas, não deixam de ser forçadas e preguiçosas. A certa altura, o agente especial encarregue de liderar a investigação chega a dizer à agente do FBI Lee Harker que deverão chamá-la de “altamente intuitiva”, o que é aceite por esta com um taciturno e sorumbático “yes, sir”. O próprio filme sente a necessidade de justificar a sua via mais óbvia para o caminho pretendido mas nem nessa honestidade há valorização a retirar.
Veja-se o caso de uma série de cartas com símbolos até então “indecifráveis” e que são deixadas pelo serial killer junto das famílias assassinadas, mas que passam a ser descodificadas por uma cena onde alguém, com a maior das facilidades, consegue entrar em casa de uma agente especial, sem que haja desculpa para a falta de esforço colocado na escrita e desenvolvimento da narrativa. É tudo imediato, acessível e ténue.
Ainda assim, não é só nas suas contradições que “Longlegls” falha. A ligação às personagens fica sempre aquém dos “mínimos olímpicos” (ou não estivéssemos na época apropriada a esta comparação). A partir do momento em que nos vendem um filme escondendo a sua personagem principal, a nossa curiosidade só será saciada pela descoberta de como é que essa personagem se tornou naquilo que é ou, em alternativa, como chegam até ela. Nada disso é feito com especial competência. Nicolas Cage, apesar de competente naquilo que lhe é pedido (a personagem perpetua-se na nossa memória após o filme), não é explorado o suficiente. Quem é? Quais as suas motivações? De onde veio a arte de um personagem que, tal como Hannibal Lecter é também ele artesão?
Apesar de tudo, a realização é um exercício de estilo assinalável, na forma como oferece uma roupagem e linguagem actual a um contexto mais vintage, à semelhança do anterior título de Oz Perkins, a sua renovada visão sobre o clássico “Gretel & Hansel”. Essa construção de ambiente , com a ajuda de uma sonoplastia muito competente são talvez os pontos mais positivos de um filme que vive unicamente do seu assassino Longlegs que serve a história apesar da falta de conteúdo, motivação e desenvolvimento de tudo o que é feito à sua volta e que acaba por culminar num final completamente sensaborão. Talvez sejam injustas comparações com filmes contemporâneos ao de Oz Perkins, no entanto é inevitável que estas se façam a partir do momento em que o marketing é baseado precisamente em comparações. Em última instância, apreciação deste “Longlegs” fica refém de uma gestão de expectativas forçadas em vez de criadas.