‘Occult Architecture Vol.1’, dos Moon Duo, é espacialmente maravilhoso
Está um dia nervoso, não chove e nem faz sol. A manhã está carregada de nuvens cinzentas. Transportam a nostalgia dos dias solarengos que passaram. Suportam a ansiedade dos dias brilhantes que estão para vir. Os Moon Duo dão uma mãozinha e acabam de lançar o mais recente trabalho: Occult Architecture Vol. 1. Aí está ele a fumegar, quente e acabado de sair. Estamos prontos para cinquenta minutos de uma viagem radiosa.
Dois anos depois de Shadow of the Sun, a dupla de Portland regressa com o repeat-o rock do costume. Embora exista uma aposta evidente nos ambientes mais espaciais e psicadélicos, a repetição dos riffs continua presente como imagem de marca da banda norte-americana.
O álbum abre com “The Death Set”, apresentam-se melodias pouco habituais em relação às produções anteriores. Se em Mazes de 2011, as teclas acompanhavam metodicamente o ritmo da música, neste Occult Architecture Vol.1, os sintetizadores ganham espaço para respirar, perdem a estridência de outros tempos e prolongam-se por viagens “loopicas” acompanhados pela influência krautrock da guitarra de Ripley Johnson. Depois do frenesim da primeira faixa, “Cold Fear” é refrescante e revigorante. A música assume um compasso mais lento e um apontamento melódico mais simples, sem perder o sentido da viagem que leva os dois membros a partilharem o microfone de forma divinal.
Disparam-se os sintetizadores e entram os ritmos mais acelerados e dançáveis dos Moon Duo. Lembram-se da “When You Cut”? É por esses caminhos que entram faixas como “Creepin’” e “Cross Town Fade”, embora a última adopte um ritmo mais epiléptico que a primeira. “Cult of Moloch” leva-nos de volta ao krautrock, uma influência muito presente ao longo do álbum, provavelmente por parte da produção e mistura ter passado por Berlim e pelas mãos de Jonas Verwijnen. No entanto, apesar da banda se auto-inserir no subgénero repeat-o rock, são inevitáveis e muito audíveis as influências do krautrock. Este é um movimento que tem muita predominância noutras bandas de Portland, como por exemplo, os Eternal Tapestry.
O albúm fecha com uma grande carga de solos avulsos e uma bateria arrítmica. “White Rose” marca o regresso dos teclados saltitantes e do belo cruzamento vocal entre Sanae Yamada e Ripley Johnson. Um registo muito bailado que se movimenta por estradas expansíveis entre belas harmonias e inabaláveis riffs de guitarra rockeiras. Os Moon Duo voltaram mais frescos, apresentam a primeira parte de um projecto arrebatador. Alegrem-se os nossos dias porque se este é o primeiro volume, já esperamos ansiosamente pelo segundo.