‘One’, de MONDAY: quando o rock nasce da folk
Em Fevereiro passado, MONDAY lançou o seu disco de estreia. O projecto a solo de Cat Falcão – membro do duo Golden Slumbers – mostrando uma transição do som da banda pela qual a artista é conhecida, vestindo roupagens mais próximas do rock. Ainda assim, a semente que plantou este One vem da folk, resultando num híbrido que beneficia o mesmo, dando-lhe o ponto de destaque na paisagem musical contemporânea pejada de discos de autor.
Canções como “Change” e “Yo-yo” – aptamente escolhidas como singles – espelham bem esse lado transicional. Começam por ser dedilhadas na guitarra acústica, que se faz acompanhar de uma voz doce; mas eventualmente surge a formação de banda, empurrando-as em frente até aos refrões de poesia fácil, mas cativante. Em “Change”, há um embalo conseguido pelo ritmo gingão e pelas palavras que parecem saltitar de nenúfar em nenúfar sobre as teclas que suportam o refrão, tornando-a numa das canções mais infecciosas do disco.
Para além das transições, o álbum explora ainda extremos opostos, como o demonstra o par “Learn” e a canção-título. A primeira começa com uma bateria forte e guitarra rasgada, que abrem caminho a uma canção que se sobrepõe a todas as outras pelo seu poderio sonoro. “One”, por outro lado, tem uma percussão muda e guitarra tranquila, com sintetizadores a ditar a base ambiente da música, tornando-se no centro sublime do disco; é daquelas músicas que sabem bem ouvir numa viagem de autocarro ao sabor do lusco-fusco. Outro ponto de destaque é a voz aveludada de Cat Falcão, que sabe bem ouvir ao longo de todo o álbum, mas encontra uma especial simbiose de texturas nesta canção, ao aliar-se ao ritmo quase sussurrado do tambor oco.
Como tenho vindo a descrever indirectamente, uma das coisas mais interessantes deste One é a produção, que esteve a cargo de António Vasconcelos Dias. A conversão dos esquissos folk compostos por Cat para versões mais eléctricas e roqueiras funciona bastante bem, pois as canções acabam por encontrar um meio-termo sónico que surge naturalmente. Não é o típico intimismo folk de quarto, nem – de todo – a amplidão rock de arena. Aproxima-se mais do primeiro, na medida em que soa intimista; mas como um produto cozinhado num estúdio acolhedor, onde foi feito soar mais dinâmico e espaçoso.
No género em que MONDAY se move – a estirpe de singer-songwriter – há que equilibrar todas as componentes da sua criação. Infelizmente, o ponto mais fraco de One reside numa das partes mais cruciais deste estilo musical – as letras. Por mais pessoais que sejam, por mais que venham de um fundo de verdade artística, o uso de palavras e expressões genéricas universalizam demasiado a mensagem, tornando complicada a relação com elas; ou, pelo menos, em decorar as mesmas. Há mensagens a ser transmitidas, mas faltam-lhes detalhes; coisas que tornem a audição mais interessante. Ouvindo na diagonal, ficam as palavras soltas que estamos habituados a ouvir; mas falta-lhes poder para prender a atenção.
One singra mais pela forma como soa do que pelo que diz, quer pela composição, quer pela produção. As intenções são claramente boas, mas falta pujança às mensagens; as mesmas vêm embaladas num belo pacote que acaba por se apresentar com um conteúdo algo desinspirado. Este é um esforço bastante competente e honesto da parte de Cat Falcão, mas no futuro talvez o projecto precise de um pouco mais de risco.