O Matosinhos em Jazz de 2023, onde o jazz é de quem faz dele presente e futuro
O Matosinhos em Jazz foi para a sua quarta edição em tons de verde e com um cartaz repleto de nomes que surgem como revelação para quem está menos por dentro deste género musical. Nós, que só demos de caras com o evento no pós-pandemia, sentimos um amargo de boca a ver o que ficou para trás: apesar da oportunidade que nos surge de ouvir o pianista Mário Laginha agora, ficou, em 2019, o teclista Joe Armon-Jones, um dos membros dos multiétnicos Ezra Collective e da banda da saxofonista Nubya Garcia, ou o guitarrista e compositor Bruno Pernadas por serem acarinhados.
Aliás, mesmo no ano passado, ficou uma ligeira sensação de desapontamento por não termos visto o talento meteórico da emigrante portuguesa Raquel Martins ou a saxofonista Camilla George. Ainda assim, deu para admirar e sentir a música daqueles que consideramos prioritários: o engenho das teclas e das composições de Alfa Mist e de Ashley Henry e companhia. Resguardados pelas árvores e pelo ambiente bucólico que esconde o bulício das ruas a metros de distância, foram momentos musicais que ficaram no ouvido e, em especial, no coração.
Para este ano, quisemos livrar-nos desses arrependimentos e só motivos de força maior nos iam impedir de ir aos que queríamos. O primeiro deles foi mesmo um dos monstros sagrados do jazz português, o viajado e premiado pianista Mário Laginha, como referido. Aqui, e à imagem de grande parte da sua carreira, foi acompanhado pela sua parceira em crime Maria João, uma voz que está longe de ser estranha para quem mais aprecia jazz em português e que tem um currículo rico em diversidade e em qualidade. Foram só os dois aqueles que subiram ao palco e chegaram, porque encheram-no como poucos.
Com a Smooth FM a voltar a servir de aperitivo para a ambientação, o jardim Basílio Teles engalanou-se e cuidou da sua roupagem, agora mais limpa e preservada. A disposição manteve-se, com o rol de cadeiras brancas já todas ocupadas ainda meia hora antes de se iniciar o concerto. Por sua vez, o pavimento ajardinado, já órfão de uma das suas árvores que acolhia bem as costas de quem se sentava no seu sopé, continuou bem preenchido, com as toalhas do costume e o conforto de uma certa ligação à natureza. Com isto, foi-nos desfolhado um repertório que conhece o seu início ainda na década de 1990 em “Danças” (1994), “Fábula” (1996), “Cor” (1998, um dos que preferimos) e “Lobos, Raposas e Coiotes” (1999) e que atingiu o seu expoente com “Chorinho Feliz” (2000, outro dos mais entusiasmantes) e “Undercovers” (2002), para além de “Tralha” (2004), “Chocolate” (2008) e “Iridescente” (2012).
Embora Mário Laginha tenha brilhado a espaços a solo, mal Maria João, nos seus preparos multicoloridos, fazia-se ouvir, roubava o palco. Nem parecia existir trânsito em redor ao jardim e somente a percussão ao piano de Laginha a fazer de fundo para que a cantora abrisse o livro da sua incomum amplitude tonal. De alto a baixo, de falsetto a baixo, de português de Portugal, do Brasil, do inglês e de dialetos moçambicanos — trazidos pelas origens familiares de Maria João —, foi um espetáculo radiante e que mostrou o talento de alguém que, aos 67 anos, merece que lhes dêem mais valor. Embora a ocupação do Jardim Basílio Teles lhe fizesse justiça, com gentes de todas as idades e muitas famílias, fica um sentimento de que talvez fosse justo trocar umas quantas vozes da rádio e da televisão por umas lições de como (en)cantar de tantas formas diferentes.
Maria João tem, de facto, uma voz que não acaba e que se redimensiona constantemente, com muito espaço para a improvisação vocal e até cinética, com tanta gesticulação e dança. Talvez por ser o concerto de abertura teve um pequeno encore, logo com a faixa “Beatriz”, que, entre as histórias caricatas da cantora e de Laginha no Brasil e o elogio dela ao uso do coreto e do jardim para um festival, iluminou ainda mais o soalheiro fim de tarde. De igual modo, saudou com alegria o facto de ter a equipa original reunida consigo e com o pianista, depois de alguns anos sem ter a possibilidade de os ter juntos num espetáculo.
