O circo contemporâneo pronto e metido num camião? Em Ílhavo, sim. E no porão de um navio também
Falta uma semana para o LEME, o festival de circo contemporâneo em espaços não convencionais, em Ílhavo. A ideia (uma das) é mostrar que nem o circo contemporâneo tem palcos próprios ou ideais, nem os lugares têm uma função estanque: há espetáculos num navio-museu, em garagens de aluguer automóvel ou no meio das bancas dos mercados municipais. Ali caberá circo, música, teatro, dança, performance e tudo envolvido em cordas, instrumentos, figurinos excêntricos, varas ou salto alto.
O espetáculo “Pakman”, por exemplo, acontece dentro de um camião, num duelo entre o ritmo dos malabares e a bateria histérica de Frederik Meulyzer. Lá dentro só cabem 25 pessoas de cada vez e a pressa toda dos nossos tempos. Está tudo bem: o camião pára seis vezes.
Em “Driften”, o circo transforma-se numa espécie de banquete dos revoltados. Entre solidão e união, seis personagens moldadas pelo peso das pressões sociais, que fizeram delas o que não têm consciência de ser, reúnem-se na noite do equinócio de outono.
Em “Ser-ses”, Frederico Silva samba na cara de uma sociedade retrógrada, diz, e fá-lo de salto alto no largo da Igreja da Gafanha da Nazaré (e não só). “Amigoo” conta a história de um casal, através da acrobacia, da dança e da poesia e “Chama do mar” embrulha Ana Jordão na sua nova criação, em cordas, pendurada no porão do Navio-Museu Santo André, na Gafanha da Nazaré, e na música dos ilhavenses Vanessa Oliveira e André Imaginário, que criaram uma banda sonora para o espetáculo. Resumindo: o festival, organizado pelo 23 Milhas, projeto cultural do Município de Ílhavo, em conjunto com a Bússola, acumula seis espetáculos internacionais em estreia nacional, vários espetáculos itinerantes, uma criação em estreia absoluta e muitos momentos de conversa e formação para pensar, em conjunto e em profundidade, o circo contemporâneo em Portugal.
As formações, em manipulação de objetos e movimento contemporâneo para o circo, outra em inovação cenográfica para o circo, ainda têm inscrições abertas.
O LEME conta ainda com um posto de encontro: há um bar, uma festa, uma zona para descontrair e ambiente propício ao networking. Há autocarros gratuitos entre a estação de comboios de Aveiro e os lugares dos espetáculos. Das quase duas dezenas de espetáculos, cinco são pagos – existe um passe geral – e o restante programa é gratuito. O programa completo do LEME está no site ou nas redes sociais do projeto 23 Milhas ou do festival. Os bilhetes já estão à venda nos espaços culturais do 23 Milhas ou aqui.