O absurdo de certas perguntas
Já toda a gente assistiu ao caso do sujeito que pergunta a um outro se está acordado e este responde-lhe que não, que estava apenas a dormir, até o outro lhe ter perguntado.
Esta interacção assenta em duas premissas que deviam ser previamente clarificadas: 1. se o sujeito que pergunta está consciente do absurdo da sua pergunta; 2. se quem lhe responde sabe do estado mental de quem a faz. Destas duas dúvidas, podem-se, depois, construir vários mal-entendidos (propositados ou não).
Este assunto seria pacífico, se não fosse tão comum e não provocasse tanta irritação em quem nele se vê envolvido. Normalmente, porque os protagonistas ficam genuinamente indignados com a indignação de ambos.
Raras são as vezes em que ficam bem-humorados com a troca de palavras entre eles, porque quase nunca quem pergunta ou quem responde pensa verdadeiramente no que vai dizer.
Há, nestes casos, uma fronteira ténue que separa aquele que age de acordo com o senso-comum (o que pergunta), daquele que age de acordo com a lógica (o que responde). Nem tudo o que é do senso-comum obedece a uma lógica e nem tudo o que é lógico faz parte do senso-comum, pelo que os dois indivíduos acabam, normalmente, por se incompatibilizar.
Por isso, o que falta em lógica a quem pergunta, sobra a quem responde; quem responde, não raras vezes, é intolerante para com quem faz a pergunta. Donde se conclui que não basta que algo faça sentido. É preciso que algo que faça sentido seja entendido.
De outra forma, estaria tão só no mundo aquele que fora acordado se pensasse que o facto de estar deitado na cama significava, por si só, que estava a dormir, como aquele que o acordou incorresse no absurdo de pensar que alguém pode responder não estando vígil.