Os 7 princípios da “linguagem de design pessoal” de Virgil Abloh 

por Pedro Fernandes,    26 Dezembro, 2022
Os 7 princípios da “linguagem de design pessoal” de Virgil Abloh 
Fotografia de Myles Kalus Anak Jihem
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Durante anos, a pessoa criativa questiona-se: qual é o meu ADN criativo? Quais são os traços que podem fazer da minha obra única? Virgil Abloh, um grande criativo desta geração, fundador da marca Off-white e cuja morte 2021 causou uma desagradável surpresa para todos que o conheciam, acreditava muito em revisitar o passado, as origens e a infância. Quais eram as suas cores favoritas? O que fazia por puro prazer? Como explicado neste artigo, toda a obra de Virgil é profundamente marcada pela sua infância e os ambientes onde de desenvolveu como pessoa. Em 2017, enquanto dava uma conferência na prestigiada Universidade de Harvard, Virgil apresentou a sua “Linguagem de Design Pessoal“, ou seja, uma lista de princípio que guiaram o valor acrescentado diferencial da sua obra. Esta lista conta com 7 elementos:

1. Readymade – nova ideia baseada em partes reconhecíveis/ emoção humana, ironia: inspirado em Duchamp, pintor, escultor e poeta francês do século XX, responsável pelo conceito de readymade, que representa trazer um elemento da vida cotidiana, a princípio não reconhecido como artístico, para o campo das artes. Duchamp, em vez de as trabalhar artisticamente, simplesmente exibia esses elementos como obras de arte. O grande exemplo de Duchamp é a sua obra “A Fonte”, um urinol comum branco que ele comprou e enviou ao Júri de um concurso de arte nos Estados unidos e que prevaleceu como uma obra artística icónica.

2. “Figuras de Discurso” ou “Citações“: um dos elementos que faz da obra de Virgil reconhecível é a presença de citações. Ele gostava de escrever nas suas obras o que as pessoas pensam, com objetivo de provocar humor e emoção. Por exemplo, numa carteira da Off-white escreveu “para dinheiro” e num tapete da Ikea escreveu “não se aproximar”.

3. Abordagem dos 3%: Abloh apenas procurava modificar um objeto em 3% do seu estado original. Podemos ver por exemplo as sapatilhas da Nike nas quais ele acrescentou apenas alguns pormenores. Isso deixava-o reconhecer o objeto original acrescentando apenas o seu pequeno toque pessoal diferenciador, os tais 3%. E o leitor, qual crê que é o peso verdadeiro da criatividade de uma obra por comparação com todas as inspirações?

4. Um compromisso entre 2 noções semelhantes ou dissimilares: estre princípio fazia-o recordar que lá no fundo, ou estava a comparar duas coisas que fossem ou muito diferentes ou iguais. Como a sua marca Off-white que é um diálogo entre dois mundos que antes estavam completamente separados: a roupa de rua (“streetwear”) e o luxo.

5. Sinais de “Trabalho em processo” – de novo interação humana: como ele explica, perceber que não era preciso ser um perfeccionista, permitiu-lhe trabalhar em mil coisas ao mesmo tempo (e dormir melhor). Devemos confiar que, enquanto artistas, a nossa mão e cérebro vão dizer-nos quando algo está acabado. O processo criativo é algo que está em constante movimento dentro de nós e que ao fim ao cabo, irá parecer-se a algo que já tenhamos visto antes.

6. Um comentário da sociedade – existe uma razão para existir agora: quando criava algo, tinha que ter uma razão para que esse objeto novo existisse. É recomendável dizer não ao que não acrescenta valor. Devemos evitar o consumismo e encher as lixeiras com coisas inúteis. Uma pergunta simples que ele fez: precisamos de mais alguma cadeira no mundo?

7. Falar simultaneamente com o turista e o purista: o turista viaje por lazer enquanto que o purista insiste na adesão absoluta às regras ou estruturas tradicionais. As criações devem ser úteis e tocar esse elo de ligação e conectar pontos extremos. 

É incrível e satisfatório olhar para a obra de Virgil Abloh e reconhecer que todos estes princípios estão lá. É a sua linguagem pessoal de design como ele o apelidou. Este tipo de listas parecem fáceis uma vez feitos, mas é do resultado árduo durante anos de trabalho que nasce esta consciência, esta clareza de ideias, ao ponto de dizer eu acredito e trabalho basado em A, B e C. Tal como o fez Virgil, compete-nos encontrar dentro de nós mesmo quais são esses princípios nos quais acreditamos e que devemos seguir até ao fim para deixar a nossa marca naquilo que trazemos ao mundo.

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