O Festival Street Art de Viseu, a cidade como museu de todos
Desde 2015 que Viseu organiza um festival de street art, usualmente durante o mês de Maio. Em 2021 devido à covid19, o mesmo teve lugar entre 28 de Junho e 4 de Julho. Este festival, em conjunto com outros eventos do “Tons da Primavera”, visam celebrar a região em todo o seu esplendor, orientando um cartaz diversificado a diferentes faixas etárias. Um dos conjuntos mais celebrados são a vindimas e os vinhos do Dão, uma das mais importantes riquezas da zona.
O festival de arte urbana procura refletir as características que mais identificam a região: um lugar onde se confundem cidade e jardim, os vinhos e a “cidade de Viriato”, ele que foi eleito chefe dos Lusitanos e que muito fez para combater a invasão romana do século II a.c. Embora não se possa identificar o seu lugar de nascimento, a fortificação da “Cava de Viriato” em Viseu, levou ao nascimento da sua ligação com a cidade. Este líder guerreiro conta com uma bela estátua em seu nome, um dos ex-libris da cidade.
Viriato sabemos que se chama,
Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto VIII
Destro na lança mais que no cajado;
Injuriada tem de Roma a fama,
Vencedor invencível, afamado.
O festival de street art transforma Viseu numa tela aberta para artistas convidados pintarem as paredes da cidade, com as quais todos nós nos podemos cruzar. O museu é a cidade, as obras estão nas paredes que todos vemos. As obras também se estendem a algumas freguesias. A cada edição, isto é, a cada ano, é feita uma nova ronda de pinturas. O festival nascido em 2015 já deixou obras que fazem parte daquilo que é a cidade. Um exemplo é a obra de 2015 de Federico Campos, mais conhecido por DRAW, na rua Augusto Hilário, muito perto da Sé de Viseu, o centro histórico da cidade. Nesta vemos uma rapariga de olhos bastante expressivos, na qual os seus cabelos se confundem com os ramos e folhas de uma videira, enquanto segura na mão um cacho de uvas. Podemos ver mais detalhes neste link. Ao longos dos anos, vários foram os artistas, nacionais e internacionais, que deram a sua contribuição, entre eles Bordalo II, Ana Seixas, Mosaik, Nuno Rodrigues, Hazul, Lula Goce, Miquel Wert, Regg, Tutu Sousa, entre outros. Podemos ver aqui o roteiro deste festival.
Ao virar da esquina, é normal encontrar uma pintura. Fruto de uma pandemia mundial, temos passado mais tempo em casa do que é normal, mas todos sentimos que o aspeto de uma cidade, as paredes com as quais todos nos cruzamos semanalmente são a casa que todos habitamos numa cidade. A maioria destas obras são graffitis, uma forma de arte que quando organizada e feita em prol da beleza comum torna prédios aparentemente banais no centro da atenção. Os desenhos devem de alguma forma estar ligados a um dos três pilares do festival (cidade-jardim, cidade vinhateira, cidade de viriato), mas acabam por ir mais longe do que isso. O objetivo último do artista é mostrar a sociedade ao espelho, é refletir o que somos, traduzir em sentimentos uma linguagem que nos é impossível de descrever, é pôr-nos em contacto com a nossa essência. Estas obras nas paredes da cidade, nas paredes de todos nós, são acima de tudo enormes espelhos que nos mostram a nós mesmos, que nos dão beleza interior, são expressões que nos questionam muitas vezes.