Luís Lima: “Vejo-nos a construir habitação sempre para a classe mais alta, quando a procura de jovens e classe média é enorme”
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Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), o valor mediano das rendas de contratos de habitação feitos no segundo semestre de 2018 é 9,3% mais alto que o mesmo período em 2017. O INE mostra também que as rendas aumentaram em todas as freguesias da cidade de Lisboa, no último semestre de 2018. Dados de 2018, do Índice de Rendas Residenciais, feito pela Confidencial Imobiliário, que faz estudos sobre o mercado imobiliário português, revelam que as rendas na capital têm crescido desde 2014 e que os preços estavam, em 2018, 38% mais altos em relação a 2010. Segundo o Balcão Nacional do Arrendamento, em 2016, foram despejadas mais de cinco famílias por dia no país.
Por outro lado, segundo o INE, o número de venda de casas tem vindo a crescer desde 2014. Em 2018, venderam-se mais de 170 mil casas, mais 16,6% que no ano anterior, e o preço de compra e venda de casas tem aumentado, pelo menos, desde 2015. Será que a crise da habitação de uns é a oportunidade de fazer dinheiro de outros?
Esta foi a questão base da entrevista a Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), entre muitos outros cargos ligados ao imobiliário e à construção. Luís Lima é um homem do mercado mas, diz-nos,: “Quando as pessoas chegam à minha beira e me batem nas costas a dizer ‘isto está muito bom’, eu fico irritado”. Acredita que a habitação, hoje, “é um problema para quase todos os portugueses”, mas não acredita que a crise seja resolvida nos próximos tempos.
Para o também presidente da Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa (CIMLOP), a solução é “mais oferta” – ou seja, mais casas disponíveis no mercado. E, para isso, o Estado deve intervir fazendo com que seja mais lucrativo arrendar casas aos jovens e à classe média do que à classe alta e ao turismo. Contudo, defende a não intervenção estatal no preço das rendas: “Se se fizer isso, todos nós vamos sofrer. O desemprego vai passar a aumentar, os investidores vão fugir todos”.
Nesta conversa, discutimos o papel do mercado imobiliário na crise na habitação e quais as soluções para resolver.
Até ao dia 6 de outubro, vamos estar focados no escrutínio de alguns dos assuntos que consideramos mais importantes à medida que se aproxima a votação que definirá a composição da próxima Assembleia da República e do próximo Governo. Vê toda a nossa cobertura das Eleições Legislativas 2019 aqui.