‘Ogilala’ é um convite até ao reino íntimo de William Patrick Corgan
Se no álbum de estreia a solo em 2005, Billy Corgan surpreendeu misturando o rock dos Pumpkins com alguma música electrónica, em 2017, agora intitulado de William Patrick Corgan, o multifacetado artista viaja para o universo da folk acústica.
O líder dos The Smashing Pumpkins é, acima de tudo, um grande artista. Músico, poeta, empreendedor e visionário, William Corgan (como gosta de ser conhecidos nos dias de hoje) é um dos artistas de referência no panorama rock mundial. Este álbum trazia consigo muita curiosidade. Após as reviravoltas que Corgan aplicou aos Pumpkins nos últimos anos, muito se especulava sobre o seu novo álbum. Seria um regresso a um estilo de rock mais clássico? Uma evolução do seu primeiro álbum (e algo criticado) “The Future Embrace”? Não, nada disso, “Ogilala” é uma transposição para um estilo que o artista foi explorado aqui e ali, a espaços, mas que agora alarga para álbum. A maior noticia deste álbum é a colaboração entre Corgan e James Iha (ex guitarrista de The Smashing Pumpkins), algo que não acontecia desde 2000 após o fim da icónica banda americana.
“Ogilala” funciona como um todo, uma viagem pelo universo folk da genialidade de Corgan. Infelizmente o álbum peca por ser demasiado uniforme. As músicas colam-se umas às outras, o que por vezes lhes retira alguma identidade. Estamos na faixa 3 ou já passámos para a 5? Esta homogeneidade é por um lado boa, mas por outro torna-se aborrecida. Um dos maiores fortes do álbum são as letras e a forma expressiva como Corgan elabora a sua emblemática voz. A nível instrumental o álbum é, no geral, decepcionante. Corgan não explora vários instrumentos nem caminhos, oferece-nos uma simples viagem através da sua voz e de uma guitarra acústica, algo que é por vezes auxiliado pelo Mellotron e algumas guitarras eléctricas ocasionais, assim como piano. Falta-nos a criatividade e vontade de arriscar habituais em Corgan, mas por outro lado ganhamos bastante com as suas letras e simplicidade.
“The Spaniards”, “Aeronaut” e “Mandarynne” são das melhores músicas do álbum, mas tendo em conta a sua simplicidade e naturalidade, qualquer processo de interpretação e preferência neste álbum será susceptível de gosto pessoal. Todas as músicas combinam entre si, criando um todo interessante, por vezes demasiado igual, mas bonito. “Processional”, a música onde James Iha participa, é uma decepção, talvez por sabermos de antemão que o talentoso guitarrista participa na música, mas a verdade é que a sua influência não é sentida. É o piano que assume a posição mais interessante na composição geral do álbum, com momentos delicados e íntimos como em “Mandarynne”. “Archer” tem alguns toques místicos interessantes, que nos transportam para um outro ambiente, muito graças à forma como a voz de Corgan se mistura nos outros instrumentos. Aliás, este é um álbum para quem adora a voz de Corgan. Não se pode apenas “gostar”, temos que ser fãs para entrarmos dentro do seu universo e capturarmos todas as pequenas referências pessoais nas letras e na sua forma de cantar, mas isso não é difícil.
No final sentimos que William Patrick Corgan está feliz e quer partilhar esse sentimento connosco. Não há momentos de raiva como bem nos habituou, frustração ou tristeza profunda. Há uma simplicidade própria que só Corgan sabe criar. Em “Ogilala” estamos perante várias das suas mais honestas canções e tão bem que soam. É só pena que não exista maior densidade instrumental e diferenciação de música para música, porque facilmente, com os arranjos certos, estaríamos perante um álbum com muito maior qualidade. Assim ficamos com Corgan, a sua voz e belas canções acústicas.