Yazmin Lacey foi o nome seguinte, precisamente uma semana depois. De EP em EP, de “Black Moon” (2017) a “When the Sun Dips 90 Degress” (2018), até chegar a “Morning Matters” (2020), a cantora britânica chegou ao seu primeiro álbum nesse pleno estado, de seu título “Voice Notes” (2023). Para quem não a conhece, falamos de uma daquelas vozes que, nos dias que correm, conseguem revelar a enorme intimidade que existe entre o jazz, com quem aprendeu muito do que sabe sobre música, o soul — “a alma da alma” — e o R&B. Isto sem se esconder de eventuais tentações que a música eletrónica possa suscitar, tornando as suas composições ainda mais diferenciadas. Em entrevista, revelou-nos que “adoro música intemporal e adoro fazer música que desperta a nostalgia, mas sempre com uma sensação de dar algo novo”.
Depois de, no mês de junho, ter estado em Glastonbury, Lacey chegou a um bem (e rejuvenescido) composto recinto de Matosinhos e trouxe-nos sonoridades que nos lembram das suas inspirações, a saber Neneh Cherry, Jill Scott ou Erykah Badu. Todas elas representativas da negritude que a própria Yazmin exalta e saluta e que transpira no jazz, que ela própria considera ser a sua música (“jazz é música negra”). Foram momentos que nos transportaram para o lugar de cura que a cantora encontra no que compõe, no que cria, no que canta. “Para mim, a música começou como um espaço no qual podia tirar as coisas do meu peito, de explorar o que eu sinto e de encontrar sentidos e respostas”, contou-nos. Foi um caminho de partilha entre a voz de Lacey e os seus companheiros, habitués nestas lides do jazz britânico: o baixista Rudi Creswick, a teclista Sarah Tandy e (talvez a estrela da hora) o baterista Sam Jones, que deu show nos solos e que parecia um sósia do conhecido Yussef Dayes.
Percorremos o repertório dos seus EPs, embora o ênfase tenha, como é natural, ficado pelo novo disco, e a impressão que trazemos é de uma figura que enche o palco com a voz e com o carinho que perpassa pela sua presença firme e assertiva, embora um tanto ou quanto tímida. De bebida na mão num copo de cartão durante metade do concerto, a cantora agradeceu a Matosinhos com um “obrigada” e, apesar dos votos do público de mais uma [canção], essa ficou por ser cantada. O intervalo de tempo de uma hora é cumprido à risca por quem vem de fora e só uma química transcendental é que os fixa, sendo que não foi o caso. Por mais que nos lembre de Jorja Smith, Kali Uchis, H.E.R., entre outras, houve muita conversa paralela entre os grupos que estavam dispersos no público e a contemplação ficou só para uns quantos. Para a memória, para além de uma acapella maravilhosa de “Pieces” e das fantásticas “Morning Matters”, “Bad Company” (que abriu logo o alinhamento) e “From a Lover”, ficou esse caminho de exploração, de criação, de arriscar e de (se) desenvolver que pretende continuar a seguir e cá estaremos para a acompanhar no(s) seu(s) caminho(s).
No dia seguinte, o hermético Kamaal Williams, que foi o primeiro nome a ser anunciado para este Matosinhos em Jazz, mereceu ser apresentado dessa maneira. Não há como ocultar o caráter pioneiro do fabuloso álbum “Black Focus”, feito ao lado do baterista Yussef Dayes no duo Yussef Kamaal. Porém, enquanto Dayes seguiu o seu percurso e colaborou, entre outros, com Tom Misch, Kamaal está num caminho distinto e quase a carecer de identificação. Não é bem jazz, nem é bem eletrónica (como confirma ser o seu outro eu, Henry Wu, embora o próprio diga que ambos são o mesmo), mas é algo que faz a ponte entre imensa coisa e sendo, ao fim e ao cabo, uma que não tem nome.
