Malfeito: um ano de amor pela música
O fim de semana foi de intempérie, mas a tempestade que atingiu a Malfeito foi outra. Duas noites de rock ‘n’ roll e amor pela música marcaram o aniversário da promotora de Fafe, nos passados dias 9 e 10 de Março. A celebração deu-se no Café Avenida, onde eram patentes as reminiscências ao ano que tinha passado: fossem por fotografias espalhadas pelas paredes, caixas iluminadas com nomes das bandas que por ali haviam passado ou um vídeo que era projetado com os melhores momentos dos primeiros 12 meses de vida desta promotora.
A abrir a primeira noite inaugural estiveram os Psychtrus, e a banda de Santo Tirso embalou o público com o seu surf-rock, num início de noite mais calmo, que já antevia o furacão vindo da Invicta que se seguiria. Sobem ao palco os Sunflowers, o duo portuense de rock frenético, que deixa o Café Avenida em apoteose com a sua performance ousada e sempre electrizante. Carlos de Jesus e Carolina Brandão levaram a Fafe o novo álbum Castle Spell e o público respondeu com moshes, crowdsurf e até mesmo a cantar a pulmões cheios alguns dos temas com a banda. O rock corre-lhes nas veias e não há como lhes ficar indiferentes. Os riffs arrojados e a bateria avassaladora tomaram de assalto a noite da Malfeito, num concerto que decerto ficará na memória dos presentes. A encerrar a primeira noite, o DJ SET ficou a cargo da Pointlist, e a pista de dança permanecia cheia noite dentro.
Os galegos Kings of the Beach iniciaram a celebração da segunda noite; o público, ainda morno, foi chamado à atenção por estar muito parado – e mais do que um único aviso não foi necessário. Os moshes tomaram conta do Café Avenida e a energia contagiou todo o espaço, com a própria banda a participar no crowdsurf e a salientar que não queriam terminar o concerto; com toda a honestidade, nem nós queríamos que o concerto chegasse ao fim.
Com a alma a nu, as palavras eram escassas para descrever o ambiente que ali se vivia; até que chega o momento de se testemunhar o concerto dos portuenses Fugly. Uma apoteose do público que entoava os temas da banda e incendiava o espaço com crowdsurf e moshes de fazer tremer o Café Avenida. A banda que agora se encontra por palcos europeus salientou que não havia melhor forma de se despedirem de Portugal do que na miscelânea de euforia e energia do público de Fafe. No final, Rafael Silver, o baixista de Fugly confessou-nos que aquele foi mesmo o melhor concerto da banda até à data.
Testemunhar um público assim toca não só quem está em palco mas também quem está do lado de cá, e se senta a uma secretária, ainda em rescaldo, a pintar o retrato da noite que ali presenciou. Aquele foi o concerto que pessoalmente mais me tocou, com um público que recebe os artistas em casa como ninguém, respirando música a cada segundo e transpirando amor à camisola que ali envergam. A Malfeito assume-se como muito mais do que um grupo de pessoas que organizam eventos; é uma cidade; as pessoas que fazem esta cidade, e que nestes eventos transbordam sentimentos pela música. Só quem por lá passa consegue entender porque as palavras são escassas para os descreverem. Se são as pessoas que fazem a música, então Fafe é certamente o epicentro do que de melhor se faz pela música. A noite e as festividades encerrariam na pista de dança com DJ SET de Paulinho e Nuno Biónico.
Contam-se pelos dedos os locais onde nos sentimos tão em casa como na Malfeito. Contribuem para isto as amenas cavaqueiras com as pessoas que por ali vamos encontrando e connosco partilham o amor à música, o aconchego com que somos recebidos e os concertos memoráveis que ali testemunhamos.
Fotografias de Mariana Silva