Os 10 melhores concertos de 2018 para a Comunidade Cultura e Arte
Mais um ano que chega ao fim. Nesta altura, é inescapável olhar para trás e reflectir acerca dos meses que se passaram, sobre as mais diversas matérias. Na nossa posição de divulgadores da cultura e arte, consideramos indispensável sumarizar aquilo que nos marcou mais ao longo do ano.
Para a nossa classificação de concertos, contabilizámos todos aqueles ocorridos entre as duas últimas semanas de 2017 (dado que não poderiam fazer parte do top do ano transacto) e as duas primeiras semanas deste Dezembro de 2018. Este top resulta de um consenso entre os colaboradores mais activos na parte da música, referindo concertos de artistas variados, ocorridos em diferentes espaços musicais do nosso país.
Este é o top 10 dos melhores concertos de 2018 para a Comunidade Cultura e Arte, sem ordem em específico:
Arcade Fire – Campo Pequeno
Os Arcade Fire são a banda de uma geração. Nem a acústica pobrezinha do Campo Pequeno é suficiente para apagar uma chama daquela dimensão. O concerto 360º, em que a banda entrou e saiu do palco furando a plateia (sem grades de segurança), foi buscar muita força à componente visual, com efeitos dignos de mega-produção. A banda indie cresceu e hoje é ícone. O alinhamento que pudemos ouvir em Lisboa foi incrível – desde 2011 que não ouvíamos tantas canções de Funeral, e até tivemos direito à estreia absoluta em Portugal da “Neighborhood #4 (7 Kettles)”. Um concerto fulgurante e épico, ao jeito dos Arcade Fire – o primeiro em nome próprio neste nosso cantinho à beira mar plantado. – Tiago Mendes
Não há outro concerto em recente memória que tenha tido uma produção de som tão rica e detalhada como este de Cícero. Cada nota e cada palavra chegavam ao ouvido do público límpidas, como se Cícero tocasse e cantasse para cada um de nós. A banda que o acompanhava – os Albatroz – demonstrou uma enorme sincronia, movendo o som por entre os seus diferentes membros, num jogo que adicionava dinamismo às músicas. Por entre a doçura de “Aquele Adeus” e a abrasividade de “O Bobo”, assistimos a diversas facetas da música do artista brasileiro, todas elas vivamente ovacionadas pela audiência embevecida. Foi um daqueles raros concertos sem pontos baixos ou neutros, em que tudo soou simplesmente esplêndido. – Bernardo Crastes
Este ano, uma das bandas que mais contribuiu para inspirar ar nos pulmões de um rock adormecido nos últimos tempos foram os IDLES. O punk de Bristol encontrou a sua casa no Lisboa ao Vivo, perante uma plateia imparável: desde que o ritmo rebentou em “Colossus” até ao final de octanas elevadas de “Rottweiler”, o público não parou de fazer moches e de gritar bem alto as canções que, surpreendentemente, quase todos conheciam. Mas não só de catarse musical se fez o concerto, pois as mensagens deixadas entre músicas pelo vocalista Joe Talbot – de inclusão, não-discriminação, amor, aceitação e justiça – impunham silêncio na audiência e ecoavam pelo espaço. Já fazia falta este punk intervencionista que espalha mensagens tão importantes através do júbilo, possivelmente a forma mais eficaz de resistência. Long live the open minded. – Bernardo Crastes
Jungle – Vodafone Paredes de Coura
Nada intimidados pelos nomes sonantes que pisaram o Palco Vodafone antes e depois de si, os Jungle mostraram estar à altura do desafio e superaram todas as expetativas. A banda de Londres fez toda a encosta do Coura vibrar com os seus ritmos energéticos e animados. Quer se tivesse oito ou oitenta anos, era impossível resistir à energia coletiva que se instalou. Desde um pezinho de dança até movimentos elaborados, o público acompanhou as faixas do álbum homónimo de 2014 e espreitou os novos hinos de For Ever, o disco lançado um mês depois. Quando nada se espera, todas as surpresas são bem-vindas. Estes sete músicos conquistaram a audiência logo com as primeiras notas; passada uma hora, já tinham a sua admiração e promessa de apoio para o resto da carreira. – Sofia Matos Silva
Kelsey Lu – NOS Primavera Sound
Kelsey Lu apareceu no Palco Pitchfork pronta a impressionar, com a sua postura segura e inusitada, envergando um macacão de folhos larguíssimos. O seu discurso de “no fucks given” criava uma antítese interessante com a sua música delicada, tocada a solo pela artista de voz inacreditável. O ambiente era de reverência, com Kelsey a impor um respeito nem sempre conhecido de artistas tão recentes. A chuva molha-parvos que se fazia sentir durante o concerto não molhou ninguém, pois a audiência bem composta que se prostrou em frente ao palco foi tudo menos parva, ao assistir a um dos concertos-revelação do festival, autoria de uma artista que fará ondas em 2019, julgando pelos singles que tem lançado ainda este ano. – Bernardo Crastes
