O Bom, o Mau e o Azevedo: o faroeste chegou
A 17.ª edição do Temps d’Images ocorreu de 1 de Novembro a 1 de Dezembro, dividindo-se em vários espaços da cidade de Lisboa numa transversalidade de temas e registos. Com uma vertente bastante visual, como aliás o próprio nome indica, a edição deste ano chegou ontem ao fim com o concerto-filme do colectivo portuense O Bom, o Mau e o Azevedo.
Com um álbum homónimo lançado na Primavera deste ano, O Bom, o Mau e o Azevedo são compostos por Martelo no baixo, Kinörm na bateria, Varejão na guitarra eléctrica e o tal Azevedo na guitarra eléctrica também. Foi o Azevedo que gravou e misturou o disco de estreia da banda entre 2017 e 2018 e foi também ele quem começou por criar um “conjunto de faixas de música “tipo Tarantino, western, guitarrada, instrumental” para a banda sonora de um videojogo que acabou por nunca ser lançado”, quando vivia na Holanda. Quando voltou para Portugal, mostrou o seu imaginário westerniano a Kinörm (Ornatos Violeta), que disse que esse mesmo imaginário sonoro teria de ser gravado e assim nasceu uma banda.
Foi no meio deste imaginário, coadjuvado por imagens que iam sendo transmitidas, que o colectivo se apresentou ontem no Musicbox. A ingratidão de um concerto num domingo à noite é mais que muita, as ruas estão desertas e nem sequer há vendedores de louro prensado na Praça de S. Paulo, mas uma sala meio cheia não intimidou sobremodo a banda. De facto, todo o imaginário de um western malandro e – sejamos sinceros – o talento enorme visível e quase palpável daqueles 4 músicos encheram a sala do Musicbox.
A viagem, proporcionada pela perfeita simbiose entre imagem e som, transportou-nos para o faroeste, para o Bonanza, para Johnny Cash, para Ennio Morricone, e estávamos quase todos à espera de ver Clint Eastwood entrar pelo Musicbox adentro – tudo isto com a ausência de substâncias pelo motivo acima referido. Todo o álbum foi apresentado, mais um tema no final que aparentemente não é do colectivo, evidenciando a solidez do álbum. A constância é, aliás, notória. Não existiu um momento em que tenhamos tido uma enorme alteração de cadência até aos momentos finais, sem que isso se tenha tornado alguma vez monótono.
Por todos estes motivos, foi um grande concerto que soube a pouco (estamos cientes do quase oxímoro). Esperamos que o filme passe a ser parte integrante dos concertos e que, mais importante ainda, que projectos deste nível tenham palcos em horário nobre, divulgação em canais de destaque e público que se dê ao trabalho de conhecer, porque é só mesmo isso que falta.