NOS Primavera Sound: As memórias que ficam
Passado mais de uma semana da quinta edição do festival NOS Primavera Sound, regressa à memória aqueles momentos musicais que nos ficam guardados como um segredo clandestino. A cidade do Porto acolheu pela 5ª vez este festival que celebra a música e a diversidade e que se popularizou em Barcelona realizando-se desde 2001 na cidade espanhola. Tanto em Barcelona como no Porto, o festival realiza-se em três dias consecutivos e garante ser uma rampa de lançamento para algumas das novas tendências musicais.
É um festival que nos habituou a uma variedade musical incrível e as pessoas, por isso mesmo, aderem, procurando cada vez mais este tipo de pluralidade e satisfação musical. Prova disso foi, pela primeira vez em Portugal, o festival citadino ter esgotado os seus passes gerais.
Era esperada sala cheia no primeiro dia de festival, com várias bandas de arregalar os olhos, começando desde logo pelos portugueses Sensible Soccers. A banda portuguesa fez as honras de abertura desta 5º edição do festival. Um concerto intimista, cheio de sonoridades que nos fazem viajar para um “além” e que nos deixam num espaço fictício. A banda lançou este ano o albúm Villa Soledade, e algumas das suas músicas puderam ser ouvidas neste concerto.
Mais tarde com U.S.girls, que nos fizeram chegar o albúm Half free no palco NOS. A música parece ser uma mistura entre pop e electrónica. Com alguns sintetizadores à mistura conquistaram algum público que dançava de forma animada ao som das suas músicas, enquanto a outra metade do público debatia-se pela estranheza de Meg Remy que cantava energeticamente pelo palco fora.
Enquanto isso, no palco Super Bock, a banda norte-americana Wild Nothing a começarem o seu concerto. Uma musicalidade que faz lembrar um pouco os anos 80, e com algumas influências inglesas nas mangas, trazem-no o albúm Nocturn. Concerto bastante melodioso, tudo parecia estar bem harmonizado, levaram o público num roteiro entre o indie, dream pop, entusiasmo e as coroas de flores.
A chuva não desanimou o público nem o espírito do festival e o dia continuou, agora com o concerto no palco Nos dos DeerHunter que nos trouxeram o álbum do ano passado, Fadding Frontier. A banda liderada pelo singular Bradford Cox, deu um concerto emocionante, e manteve uma presença característica da mesma, quase mutante e que não desiludiu.
Julia Holter começou o seu concerto às 21:10 no palco Super Bock e era uma das artistas mais esperadas da noite. Presenteou-nos com uma musicalidade mais intensa e envolvente, apresentando algumas das músicas do tão falado albúm de 2015, Have you in my Wilderness. A sua música não encaixa em nenhum género específico. Julia fica-se pelo próprio género pessoal, uma espécie de híbrido entre experimental pop, jazz electrónico. Algum público encontrava-se receptivo à sua música, enquanto algumas pessoas só se ficavam pela sensação de estranheza.
O público já muito aguardava pelo grupo islandês, Singur Rós, que actuava no palco Nos às 22h do primeiro dia do festival . Grupo formado por Jónsi (na guitarra e voz), Goggi (no Baixo) e Orri (na bateria). Uma das coisas que mais se destacou neste concerto foram os elementos cénicos que flutuavam no palco. As cores azuis, as grades e os efeitos reflectidos, as ondulações; parecia que estávamos no meio de algo irreal, no meio de um céu estrelado. Já habituados à sua voz angelical, o concerto pareceu que deixara o público dentro de uma aurora burial com som profundo, relaxado e cândido.
Parquet Courts chegam, numa quinta-feira chuvosa, de forma energética que contagiou o público até ao mais alto nível. O albúm Human Performance mantém o nível, o concerto foi contagiante e o presságio para o resto de uma excelente noite.
Chegou também ao palco Nos os lendários Animal Collective, também esta uma das bandas mais esperadas da noite com o disco Painting With. Apresentam um cenário bastante colorido e bastante jovial. A sua sonoridade parece algo vindo do futuro, com ritmos e vozes inesperadas. Um concerto bastante vibrante, marcante e onde todo o palco parecia vindo de um jogo electrónico fenomenal, onde tudo fazia sentido: o público, a música e o cenário.
Floating Points podiam passar despercebidos para os mais distraídos, mas às 22h começou este grande concerto no antigo palco ATP. Sam Shepherd constrói com a sua música uma espécie de cenário utópico com autênticas paisagens idílicas onde a electrónica preenche todos os canais da emoção. Elaenia, um dos melhores albúm do ano passado, foi ouvido com toda atenção e não deixou as expectativas defraudadas. Um concerto muito emocionante com tudo sincronizado e com um espectáculo visual de luzes que também trazem à música uma outra perspectiva onde tudo era azul, as sombras ganhavam vida e a música alastrava-se a cada ouvido.
À meia noite entraram os Kiasmos no palco Super Bock. Começaram com bastantes problemas técnicos, com dois falsos arranques, mas à terceira foi de vez e foi assim que começou um dos concertos mais esperados. A dupla é formada por Ólafur Arnalds e Janus Rasmussen ambos vindos das Ilhas Faroé. Ólafur é compositor , e Janus é dj e produtor de música. Este foi um dos concertos que mais agitou e movimentou o público que dançava com todas as forças com o maravilhoso som minimal, electrónico, experimental e também ele visual. Levaram o público ao rubro, que antes disso tinha esperado imóvel até que as falhas técnicas fossem ultrapassadas. O grupo agradeceu esta espera e sentiu toda a energia e satisfação vinda do outro lado do palco.
Beach House arrancaram no palco principal focando-se em discos como Thank Your Lucky Stars e Depression Cherry . Um concerto que veio trazer a calma e a paz ao público e que trouxe a emoção de volta aos palcos. Victoria Legrand agradeceu no final pelo sentimento de amor e sensibilidade que sentiu vindo do público. Um público sensível e receptivo que ouviu Days of Candy, a música que encerrou o palco principal por aquela noite. Foi um grande final de noite; nada melhor para fechar assim os concertos do palco principal.
Os lendários Tortoise encontravam-se a actuar no antigo palco ATP, os fãs cada vez mais se acumulavam e acumulavam. A banda pós-punk começa o concerto com uma acumulação de instrumentos no palco, e, tal como a própria banda, as suas músicas são bastante peculiares e altamente reconhecíveis. Apresentam grandes habilidades musicais, experientes em sobreposições de sons e sonoridades, que tornam o concerto em algo bastante curioso para o ouvido. Ouviu-se algumas músicas reconhecíveis como o Shake Hands With Danger, uma das músicas mais aguardadas pelo público que se emocionava por ver os veteranos a tocá-la de forma tão impetuosa.
Entretanto no Palco Pitchfork o concerto de Holly Herndon começou e a compositora electrónica trouxe Colin Self, um artista vocal, e também ele parceiro musical que se auxiliam mutuamente nas partes vocais ao longo da noite. O concerto arrancou com um cenário visual ao estilo de video art feito no próprio momento do concerto, elaborado por um terceiro elemento. A parte visual encaixava a 100% na criatividade da banda e as vozes electrónicas, as batidas intensas e o simples sorriso de Holly, faziam a satisfação da noite. Foi um concerto experimental, refrescante, que levou o público a ganhar um novo ouvido, fora de convenções ou referências. O ambiente era de alegria e jovialidade com a banda mais sui generis da noite, que não deixou desiludido o seu público dançante.
Fotografia de: Sara Camilo