LCD Soundsystem – Coliseu dos Recreios
Depois de alguns anos ausentes, os LCD Soundsystem voltaram aos palcos e aos discos na sua melhor forma. Já o tinham demonstrado num triunfal concerto no Vodafone Paredes de Coura, mas este ano brindaram-nos com três concertos no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Três noites seguidas, três setlists diferentes, sempre com a intemporalidade dos álbuns mais antigos da banda e o soberbo álbum de 2017, American Dream. James Murphy e companhia fecharam sem parcimónias a digressão europeia com estes três concertos, deixando, em cada um, o público extasiado e com a perfeita sensação de estar a assistir a uma das maiores bandas mundiais. Não precisamos, nem queremos precisar, que concerto foi o melhor, mas cada um deles perdurará certamente na memória de quem lá esteve. – Linda Formiga
O Lux Frágil foi o palco escolhido por Nerve para apresentar o seu novo EP Auto-Sabotagem, e o rapper português não desapontou. Tiago Gonçalves fez-se acompanhar de Notwan e tocou o EP na íntegra, presenteando ainda o público com músicas dos seus trabalhos anteriores, como do aclamado “Trabalho e Conhaque” ou “A Vida Não Presta e Ninguém Merece a tua Confiança”. Conclui-se que há qualquer coisa de especial em ver um poeta declamar a sua escrita ao vivo. Podemos observar as emoções que tomem conta dele enquanto cada verso soa bem alto nos nossos tímpanos (uma rima mais venenosa em “Plâncton” ou o desdém pela existência na niilista “Subtítulo”), permitindo-nos um pequeno vislumbre da alma que noutros tempos foi tingida no papel. Ouviu-se música naquela noite, mas a poesia falou mais alto, canalizada pelas rimas meticulosas de Nerve. – Miguel Santos
Nick Cave and the Bad Seeds – NOS Primavera Sound
Falar do NOS Primavera Sound 2018 é falar de Nick Cave. Acompanhado pelos seus Bad Seeds, o músico espalhou tudo menos más sementes. O público presente no Parque da Cidade do Porto não teve mãos a medir: uma para acenar ao ritmo das músicas, outra para segurar no lenço que limpa o nariz – as lágrimas, essas já não havia nada a fazer – e outra para manter o guarda-chuva no sítio; isto porque a chuva ininterrupta não fez qualquer diferença para a maior enchente do festival. Celebrando 25 anos de carreira, Nick Cave deu o concerto de uma vida para muitos dos presentes. Milhares de vozes cantaram em uníssono as músicas, com a voz embargada, o arrepiozinho na espinha e o coração a rebentar. O músico manteve uma interação constante com o público, circulando por um corredor, tocando na mão de alguns sortudos e, até, chegando ao ponto de levar para o palco um coro improvisado com fãs das primeiras filas. Esta é a imagem que ficou gravada na retina de todos os presentes, o fim de uma experiência imersiva única. – Sofia Matos Silva
Slowdive – Vodafone Paredes de Coura
A música desta banda inglesa é uma que rende qualquer um que a ouça. Nem todos os presentes no palco da praia fluvial do Taboão naquela terceira noite de concertos conheceriam os Slowdive. No entanto, os milhares de pessoas ouviram e sentiram como um só. O shoegaze deste quinteto entra pelos ouvidos, mas as notas vibram na alma e no coração. As faixas do disco homónimo (editado no ano passado) foram muito bem recebidas pelo público; as do mítico Souvlaki foram-no ainda mais, ascendendo a um outro nível. Na fila da frente, o ambiente vivido era único. Os riffs atmosféricos, as melodias hipnóticas e a voz arrepiante de Rachel transportaram-nos para outro tempo e outro espaço. A única maneira possível de descrever este regresso de Slowdive a palcos courenses é dizer que o recinto flutuou naquele dia, ondulando perto da mesosfera. – Sofia Matos Silva
Tim Bernardes – Teatro Tivoli, Super Bock em Stock
No dia 25 de novembro, Tim Bernardes subiu ao palco do Teatro Tivoli, com a sala cheia e acompanhado pelo piano. O concerto passou pelo seu repertório a solo, por músicas de outros cantores brasileiros e temas dos Terno. A sua descontração e simplicidade a encarar a plateia não passaram despercebidas: o público, quer estivesse apenas naquele momento a descobrir o cantor, quer fosse conhecedor do seu trabalho, sentiu-se em casa. O versos uniram-se à sua voz com tal naturalidade e encanto, que foi difícil alguém conseguir estar naquela sala desligado do músico e da sua música. Durante aquele tempo, cada um de nós foi parte das canções de Tim porque as viveu de muitas formas diferentes – uns arrepiaram-se, outros despertaram memórias, outros, ainda, deixaram cair uma lágrima. No fim, a reação foi a mesma: as palmas entusiasmadas e os gritos de apoio, num ambiente que não são todos os músicos que conseguem criar. – Marta Vicente