Mais pesados que nunca, Alter Bridge arrasam o Coliseu dos Recreios
Estivemos ontem no Coliseu dos Recreios, palco que marcou o regresso dos Alter Bridge a Portugal depois de um hiato de 4 anos. A abertura foi feita por As Lions, banda liderada por Austin Dickinson, filho da lenda viva do metal Bruce Dickinson, vocalista de Iron Maiden.
Ativos apenas desde 2015, era difícil saber o que esperar de As Lions, mas rapidamente com os seus riffs pesados da guitarra de Connor O’Keefe, a bateria marcada de Dave Fee e um dos baixos mais graves do rock, cortesia de Stefan Whiting, conquistaram o público. As letras que o público não trouxe aprendidas de casa rapidamente se decoravam, e sob um olhar desatento, poderia parecer que aquele público estava ali para ver As Lions, e não Alter Bridge.
A banda trouxe de Londres uma boa disposição invejável, onde os sorrisos só acalmavam nos momentos mais pesados onde os headbangings iam quase até ao chão e as pernas afastadas quase faziam a espargata. Pouco depois de terem conseguido arrancar um coro impossível de prever com Aftermath, o maior single da banda, o momento de gargalhada da noite chegou quando a voz de Dickinson falhou a meio de uma brincadeira com o público («quem me dera que a minha voz fosse assim tão aguda», dizia o vocalista).
O concerto foi intenso, mas sol de pouca dura: assim que o público parecia já aquecido, a banda retirou-se, chamando os americanos e cabeças de cartaz ao palco. Começava o momento de Alter Bridge.
Ao entrar em palco, percebeu-se em segundos o que a banda veio mostrar: a irreverência do rock e metal mais pesado em que têm trabalhado nos últimos álbuns. A banda estava aqui para abanar a cabeça e fazer tremer o chão de Lisboa inteira.
Com a sua boa disposição característica, Myles Kennedy tornava-se num personagem curioso: amistoso, sorridente e caloroso quando sorria, caminhava pelo palco ou olhava para os fãs nas primeiras filas, mas assim que os lábios se aproximavam do microfone ou a palheta da guitarra, a brutalidade e imponência do seu poderio que o vem a confirmar como um dos mais importantes frontmen do género na atualidade tomava conta do público. Não havia espaço para brincadeiras quando se tocava música.
Longe vão os tempos de Rise Today, Metalingus e Find the Real, e apesar de, como seria de esperar, os singles dos primeiros álbuns da banda tenham sido tocados e acompanhados com o coro gigante que era o público, a banda mostrou aqui que se demarca do género que os levou ao estrelato, o metal suave que pretendia agradar a todo o ouvido, mostrando-nos a fibra pesada de que são feitos agora, com músicas do último álbum da banda, The Last Hero, a preencherem uma parte considerável do alinhamento.
Este é um álbum que faz brilhar como nunca Scott Phillips na bateria e Brian Marshall no baixo. Este último teve em cima de si os holofotes durante grande parte do concerto, fazendo o edifício vibrar com a força das suas notas que tão bem complementam esta nova identidade da banda.
Pelo facto de a banda estar aqui para nos fazer estremecer, sentiu-se que faltou algo em músicas como Watch Over You ou In Loving Memory. Não esteve presente a entrega sentimental necessária para cativar fãs de metal com músicas acústicas e suaves como estas – podiam ter sido um dos momentos mais altos do concerto; no entanto, pareceram tocadas por obrigação.
Em suma, As Lions vieram com algo a provar e provaram-no sem sombra de dúvida. São um grupo jovem e irreverente que poderão ter uns trunfos na manga para o futuro. Alter Bridge vieram mostrar o novo tecido da sua música e com isso revelam-se como uma das bandas de metal puro mais brilhantes no panorama da música atual. Myles Kennedy reforça o seu reconhecimento como uma força da natureza em vários estilos musicais, e são merecidas todas as preces em sua honra.
Alter Bridge vieram para aquecer e rebentar. Fizeram-no na perfeição.