‘Master of None’, a celebração da criatividade

por João Estróia Vieira,    16 Junho, 2017
‘Master of None’, a celebração da criatividade
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Criada pelo actor e comediante indo-americano Aziz Ansari e Alan Yang (argumentista de Parks & Recreation), Master of None surpreendeu os mais cépticos com a sua primeira temporada, conteúdo exclusivo da Netflix. De volta para uma segunda, as bases em que assenta, as relações nos dias de hoje (sejam elas familiares, amigáveis ou amorosas), mantêm-se, nesta série com conteúdos inspirados no livro de AzizModern Romance, e dos seus espectáculos de stand-up.

Nesta segunda temporada de Master of None, repleta de referências culturais italianas, as gargalhadas que se fizeram sentir na primeira season dão agora lugar aos sorrisos. A série ganhou uma nova forma de estar, mais sóbria e adulta, mas continuando a usar as audazes desconstruções humorísticas como forma para abordar temas fracturantes como a religião e a sexualidade. Estes temas são maioritariamente trazidos até nós por episódios “individuais”, colocados entre a narrativa principal desta nova temporada. Como exemplos desses episódios temos Religion, onde Dev (Aziz Ansari) tenta contar aos seus pais que come carne de porco, ou Thanksgiving, um episódio focado na descoberta sexual de Denise (Lena Waithe) e onde a mesma começa a levar, ao longo dos anos, diferentes namoradas para passarem o “Dia de Acção de Graças” junto da sua família.

Dentro da sua singularidade, os episódios da primeira temporada, por mais inventivos que fossem – e foram, de facto – seguiam uma narrativa bastante rectilínea. Tal já não acontece. Por mais que a fórmula usada tenha surpreendido e funcionado, sentia-se que havia um passo em frente a poder ser efectivamente dado. Pedia-se um leap of faith numa série com tanto potencial. Esse salto foi agora dado e a demonstração disso começa logo no primeiro episódio, que tendo como narrativa principal o facto de Dev estar em Itália, a aprender a fazer pasta rodeado de novas personagens, é também uma brilhante e ousada homenagem a Bicycle Thieves, obra intemporal de Vittorio De Sica. O toque actual não podia faltar a esta homenagem, e em vez da bicicleta roubada temos agora um iphone com todos os contactos de Dev.

De resto, essa actualidade é o ponto de ordem de uma série que permanece fiel a uma forma de estar que nos foi demonstrada na primeira temporada. O uso das conversas de smartphone como forma inteligente de storytelling, as apps de encontros, onde se destaca o episódio First Date, onde Dev tem uma série de encontros com diferentes mulheres.

A busca de Dev pelo par romântico é novamente o pano de fundo e fio condutor de toda a história. Se na primeira temporada tivemos Rachel (Noel Wells), desta vez a “escolhida” é a lindíssima Francesca (Alessandra Mastronardi) que tem com Dev momentos absolutamente poéticos e repletos de sintonia. Com ela forma um par romântico proibido, a fazer lembrar alguns dos mais icónicos filmes românticos italianos como L’Avventura, de Michelangelo Antonioni, um filme que é de resto objecto de visionamento pelos dois num dos últimos episódios da temporada.

Master of None volta a trazer nesta temporada a frescura e leveza de espírito que nos conquistou na primeira. Dando-lhe uma abundância renovada de novos temas e personagens (como Chef Jeff, interpretado por Bobby Cannavale) que se juntam a Denise e ao fiel amigo de Dev, Arnold, interpretado por Eric Wareheim, Master of None volta a mostrar porque é das melhores séries da actualidade. Escrita com uma fluidez sem par, os seus temas conquistam-nos de forma absolutamente natural enquanto abre no seu horizonte um mar de possíveis abordagens criativas que nos deixam a ansiar por novos episódios.

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