Depois de “Wu Hen”, que foi editado em 2020, chegará “Stings”, um disco que redimensionará (ainda mais) o músico, para além de, entre outros dois, o precoce single “PKKNO”. Este denuncia mais eletrónica e um espaço para a voz de Kamaal surgir e beirar os caminhos do hip hop, do grime e do garage, estes dois últimos claramente urbanos, londrinos, que ressoam no dia-a-dia do artista de Peckham, um dos subúrbios da capital inglesa. No breve diálogo, que tivemos com o músico, à imagem do que conversamos em 2019, mencionou a importância de se manter verdadeiro e ser ele mesmo, tanto na carreira a solo, como no duo Yussef Kamaal. Sobre a fusão de estilos, diz que “é algo tão natural, porque foi onde cresci, a beber de muitas culturas e do que gosto de ouvir. A música é feita de nós para nós e é feita para as pessoas gostarem, com a liberdade que lhe está associada”. É algo que também está subjacente no novo álbum que produziu, no qual diz trazer “beleza e verdade”, assim como flow e ritmo.
Comparando a música à caligrafia, que é algo que tanto aprecia e apresenta no seu álbum, fala dela como movimento, como ritmo, tirando a atenção dos instrumentos. Não obstante, “não me fecho à música, um dia posso vir a ser outra coisa qualquer”. É uma postura de desligamento que mantém quando lhe perguntamos sobre o futuro do jazz no Reino Unido. “Não me interessa de todo, mas há muitos bons artistas a aparecer e que ajudam a fazer o que, para mim, é realmente importante. Ajudar os outros aqueles que sofrem e que se sentem condicionados ou pressionados de alguma forma. No fundo, o que quero com a minha música é acrescentar mais alegria e sentido de unidade”. Eventualmente, acabamos por perceber o que é que ele queria dizer com isto.
Enquanto com Maria João e Mário Laginha e com Yazmin Lacey preferimos um lugar sentado em pleno jardim, pelo seu cariz intimista, optamos por ficar num lugar com maior distância do centro das atenções. Sabíamos que era previsto encher e assim foi. No lugar em que estávamos, entre as conversas de bancadas e os ladrares dos amigos caninos, caía-nos o Sol pelo semblante abaixo e não poderia ter sabido melhor. Isto porque o concerto foi tecnicamente irrepreensível, ao nível (ou quiçá melhor) do de Alfa Mist no ano anterior. Todos trouxeram o seu melhor para o coreto e abriram um repertório que confirma o tal redimensionamento de Kamaal, numa toada cada vez mais jazztronica (o híbrido de jazz e de eletrónica) como o concerto demonstrou. Entre outros, Kamaal trouxe consigo o seu sintetizador Juno-62 e Quinn Mason no saxofone, Peezy na bateria e Javi(er) Santiago no piano.
Fortemente aclamado e muito pontual, o londrino foi ovacionado por diversas ocasiões — no final, teve direito a aplauso de pé — e o mesmo correspondeu, agradecendo a grande moldura humana e o entusiasmo demonstrado por ela. Tivemos visitas a “Wu Hen”, a “The Return” (álbum lançado em 2018) e até a “Everything in Its Right Place”, dos Radiohead, mas o que realmente levou o público a um misto de surpresa e de excitação foi quando Kamaal anunciou que iria espetar os “Stings” no coreto e mostrá-los. Apesar de se anteverem vibrações coladas ao jazz, foi súbita a mudança para um lugar onde quem estava de pé beneficiou, porque convidava à dança e à mexida.
O resultado final aparenta ser fabuloso e promete ser um dos álbuns do ano. Para quem não pôde ir e quer apreciar estas fragrâncias antes da data de lançamento do disco, que visite o seu Instagram (que, pelo meio, recorre à mítica corrida de José Mourinho em Old Trafford, no ano de 2004, e fotografias de Ricardo Quaresma — ambos com as cores do FC Porto — para anunciar que vinha a Matosinhos. Uma cidade de Matosinhos que fez questão de acompanhar o concerto com foguetes e, logo após o concerto ter acabado, com fanfarra. Isto porque, a metros do jardim, decorria a procissão do Mártir São Sebastião, que seguia pelas ruas da cidade.
