“O Filme do Bruno Aleixo”: humor e chico-espertismo
Bruno Aleixo tem mais de dez anos de existência. Começou com sketches online de menos de um minuto, entretanto esteve na rádio e na televisão. Agora, chegou ao cinema.
Os criadores da personagem e do seu universo, João Moreira e Pedro Santo, assinam O Filme do Bruno Aleixo. Levar uma personagem de sketches curtos para o grande ecrã é sempre complicado, mas os fãs podem ficar descansados pois o filme supera o desafio.
Um filme sobre filmes
O humor de Bruno Aleixo e companhia sempre residiu em colocar estas personagens com personalidades muito características perante elementos convencionais e ver a sua desconstrução subversiva. Para não fugir à essência, a narrativa do filme arranja a desculpa perfeita: Bruno Aleixo, Busto, Homem do Bussaco e Renato estão sentados numa esplanada de café a discutir ideias para a longa-metragem. O que se segue é uma viagem pelos géneros mais comum do cinema, desde o thriller policial, passando pelo terror e indo até à pornografia. E até há um gozo subtil a super-heróis. Nada escapa à trupe.
As comédias portuguesas costumam cair em clichés e tipos de humor muito arcaicos e repetitivos. O Filme do Bruno Aleixo evita ser mais um desses filmes que, segundo Busto durante a conversa, “só têm atores a fazer caretas parvas no cartaz”. Pelo contrário, cada género de cinema tem direito a diferentes tipos de humor, como o absurdo ou o chocante. Quando uma piada está a ficar esgotada, as personagens introduzem uma nova reviravolta hilariante.
É pela qualidade da escrita que Bruno Aleixo se tornou um sucesso e a sua longa-metragem não é diferente. O argumento de João Moreira e Pedro Santo é consistente, criativo e eternamente citável. O chico-espertismo bem à portuguesa de Bruno Aleixo funciona tão bem agora como há mais de dez anos.
O Homem do Bussaco é talvez a outra grande estrela do filme, já que é por ele que passam alguns dos momentos mais engraçados. Busto e Renato, mais jovens e o que equivale a uma maior inocência, equilibram a fórmula que sustenta a hora e meia de conversa. Todos eles representam um pedaço de Portugal que nos continua muito familiar.
Culto instantâneo
Por trás da palhaçada óbvia, há um grande mérito artístico a torná-la real. Fernando Alvim, Adriano Luz, Gonçalo Waddington e Rogério Samora são os destaques de um elenco que se integra perfeitamente no universo de Bruno Aleixo. João Moreira e Pedro Santo fornecem as vozes inconfundíveis às personagens que criaram. A equipa de animadores e dobradores mostram que em Portugal há muita qualidade nas áreas mais técnicas do Cinema.
Desde vídeos de baixo-orçamento de um Ewok a dar conselhos até um fenómeno de culto que até já chegou ao Brasil, Bruno Aleixo tem um legado que é honrado e elevado neste filme. Quem pouco conhece da personagem não tem de se preocupar, visto a maioria do humor funcionar sem qualquer contexto. Não obstante, há piadas mais ou menos subtis que recompensam os fãs ferrenhos.
O Filme do Bruno Aleixo é das melhores comédias portuguesas modernas. O mundo criado por João Moreira e Pedro Santo atinge, até ver, o seu auge com esta longa-metragem hilariante e inesquecível. É um filme de culto instantâneo e as frases do seu argumento serão citadas durante muito tempo. Depois do sucesso do ano passado, o cinema português começa 2020 em grande.
A data de estreia nas salas de cinema está marcada para esta quinta-feira, dia 23 de janeiro.
Este artigo foi escrito por João Malheiro e originalmente publicado em Espalha Factos.