O dinamismo musical de Esfera no seu EP ‘Plano’
Nasceram como Emma, mas razões externas levaram à alteração do nome para Esfera, o que, do ponto de vista metafórico, encaixa melhor no conceito da banda, com claras influências do mundo do rock progressivo dos anos 60/70. A grande diferença nesta mudança é também a língua, que salta então do inglês para o português; o seu primeiro álbum, All the Colours of Madness, é cantado em inglês, mas este novo EP inicia uma nova aventura pela língua materna.
Na música portuguesa existem poucos vocalistas que conseguem ter uma dinâmica vocal idêntica quando cantam em inglês e português, mas Nuno Aleluia contraria essa tendência e aplica uma qualidade exímia em ambas as línguas. A sua jovem voz, ainda algo teen e irreverente, é perfeita para rasgar o rock progressivo feito com a ajuda dos seus instrumentos.
Um dos pontos fortes deste EP são as suas letras, dotadas de uma complexidade fora do vulgar, tanto do ponto de vista lírico, como no significado de cada frase. Estamos perante poesia em versão rock, com um instrumental coeso – por vezes extremamente aguçado, outras vezes simplista, mas com grande qualidade. Diogo Marrafa, Vasco Rydin, Bernardo Pereira e Pedro Dinis são músicos que fazem (ou fizeram) parte de vários projectos musicais, alguns com grande experiência ao vivo e também em estúdio, o que, combinado com o seu conhecimento e talento musical, cria um ambiente incomum no rock português. O som dos Esfera é espacial, mas sem ser demasiado sonhador; é psicadélico sem ser demasiado alucinante. É esta mutação e maturação que oferece uma qualidade invulgar às três músicas que compõem Plano.
“Outro Corpo” é provavelmente a música mais complexa, mas também a que mais fica no ouvido. Embora todas elas possam ser rotuladas de single, esta primeira faixa é a mais fácil de “vender”. “Outro Lugar”, embora seja uma boa camção, vive demasiado das suas letras, não dando grande espaço ao instrumental para brilhar. Do ponto de vista da composição das suas letras está excelente, mas a combinação com os instrumentos não se faz da forma tão natural. “Outro Eu” convida-nos a uma viagem pelo mundo psicadélico, com um final apocalíptico em direcção ao “fim”, um pouco ao estilo de “Black”, do anterior álbum da banda.
Esta transformação dos Esfera só poderá ser positiva e abrir ainda mais portas num mercado nacional em grande expansão. A música portuguesa vive um excelente momento e é com bandas do nível de Esfera que irá continuar a brilhar. Plano encontra-se para audição/download no Spotify e Bandcamp, mas o EP será sempre uma melhor experiência ao vivo. É de referir o contributo de Zé Miguel Zambujo (Loosense) no saxofone e que o EP foi gravado e misturado pelo Francisco Caetano (Ash is a Robot).