A última das nossas preferências foi a escolha de Amanda Whiting, harpista galesa — e que, como tal, profundamente dedicada ao verde e à Natureza – que já colaborou com músicos com sabor britânico, como o do saxofonista Chip Wickham, que trouxe consigo para o concerto, ou o do criador da Gondwana Orchestra, o compositor e trompetista Matthew Halsall. Whiting traz, para além de uma carreira fértil na música clássica e na formação musical, dois trabalhos em nome próprio: “After Dark” (2021, que ainda traz muito da musicalidade mais erudita) e “Lost in Abstraction” (2022, mais desenvolvida nas texturas de ritmo e de percussão), que mostram as influências que outras harpistas, como Alice Coltrane ou Dorothy Ashby, tiveram na sua música. Influências que percorrem trilhos do mundo, bebendo da espiritualidade do que há para lá dos standards e do que habita na multiculturalidade, algo muito presente em solo britânico.
Tivemos um gosto gigante em conversar com Amanda, que nos contou como tudo começou: “aos seis anos, via na televisão o [comediante estadounidense] Harpo Marx e ficava transfixa a admirá-lo, com diversão mas de forma tão angelical”. A harpa, um instrumento que, conforme a própria refere, remete às origens das civilizações e que vai subsistindo pela tranquilidade, pela transcendência e pelo poder de cura que dão à humanidade. Da “muito estrita” clássica foi, nos seus trintas, para o jazz, numa espécie de crise existencial, em que “as coisas não somavam”. A improvisação e a liberdade a si subjacente foi algo que a assustou — algo que receou quando se juntou à banda de Halsall —, mas o caminho que fez tornou-a ainda mais próxima da música e mais disponível a ensiná-la. Assim, considera que a teoria musical deve ter uma razão pela qual se pretende compreendê-la e de que forma beneficia quem a aprende.
Isto porque, como mencionado, a harpista é muito mais do que uma intérprete: académica, é professora e fá-lo “a pessoas de todo o mundo, dos 7 aos 65 anos, com diferentes objetivos. Pode só mesmo querer fazer sons, mas temos de nos adaptar a todos os níveis, de forma a que possamos encorajar as suas necessidades. Tanto que não preparo as minhas aulas e trabalho com o que me dão. Encontrar a felicidade e o agrado delas é o que mais me importa”. Mesmo que a (sua) harpa seja o núcleo primordial da sua carreira musical, o seu sentimento de humildade remete-se somente a que haja gente que se sinta conectada e realizada a ouvir o que faz, o que compõe, o que cria. Um sentimento de música como rasto de partilha e de um legado que deixa aos seus.
Com verde a rodear o recinto, conforme Amanda dizia, “é outro nível”. Um outro nível que mostrou enquanto apresentava a sua discografia (presente e futura), adicionando vibrações funky — como a harpista gostou de nos sublinhar — a este caminho de transformações. Isto porque foi-nos presentado muito do seu futuro álbum, que chegará na próxima primavera. Como referiu na nossa conversa, “somos pequenos texugos que recolhemos coisas de todo o lado a que vamos e acabamos por ir juntando-as no que fazemos”. Esta foi a experiência sonora que tivemos que mais se aproximou do conhecido jazz espiritual — a saber, o jazz com uma missão transcendente, tanto na forma de composição, como na sua execução —, juntando a harpa de Whiting, a bateria de Jon Reynolds, o baixo de Aidan Thorne e o emblemático sopro de Chip Wickham, que nos surgiu como surpresa em cima do palco (foi o trio de Whiting-Reynolds-Thorne que esteve na base dos dois discos, apesar dos contributos deste na composição).
