Opinião. As folhas do meu contentamento
O tempo urge e a vontade de definhar ganha força. O futuro desvanece-se, esfumando-se no pó que cobre o solo outrora calcado no presente. E o medo eclode naturalmente. O medo de navegar sobre um mar turvo, pleno em incertezas e demonstrações vãs de sucesso. A fobia de atracar em percursos sinuosos e irregulares e transfigurá-los no mais homogéneo dos trilhos.
A paixão pelo jornalismo germina na transição do décimo primeiro para o décimo segundo ano de escolaridade. A escrita, até aí pouco esquadrinhada, soergue-se no primeiro ano de faculdade e praticada abruptamente nos dias que correm. Vertiginosamente, com o auxílio das aulas lecionadas, deleto a explosão do universo online, cujas plataformas se encarregam de disponibilizar material de leitura veloz e mecânico. O caráter dissidente do meu ego ressentir-se-á porque o futuro é aquilo mesmo, o jornalismo independente, a criação de blogs e de todos os artefactos possíveis e imaginários.
Daqui advém a tal agonia supracitada: a índole na qual estou encarcerado não concebe a digitalização de notícias de jornais e revistas, crónicas, críticas estendidas a todas as formas de Arte, entrevistas e reportagens do interesse pessoal. Quer dizer, face ao tempo vigente, compreende-se o processo face aos progressos constantes da tecnologia, ao jogo de interesses dimensionado na planície política e à bússola que orienta a economia. Sou completamente paladino do pular e avançar do mundo inscrito na “Pedra Filosofal”, de Manuel Freire. Mas há pequenas coisas (como estas) que não carecem disso.
A leitura, desde muito cedo, sempre me foi instigada e deveras solicitada. Inicialmente, apoderava-se de mim um aborrecimento acrescido de um cansaço fugaz aquando do contacto. E, precisamente na altura em que penso orquestrar o meu futuro, apaixono-me: floresce em mim o prazer e a necessidade de me extrapolar espiritualmente e de distender os horizontes e paisagens culturais.
Contudo, o espetro da inquietação conhece uma posterior dilatação. Excetuando o que se dissertou previamente, outro fator subsiste para que a raiva borbulhe e a cor encarnada preencha o meu rosto: a metamorfose de um livro. Sim, daquele retângulo de dimensão informe quase extinto e dilacerado a cada passo por uma sociedade que pretende bradar mainstream em todas as tocas e buracos. Convém detalhar assim porque agora poucas são as almas que o conhecem, mesmo de vista.
A opinião pode friccionar o solo do irrisório. O cheiro, o toque, a delicadeza e a rispidez do folhear de páginas, a confluência com toda aquela magia palpável, apertando o pequeno quadrilátero junto do peito no fim de cada capítulo ou mesmo no epílogo da trama. Não pensem que se trata de uma hipérbole. Quase como um filho retornado da guerra volvidos anos a fio, porque a mãe vive na ânsia de o envolver junto do seu peito, dissipando-se o medo de o perder. A livro físico recria uma masturbação de caráter mental com múltiplos clímaces.
E, repentinamente, o virtual está ancorado no mundo que nos volteia. A grande maioria da população, ao leme de cliques e bytes, faz o que quer e o que pode. É vantajoso e prático, e considero unânime essa perspetiva. Mas até a leitura? Uma coisinha tão pessoal e tão nossa tornar-se distante e fria? Sim, já experimentei essa nova ferramenta e a opinião não se alterou. Esvai-se o sentimento de pertença e a “preocupação” maternal. Com isto, retomo o mesmo exemplo: uma mãe, um filho e uma relação via Skype, completamente alheia e insensível de parte a parte.
Ai, se soubessem o quão irritadiço estou com esta crónica computadorizada…