Michael Sandel, autor de “A Tirania do Mérito”, vem a Portugal falar da necessidade de reparar o elevador social
A entrada será gratuita, mas sujeita a inscrição e à disponibilidade de sala.
As instituições das democracias ocidentais vocacionadas para promover a ascensão social, como as universidades, estão, afinal, a reproduzir as desigualdades com que as pessoas se deparam no início das suas vidas pela família em que nascem. O autor de “A Tirania do Mérito” vem a Lisboa refletir sobre este tema, sobre a dignidade do trabalho e o significado do sucesso, numa conferência organizada pelo Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal (IDEFF).
O filósofo norte-americano Michael J. Sandel, autor do best-seller “A Tirania do Mérito – O Que Aconteceu ao Bem Comum?”, irá fazer uma conferência em Portugal, no próximo dia 27 de abril, a convite do Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal – IDEFF da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. A conferência irá realizar-se na Fundação Calouste Gulbenkian e contará – para comentar a intervenção de Michael J. Sandel e dialogar com ele – com três portugueses: o cientista e deputado Alexandre Quintanilha; a pedagoga Maria Emília Brederode Santos; e o filósofo José Barata-Moura.
“Convidámos Michael Sandel para fazer esta conferência em Portugal por considerarmos da maior importância, no mundo em que vivemos, questionar se os critérios de mérito estão a eliminar barreiras associadas à negação de oportunidades aos mais desfavorecidos, como era suposto – ou se, pelo contrário, esses critérios de mérito são eles próprios um obstáculo à formação de sociedades decentes”, afirma Eduardo Paz Ferreira, presidente do IDEFF, professor decano do grupo de ciências jurídico-económicas da Faculdade de Direito e organizador desta conferência. Para além da Fundação Calouste Gulbenkian, também o Banco de Portugal apoia a sua realização.
Há no pensamento de Michael J. Sandel um desafio que motivou particularmente o IDEFF quando lhe dirigiu o convite para vir a Portugal. “Precisamos de repensar três aspetos da nossa vida cívica: o papel da universidade, a dignidade do trabalho e o significado do sucesso”, afirma o pensador americano, que é professor em Harvard, a mais elitista universidade dos Estados Unidos. Segundo Sandel, “devíamos começar por repensar o papel das universidades enquanto árbitros da oportunidade”, uma vez que se constata que a frequência de cursos universitários não constitui uma garantia de sucesso na nova economia. “Nem todos têm as mesmas oportunidades para subir”, sublinha Michael Sandel. “Os filhos de famílias pobres costumam manter-se pobres ao crescer, os pais abastados conseguem passar as suas vantagens aos filhos”, acrescenta.
O presidente do IDEFF concorda: “É fundamental, na América e em Portugal, perceber o que é que está a impedir as universidades de, em vez de funcionarem como elevador social, acabarem por reproduzir as desigualdades de partida dos alunos que as frequentam”, afirma Eduardo Paz Ferreira. “A seletividade no acesso aos cursos superiores de maior prestígio é um problema global, os académicos chamam-lhe “maximally mantained inequality” (desigualdade máxima mantida). Isto é: os estudantes dos níveis mais favorecidos estão mais bem colocados para tirar proveito das vantagens oferecidas pela expansão dos sistemas de ensino”.
No dia 27 de abril, às 18:00, no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, terá lugar a conferência “A Tirania do Mérito” por Michael J. Sandel, organizada pelo Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal – IDEFF da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. A entrada será gratuita, mas sujeita a inscrição e à disponibilidade de sala.
O IDEFF apresenta esta conferência como sendo mais um elemento do seu programa de ação, “trazendo para o debate público as grandes questões da atualidade, favorecendo a divulgação do pensamento científico e contribuindo, assim, para a formação de uma opinião mais robusta e esclarecida”. Quanto a Michael J. Sandel, autor de obras de referência como “Justiça – Fazemos o Que Devemos?”, ou “O Que o Dinheiro não Pode Comprar” ou “A Tirania do Mérito”, entre outras, o IDEFF apresenta-o como sendo “um dos mais distintos filósofos da nossa era, um pensador iluminado, dotado de radical originalidade e competência, que aborda em linguagem simples e através de exemplos do dia a dia os grandes dilemas da contemporaneidade”.
O presidente do IDEFF sublinha que, nos últimos anos, se têm sucedido nos meios intelectuais de todo o mundo reações aos valores meritocráticos. “A convicção de que o recurso a critérios de mérito eliminaria barreiras associadas à negação de oportunidades aos mais desfavorecidos, aparecendo, assim, como uma forma de reparar essa situação, não tem sido infelizmente confirmada pelos factos”, afirma Eduardo Paz Ferreira. “Pelo contrário, verificamos que em sociedades com elevados níveis de desigualdade o esforço e o talento de cada um não são suficientes para melhorar as suas condições de vida. É sobre essa realidade que temos de refletir – e tentar mudá-la!”.
