O que parece é
Em Medicina, um dos ensinamentos que os bons alunos por norma interiorizam é que «o que parece é». Esta máxima advém do facto de que mais importante do que saber tratar as doenças raras, é preciso saber tratar as doenças comuns. Por isso, «o que parece é». O que não significa que seja sempre. Mas é quase.
No entanto, a expressão «o que parece é» não se aplica só a Medicina. Por exemplo, nas relações amorosas, um bom amante segue também este princípio: trata a amada como uma pessoa que o ama e não como uma pessoa que parece que o ama.
Contudo, há quem ache que as outras pessoas parece que as amam, mas na verdade, segundo elas, não nutrem assim tantos sentimentos positivos. Por isso, toda a afirmação é postiça e serve para mascarar uma negação.
Estas pessoas vivem em constante contradição com as restantes: se lhes dizem que as apreciam, é porque estão a ser falsas; se as elogiam, é porque estão a ser malévolas; se, no limite, admitem que as amam, deixam de lhes interessar, porque, ao fim e ao cabo, é um erro de avaliação alguém as amar.
Para além de tudo isto, este tipo de pessoas não respeita a expressão médica «o que parece é», deturpando-a, na maioria dos casos, para «o que parece não é». Vivem congeminando grandes enredos, como se fossem uma personagem de algum romance, em que a dissimulação costuma estar presente.
Por fim, frequentemente, por não seguirem esta regra, são injustas para com quem gosta delas e obsessivas para com quem, verdadeiramente, não as aprecia, porque, na verdade, acreditam que o afecto só se demonstra pelo seu contrário.
Imagem do artigo: frame do filme ‘The American Friend’, de Wim Wenders