O concerto estendeu-se por mais que o habitual, em relação aos seus anteriores. Foram mais de 90 minutos de uma sessão que foi, realmente, diferente das demais. Se, com Laginha e Maria João, tivemos um jazz clarinho e abrangente, se, com Lacey, foi mais o soul e o R&B e se, com Kamaal, fomos à eletrónica e à urbanidade, com Whiting, Wickham e companhia foi muito mais o tal espiritual que sobressaiu. Foi, talvez, a primeira vez — pelo menos desde 2019 — que reparamos que, no cardápio, seria servido jazz espiritual e a expectativa foi alguma para ver como caía em Matosinhos. A verdade é que, para além dos constantes e um tanto ou quanto incómodos aplausos entre e antes de findarem as músicas, os espectadores que preencheram o jardim terminaram de pé a aplaudir o quarteto, rendidos e de sorriso no rosto. Até os próprios vendedores de antiguidades e de colecionismo — viemos a saber que se tratava da Feira dos Golfinhos, que decorre a cada quarto domingo de cada mês — acabaram por bater palmas.
Amanda exultou o público, soltou o habitual “obrigado”, falou do vinho e do parceiro do festival — Mateus Rosé, que teve lá a sua barraquinha — e mencionou algo que nos havia falado na entrevista: o concerto estava marcado para o aniversário do seu filho, Jamie, e pediu ao público para que, em português, lhes déssemos os parabéns. Assim foi e, todos juntos, celebramos os oito anos de vida do filho da harpista, que nos revelou muito do que será o seu futuro álbum, cujo lançamento está marcado para a primavera de 2023. Isto para além de ter interpretado grande parte dos seus êxitos discográficos anteriores, que denotam um percurso de encontro e de descoberta pessoal, abrindo caminho para que haja mais risco e ambição no que nos foi apresentado de forma exclusiva. A própria artista referiu que, para além de Dorothy Ashby, também D’Angelo chega como inspiração para faixas com nomes tão aleatórios, como “Japan Arabia”. Talvez quando ouvirmos de futuro os percebamos.
Aquilo que podemos dizer é que, definitivamente, o seu repertório ecoa muito mais ao vivo, com mais pujança e com mais vivacidade nas cordas e na percussão. É justo dizer que a harpa de Amanda anda ali a meio, num misto de progressividade nas cordas, mas também de percussão, a ditar ritmos e a coordenar as ondas sonoras dos instrumentos. Por mais que ela, Reynolds e Thomas se tenham portado bem e cumprido com excelência e de forma exímia, ficamos rendidos à versatilidade e à profundidade musical de Wickham, um verdadeiro mestre no que toca ao sopro, entre o saxofone e a flauta (para quem o quiser aprofundar, escute-se “Blue to Red” (2020, onde esteve com Amanda), “Astral Traveling” e “Cloud 10” (ambos de 2022 e este último também com Amanda ao barulho)). Foi quase como sentir a parceria de Alice Coltrane e de Pharoah Sanders viva de novo, ali, em Matosinhos. No que toca às referências que o jazz espiritual conhece, não há maior elogio que possa ser feito.
O Matosinhos em Jazz de 2023, embora com um cartaz que possa ter ficado aquém na teoria, voltou a mostrar que o jazz está vivo e recomenda-se. Desde o português, contando com vários nomes dessa linha, até ao britânico, nas suas imensas dimensões. O jazz está vivo porque se vai encontrando, no passado e no presente, para que as gerações futuras percebam que há rumo e há caminho. Nomes como Kamaal Williams e Yazmin Lacey confirmam que o jazz também é dos mais jovens e não é um conceito estanque, preso às partituras e às memórias. Disso já havia sido prova, a título de exemplo, Alfa Mist e Ashley Henry na anterior edição.
Não obstante, estivemos mais presentes e com muito mais familiaridade nesta edição e fomos ainda mais felizes. Felizes por confirmar os valores que vão aparecendo e que vamos encontrando por aí, com alguma relutância, mas que, consoante os ouvimos, compreendemos que podem vir a ser parte de nós. Acabamos por o validar num palco que, embora sem mudar muito, continuou a proporcionar as condições (quase) perfeitas para se poder desfrutar do jazz como deve de ser. Com Natureza, com alegria, com à vontade, com conforto. O Matosinhos em Jazz volta a estar aprovado e já temos ansiedade em ver que surpresas nos reservam para o próximo ano. A nossa maior satisfação, porém, é ver que, como este, outros tantos eventos vão surgindo nos quatro cantos do país, prontos a trazer o que há de melhor no mundo e colocá-los em diálogo com quem faz do jazz em português realização presente e futura. O jazz está aí e é de todos nós.