Os livros amarelos que lia Van Gogh

por Pedro Fernandes,    3 Março, 2021
Os livros amarelos que lia Van Gogh
Autorretrato de Vincent Willem van Gogh (1887)
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“Ler livros é como olhar para os quadros: sem duvidar, sem hesitação, com autoconfiança é preciso achar bonito aquilo que é belo” – Van Gogh

Inquieto, curioso, sonhador, Van Gogh lia sobretudo quando estava demasiado escuro para pintar. Apreciador de um estilo mais direto, lia desde narrativas simples, com ação ou sobre o dia-a-dia e humanidade. O Museu Van Gogh divulgou uma lista de livros que o pintor holandês tinha lido e descreve ainda como ele amava a literatura e como esta o acompanhou nas diferentes fases da sua vida. Em geral, o que Vincent lia, estava vinculado com o momento que a sua vida atravessava. Por exemplo, devorou livros relacionados com Paris quando estava a considerar mudar-se para lá. 

Dentro dos escritores que mais se reptem na sua lista, sabemos que Charles Dickens lhe interessava particularmente pela busca da moral nos seus livros. Já o poeta Émile Zola apelava ao seu olho artístico, era um escritor que lhe dava uma visão honesta daquilo que o rodeava na sua vida do campo, isto é, a vida simples, as paisagens e os “personagens” com quem convivia de perto. Outros escritores importantes para ele foram Jules Michelet, do qual se destaca “L’Amour” (1858) que ele tanto gostava e citava para justificar a maneira como decidia viver a sua vida. Outro autor destacado pelo Museu Van Gogh é o francês Alphonse Daudet, que retratava a vida parisiense num estilo naturalista. O mesmo Museu lançou a iniciativa de um clube de leitores durante a pandemia e neste link podemos assistir às sessões gravadas.

Van Gogh não foi um escritor, mas também deixou imensos escritos na forma de cartas ao seu irmão Theo. Textos íntimos que abrem a janela ao interior de um dos pintores mais criativos e influentes que alguma vez vimos. 

Em 1885, pintou o “Ainda vida com Bíblia”, um dos livros que marcou a sua vida. No entanto,  acredito que em 1887 tenha sido um ano de leitura particularmente inspiradas para ele. Vejamos que no mesmo ano pintou “Ainda vida com três livros”, “Pilhas de novelas francesas” em homenagem à literatura francesa, “Ainda vida com estatueta do emplastro, uma rosa e duas novelas”, no qual vemos “Bel-Ami” de Maupassant e “Germinie Lacerteux” dos irmãos Goncourt e o sublime “Os livros amarelos”. Destaque para o amarelo, uma das suas cores favoritas e que ele tanto homenageou com protagonismo em diversas obras. Basta olhar para os magníficos girassóis, campos de trigo e até autorretratos com uma predominância incrível da cor amarela. Essa era também a cor com a qual gostava de pintar as estrelas, um fenómeno do nosso universo que ele tanto costumava contemplar e perder-se em sonhos enquanto estas o iluminavam. Talvez os livros produzissem o mesmo efeito nele… mas isso só Van Gogh saberá e assim deve ser!

Em seguida, deixamos a lista de livros divulgada:

A Christmas Carol (1843) – Charles Dickens
L’amour (1858) – Jules Michelet
L’Oeuvre (1886) – Émile Zola
Tartarin de Tarascon (1887) – Alphonse Daudet
A Bíblia
The Eve of St. Agnes (1820) – John Keats
Scenes of Clerical Life (1857) – George Eliot
The Poetical Works of Henry Wadsworth Longfellow (1887) – Henry Wadsworth Longfellow
What the Moon Saw (1862) – Hans Christian Andersen
The Imitation of Christ (1471-1472) – Thomas a Kempis
Uncle Tom’s Cabin (1851-1852) – Harriet Beecher Stowe
Chérie (1884) – Edmond de Goncourt
Les misérables (1862) – Victor Hugo
Le Père Goriot (1835) – Honoré de Balzac
Bel-Ami (1885) – Guy de Maupassant
Madame Chrysanthème (1888) – Pierre Loti
Candide (1759) – Voltaire
Macbeth (1606-1607) – Shakespeare
King Lear (1606-1607) – Shakespeare
Hard Times (1854) – Charles Dickens
Nana (1880) – Émile Zola
La joie de vivre (1884) – Émile Zola

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